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O PENSAMENTO DE BOFF SOBRE LUTERO, E A PRÁXIS DE FRANCISCO – POR HERMES RODRIGUES NERY

Paramentos Litúrgicos

Boff e FranciscoSe o capítulo XI, da Segunda Parte do livro “E a Igreja se fez Povo” (1986), intitulado “São Francisco, patrono da opção pelos pobres”, de Leonardo Boff, é bastante problemático.

O mesmo apresenta, trinta anos atrás, todo o programa que Jorge Mario Bergoglio coloca hoje em execução, avidamente, o capítulo seguinte (“A significação de Lutero para a libertação dos oprimidos”), é mais terrível ainda.

Nele, antecipa-se o que Francisco hoje cumpre à risca, na prática. E o ecumenismo solenemente celebrado em Lund, na Suécia, tende a esquecer tudo o que Lutero fez de danoso à Igreja. Para Boff, Lutero “apresenta-se como uma das maiores testemunhas do espírito evangélico”. Boff acredita piamente nisso, não se conforma com o que para ele é uma injustiça, a Igreja não ter compreendido Lutero, assim até hoje nunca se conformou de ter sido “injustiçado” pelo alemão Joseph Ratzinger. Boff nunca o perdoou por isso, nem dom Paulo Evaristo Arns, que esteve junto de Boff acompanhando-o quando foi a Roma para ser repreendido e depois punido por Ratzinger. Boff nunca perdoou Ratzinger (hoje recolhido no Matter Eclesia), enquanto Arns comemorou recentemente seus longevos 95 anos, com um boné do MST na cabeça. Tanto Boff, quanto Arns, satisfeitos por verem os movimentos populares (de esquerda) sendo recebidos amigavelmente por Francisco, no Vaticano. Tudo fez parte de um plano bem urdido, meticuloso, de se chegar ao Vaticano, e ocupar os altos postos eclesiásticos, para que o programa apresentado por Boff, em 1986, naquele seu famoso e controverso livro, pudesse ser executado.

Para Boff, a inspiração de Lutero (a quem ele sempre admirou e até se identifica, algumas vezes), “em termos religiosos, mostrava-se ‘fé viva’ em contraposição ‘a “fé morta’ do Catolicismo, religião de tradições e exterioridades”. É assim que o pensamento de Boff se torna hoje, em certos aspectos, a ação de Francisco. Boff mesmo reconhece naquele capítulo, “o papel subversivo” do protestantismo, papel esse fomentado por muitos anos pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que hoje se favorece com o ecumenismo de Francisco, quando a Cártias e a Federação Luterana Mundial se juntam para projetos sociais, com financiamenteo da Fundação Ford.

Boff defendia, naquela época, “uma encarnação da Igreja e do Protestantismo no mundo dos pobres, para ajudar em uma transformação profunda e global, uma verdadeira “libertação dos oprimidos”. E ainda destaca:

“Rubem Alves distingue a função ideológica que o protestantismo ocupou diante do liberalismo e sua permanente função utópica como memória da forças libertadora do Evangelho. Nessa perspectiva, ‘católicos e protestantes estão se descobrindo como um só corpo, em função de uma esperança da América Latina nova’”.

E completa:

“Na verdade, existe uma frente libertadora prostestante de grande significação no processo global da prática libertadora e da reflexão que se constrói a partir dessa prática. Cabe agora perguntar em que medida Lutero pode colaborar nessa missão”.

E explica que:

“A Reforma do século XVI teve o duplo caráter de revolução social e revolução religiosa. As classes populares não se sublevaram só contra a corrupção do dogma e os abusos do clero. Também se levantaram contra a miséria e a injustiça. (…) Ante o campo específico (religioso) dentro do qual se movia, Lutero efetuou um grandioso processo libertador. Será ele para sempre uma referência obrigatória para todos os que buscam a liberdade e sabem lutar e sofrer por ela”. Por isso Lutero insurgiu-se tanto contra o que ele chamava de “tirania do papa”, rebelde que era (que “se sublevou, em nome do Evangelho, contra a prepotência do poder sacro”; e por isso Francisco recusou as insígnias papais, quando eleito, apresentou no balcão da Basílica de São Pedro, curvando-se para o povo, e dize ndo: “começamos hoje um novo caminho”. 

É de 1975 o primeiro artigo de Leonardo Boff escrito como precursor do que será, mais tarde, o programa de Francisco: "A não-modernidade de São Francisco. A atualidade do modo de ser de São Francisco face ao problema ecológico". O pensamento e a práxis de Francisco ecoam as palavras de Boff:

“Para nós, que vivemos na América Latina, o Evangelho necessita ser vivido de forma libertadora, a fé como produtora de um compromisso com os mais necessitados a partir da experiência da misericórdia primeira de Deus e da renovação espiritual como uma mística que uma fé e política e construa a comunidade a partir de baixo, dos mais humildes”.

O fato é que Boff acredita piamente nisso. E Francisco, a seu modo, também. Ambos estão convencidos disso. Enquanto o primeiro é ideólogo, o segundo é executor, alçado ao mais alto posto da Igreja, para cumprir esse programa libertador. E com esse ímpeto, exortou os jovens na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, com o apelo: “Sejam revolucionários!”

(Artigo escrito por Hermes Rodrigues Nery)

 

 

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