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“DISCÍPULO” DO PE. GABRIELE AMORTH FALA AMPLAMENTE SOBRE EXORCISMOS – POR JAVIER NAVASCUÉS

Paramentos Litúrgicos

Padre Ricardo Ruiz VallejoCom o falecimento do Pe. Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma, foi procurado um de seus "discípulos", o Pe. Ricardo Ruiz Vallejo, exorcista mexicano. Ele é formado aos seus pés e que foi absorvendo através dos anos sua sabedoria e experiência. Um testemunho riquíssimo que compartilha com os internautas, para a glória de Deus e a salvação das almas. É importante estar bem formado, segundo ensina a Tradição da Igreja, e ter as ideias claras em um tema que se presta tanto ao sensacionalismo, à confusão e ao erro.

Como nasceu sua vocação como exorcista?

Desde 1994 viajava periodicamente a Valência para visitar famílias e grupos de oração. Surgiu um caso de possessão e convidei o exorcista de Paris, o Pe. René Chenesseaux, Fundador da Associação Internacional de Exorcistas, a ocupar-se do mesmo. Eu atuava só de intérprete tradutor para os exorcismos e tinha contatos com o Arcebispo de Valência, Mons. Agustín García-Gasco. O Pe. René, já maior, se sentiu cansado de vir de Paris e me propôs de me ocupar ora em adiante dos casos que surgissem. Mons. Agustín García-Gasco, de comum acordo com meus superiores, decidiu enviar-me a Roma a cada 3 ou 6 meses, para receber formação teórica e prática com o exorcista da cidade eterna, o Pe. Gabriele Amorth.

Qual é a principal função de um exorcista?

O exorcista é antes de tudo sacerdote, pastor, portanto sua principal tarefa é levar as almas à conversão, à graça e melhora de vida. Sua ação como exorcista é ajudar às almas atacadas pelo maligno impedindo de melhorar suas vidas, não se converter e não avançar na vida espiritual. O exorcismo é só uma oração a mais que não molesta a ninguém, mas que é específica. Seu fim não é só liberar do demônio mas também aliviar dos ataques e sofrimentos que causa, já que há gente que não é liberada,contudo os exorcismos lhe ajudam muito e dão consolo para seguir o caminho do cristão com sua cruz.

Quando é necessário fazer um exorcismo?

Quando se esgotaram as possibilidades de que seja uma doença física ou psíquica, foram feitos exames e não há origem natural patológica do padecimento. A isso se agregam situações anormais, fenômenos estranhos sem explicação natural, rejeição ao sagrado, impossibilidade de poder rezar e/ou algumas experiências de vida em seitas, magia, espiritismo, cartomancia, satanismo ou curandeirismo. Então está bastante claro que se necessitam orações.

Que nos diz a Igreja sobre o demônio e suas diferentes formas de atuar?

A Doutrina da Igreja é clara. A existência de Lúcifer é um dogma de fé e é inseparável da existência de Deus. Lúcifer aparece na Bíblia do Gênesis ao Apocalipse. A teoria modernista de alguns “teólogos” modernos ou “biblistas” de vanguarda que afirmam que Lúcifer é só um símbolo para representar o mal, está claramente condenada pelo Magistério infalível da Igreja. O Demônio costuma atacar de três maneiras: por infestação, significa sua ação sobre lugares, casas ou objetos, por obsessão, que consiste em atacar a pessoa fisicamente, com doenças reais ou aparentes, sensações, sentimentos, odores, ruídos, pensamentos, imaginações e tudo isto de uma maneira obsessiva, como a obsessão de suicídio, de vícios ou de qualquer má tendência que saia do normal e seja patológico.

A terceira é a possessão diabólica, que consiste em que o espírito maligno toma possessão física da pessoa e controla seu corpo, isto não quer dizer que seja de maneira contínua, nem que a pessoa o saiba, há muitos casos nos que a pessoa afetada não sabia que tinha possessão. É o especialista na matéria quem deve diagnosticar se há possessão ou não. Não é qualquer pessoa que pode discerni-lo, tampouco qualquer um tem a preparação para sabê-lo. Há inclusive alguns exorcistas com pouca experiência e pouca preparação na matéria que se têm equivocado ao fazer este diagnóstico. É importante saber que o demônio possui o corpo, mas nunca a alma, nem pode tocar a vontade da pessoa.

São mais freqüentes as obsessões e infestações que as possessões?

Os casos de possessão, em proporção, são poucos. O Pe. Gabriele Amorth dizia que segundo sua própria experiência de cada 100, só 10 ou 8 eram de possessão. Deus permite os sofrimentos e ataques do demônio em nossas vidas como parte de nossa purificação e aperfeiçoamento da virtude, como o caso de Jó, ou o de Tobias:“Porque foste agradável a Deus, foi necessário provar-te.” Não existe nenhum Santo na história da Igreja que não tenha padecido ataques do demônio por obsessão ou infestação no caminho da santidade. Santa Teresa dizia que “estava tão acostumada a ver demônios que lhe molestavam menos que as moscas.”

Que conseqüências costumam ter (relação com os suicídios por exemplo) e outros males?

Em certas ocasiões algumas pessoas que não crêem na existência de satanás, ao ver que têm pensamentos obsessivos que lhes põem em extrema ansiedade, imaginações obsessivas ou sentir algo em seu corpo que não podem explicar e que sai totalmente do normal, preferem pensar que estão se tornando loucos a aceitar a possibilidade de que existem os demônios e o mundo das trevas. Para esses a opção mais fácil e simples é a solução do suicídio, antes que viver como um “louco”. A ideia do suicídio simplesmente aparece como uma obsessão diabólica. O Pe. Gabriele Amorth nos disse que em várias ocasiões escutou os demônios dizerem durante os exorcismos: “Ah! que bom, quanta gente consegui convencer de suicidar!”

Não se sabe como tratar estes casos, que por suposto causam muitos outros males. Vemos gente totalmente drogada com medicamentos e que não podem ter uma vida normal porque ninguém crê na possibilidade de que a pessoa esteja sendo atacada pelo demônio. Famílias divididas e destruídas por causa de influências demoníacas, como invejas fora do normal, pessoas com obsessão de malícia sempre pensando mal dos que lhes rodeiam, que estão “maquinando contra eles”, que ninguém lhes quer, vêem ódio e más intenções por toda parte de uma maneira obsessiva. Tudo isto destrói a união, as amizades e as boas relações no trabalho.

Conte-nos da Ouija e outras práticas demoníacas e dos perigos que acarretam…

Toda superstição está proibida pela Igreja porque nos faz mal, nos põe em perigo e posteriormente é muito difícil sair disso. A ouija, o espiritismo, as cartas, o curandeirismo e outras magias têm trazido graves problemas e foi preciso realizar exorcismos ou orações em muitos casos. Não é prova de autenticidade o ouvir a voz do avô ou alguma pessoa falecida que nos dá uma “mensagem” por um Médium, já que os demônios têm a capacidade de saber coisas ocultas de nossas vidas e de nossos familiares vivos ou mortos. Têm inclusive a capacidade de saber imitar com perfeição a voz de defuntos e pessoas vivas. Tem havido também casos muito graves de possessão pela superstição aparentemente ingênua, com aparência de bem, de invocar as graças do céu com bailes, aplausos frenéticos, tremedeiras no chão em um suposto “descanso no Senhor”, imposição de mãos por qualquer tipo de pessoas que, sem saber os afetados, eram pessoas que ao mesmo tempo que vão à igreja e à Missa, praticavam Reiki, magia, curandeirismo, cartas e xamanismo.

Que influência tem o demônio na sociedade e na política?

Alguns têm comentado que aí onde se aprova o aborto por lei, ou alguma lei anticristã, há mais demônios presentes, e aos milhares, que em qualquer outro ato do maligno. Evidentemente, uma lei que legaliza e normaliza o mal permite muitos milhares de males para a sociedade. Há testemunhos de ex-bruxos que afirmam que o provocar abortos com toda premeditação e com a grande tecnologia que têm a sua disposição é tido como um ritual obrigatório para iniciar-se no satanismo.

Podia contar algum caso impactante que demonstre que o demônio existe?

Há o caso de um homem na França, que desde os 6 anos foi ensinado por sua avó a fazer magia negra. Não era cristão, chegou a ser um empresário muito rico. Aos 30 anos se converteu ao catolicismo e começou mais tarde a ter como que ardores ou queimaduras em seu estômago. Acreditava-se que era um câncer, mas depois de todo tipo de exames os médicos ficaram surpreendidos de não encontrar nenhuma patologia física e lhe disseram: “Seu caso não é para nós mas para um sacerdote.”  O caso foi confiado ao Padre Mateus de Besançon, um capuchino exorcista que tinha grande fama e vinham vê-lo de muitos países da Europa. Como bom teólogo e homem de prudência, enquanto escutou a história de sua vida lhe disse: “Não tenho nenhuma dúvida que em seu caso se trata claramente de uma possessão.”Um sinal muito claro era que cada vez que lhe davam a absolvição na confissão, a dor e o ardor de seu estômago desapareciam imediatamente.

Foram feitos ao menos 19 exorcismos e não sucedeu absolutamente nada. No exorcismo número 20 o homem entrou em coma, perdeu a consciência e atirado ao chão lhe saíam líquidos por várias partes de seu corpo simultaneamente. Tinha uma força sobre-humana, tiveram de chamar quatro guardas civis, o prefeito e o pároco “que não acreditava nessas tolices”. Os quatro guardas e o prefeito puseram-se sobre o corpo do afetado para tentar subjugá-lo e controlá-lo. Ao primeiro sinal da cruz o homem começou a elevar-se no ar, subir até quase tocar no teto da habitação com todos esses homens em cima, todos voando literalmente e movendo suas pernas que gesticulavam no ar enquanto gritavam ao Padre Mateus: “o que é que está acontecendo aqui!?”  O homem desceu lentamente com todos esses homens em cima até o chão. Terminou o exorcismo e se acreditou que já estava liberado, mas teve que continuar com exorcismos durante vários anos. Se fez uma Missa depois do exorcismo para dar graças. Os guardas, o prefeito e todo mundo se confessou e comungaram por causa do impacto do sucedido. O incrédulo pároco do povoado já não teve dúvidas de que os diabos eram reais…

Aqui se dão vários aspectos para nosso ensinamento. Se o Padre Mateus tivesse sido um exorcista sem experiência, sem teologia nem prudência, como há alguns; não tivesse tido a paciência de perseverar e seguir fazendo 20 exorcismos apesar de não ter passado nada de nada!  Há alguns exorcistas com pobre formação e pouca experiência que afirmam que se fazes um exorcismo e não passa nada isso quer dizer que não há nenhum problema e nem muito menos possessão… um desses exorcismos foi gravado e tornado público pela televisão da Suisse Romande, que se encontra em arquivo disponível com o nome de “Profession Exorciste".

Existem então exorcistas, sem formação e experiência, que não cumprem com sua missão?

Por desgraça,na realidade da Igreja atual e no passado também se podem dar casos assim. Todo sacerdote pelo fato de sê-lo possui o poder de exorcizar, mas não todo sacerdote tem a formação ou a ciência requerida para isso. É também necessário ter o dom, já que muitos sacerdotes têm muito medo ou insegurança para exercer esse ministério. Alguns tentam substituí-lo com temeridade e presumindo que têm muita ‘valentia’, mas isso é muito perigoso já que para enfrentar a satanás se necessita humildade verdadeira e não só “uma permissão” que não supõe necessariamente a preparação e o dom. Há um testemunho único e muito impressionante na história da Igreja de São Gregório Magno, Padre da Igreja: “O único caso de possessão diabólica de um sacerdote que conheci, foi porque era um sacerdote soberbo.”  Por desgraça há alguns bispos que nomeiam exorcistas sem preocupar-se destes aspectos e isso tem tido como resultado graves erros e fieis escandalizados porque fizeram umas práticas de magia supersticiosa com eles e que nada têm a ver com o Ritual Romano para exorcismos. É verdade que o poder o temo sacerdote com permissão do bispo também e que terá sua força, mas se não se vigiam os outros aspectos requeridos ainda que tenha o poder se cometerão graves erros e alguns irreparáveis.

Falemos do modernismo na Igreja e as dificuldades que põem a seu trabalho…

O mesmo Padre Gabriele Amorth teve grandes dificuldades com os bispos e clero que não crê ou lhe custa aceitar ou que o diabo existe ou essas coisas dos exorcismos. Um amigo de uma diocese espanhola,que tem profunda formação na matéria e experiência, teve alguns casos que necessitavam provavelmente de exorcismos. Ele solicitou permissão ao seu bispo que lhe respondeu: “Sabes que não creio nessas tolices, por isso não me peças permissão que não a darei!”

O modernismo, denunciado pelo Papa São Pio X, como uma doutrina que já se infiltrou em muitos âmbitos da Igreja, não deixa possibilidade de defender-se nem atacar ao demônio com os meios que Jesus Cristo nos deixou nos sacramentais, já que o considera uma “realidade do passado” ou um símbolo do mal e não uma pessoa angélica que caiu no abismo voluntariamente.

Por que a Devoção à Santíssima Virgem é um grande remédio contra o demônio?

A Virgem Maria tem um papel importante nos exorcismos. Desde o Gênesis quando se promete a redenção a Adão e Eva se profetiza que Ela esmagará a cabeça de satanás. Isto o podemos ver já que nos exorcismos os demônios nunca podem pronunciar seu nome, sempre que se referem a Ela o fazem com medo e com um “ela”, “essa” o “esta”. Há toda uma lição da missão teológica da Virgem Maria para esmagar a cabeça de satanás que costumo expor, mas isso é um capítulo à parte dada sua extensão em matéria e tempo.

Evidentemente uma alma e uma família que reza sempre o Rosário dado pela Santíssima Virgem a São Domingos, é muito difícil que o demônio lhes possa tocar. Tenho visto casos de ataques diabólicos que se solucionaram sobre tudo pela força da recitação do Rosário. Não existe demônio que possa suportar uma família ou pessoa que tenha sempre esta devoção à Virgem Maria. A prática respeitosa dos dez mandamentos, os sacramentos, especialmente a Santa comunhão, a Missa e a freqüente confissão são a maior proteção contra as forças diabólicas. Quando os demônios querem perder ou possuir uma pessoa o primeiro que fazem é apartá-la dos sacramentos e da oração.

O senhor teve a graça de conhecer o Padre Amorth… Poderia fazer uma brevíssima descrição dele, de suas virtudes, seu exemplo e seu legado como exorcista?

Tive da benção de estar em contato com ele e com seus mais íntimos colaboradores até o momento de me despedir em seu funeral há apenas um mês. Era um homem antes de tudo de profunda oração, muito simples, muito direto e sem diplomacias para dizer a você o que tinha a lhe dizer, muito humano e próximo, mas ao mesmo tempo sempre enfocava tudo desde o ponto de vista sobrenatural. De uma personalidade muito forte e ao mesmo tempo fortemente paternal. Nos sentíamos como se estivéssemos falando com nosso próprio pai.Ainda ressoam suas palavras em meus ouvidos quando o recordo,pois ao ver-me me dizia sempre “Il mio figlio!” Tinha uma grande autoridade moral e isso lhe serviu para enfrentar-se a alguns bispos e superiores que não acreditavam ou desacreditavam de seu trabalho como exorcista. Todas estas qualidades o levaram a saber tocar adiante a Associação Internacional de Exorcistas e não haverá quem o substitua como exorcista e fundador com tais qualidades e virtudes.

O que mais me tem beneficiado dele tem sido sua fortaleza tão grande espiritualmente falando, sua experiência de anos na matéria, mas sobretudo essa segurança absoluta que transmitia e dava, tanto na doutrina como no momento de enfrentar o demônio com tanta serenidade e prumo ao mesmo tempo. Todas estas qualidades vividas durante anos a seu lado me dão muita segurança e principalmente proteção se se é fiel ao que ele te transmitiu.

NOTA: Qualquer pessoa que necessite ajuda e queira consultar algo com o sacerdote pode fazê-lo através de seu correio: [email protected]. Terá prazer em atendê-los.

 

Por Javier Navascués –  Tradução Frei Zaqueu.

 

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