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Papa Bento XVI: doutrina social da Igreja, questão de amor.

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CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 8 de novembro de 2010. Somente a partir da "caridade na verdade" a Igreja poderá iluminar as questões sociais, segundo afirma o Papa Bento XVI em sua Mensagem à Assembleia Plenária do Conselho Pontifício Justiça e Paz, que foi divulgada na última quinta-feira.

Na mensagem, o Pontífice analisa a afirmação que já fez em sua encíclica Caritas in Veritate, sobre a concepção da doutrina social da Igreja como caritas in veritate in re sociali.

Dirigindo-se ao cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, atual presidente do dicastério, afirma por que ambas – caridade e verdade – são elementos fundamentais da doutrina social da Igreja.

Graças a Jesus Cristo, explica, "pode-se caminhar na via do crescimento humano integral com o ardor da caridade e a sabedoria da verdade, em um mundo no qual frequentemente a mentira açoita o homem e a sociedade".

"É vivendo a ‘caridade na verdade' que poderemos oferecer um olhar mais profundo para compreender as grandes questões sociais e indicar algumas perspectivas essenciais para sua solução no sentido plenamente humano."

"Somente com a caridade sustentada pela esperança e iluminada pela luz da fé e da razão, é possível alcançar os objetivos de libertação integral do homem e de justiça universal", insiste o Papa.

"Caritas in veritate in re sociali: assim me pareceu oportuno descrever a doutrina social da Igreja, segundo seu enraizamento mais autêntico – Jesus Cristo, a vida trinitária que Ele nos dá – e segundo toda a força capaz de transfigurar a realidade", acrescenta.

O compromisso de construção da cidade terrena, segundo o Papa, "se apoia nas consciências guiadas pelo amor a Deus e, por isso, naturalmente orientadas ao objetivo de uma vida boa, estruturada sobre a primazia da transcendência".

"Temos necessidade desse ensinamento social, para ajudar nossas civilizações e nossa própria razão humana a captar toda a complexidade da realidade e da grandeza da dignidade de toda pessoa."

Bento XVI recorda ao dicastério que sua tarefa consiste "não só na elaboração de novas atualizações da doutrina social da Igreja, mas também da sua experimentação".

Esta deve seguir, afirma, "esse método de discernimento que indiquei na Caritas in veritate, segundo a qual, vivendo na comunhão com Jesus Cristo e entre nós, somos ‘encontrados', seja pela Verdade da salvação, seja pela verdade de um mundo que não foi criado por nós, mas que nos foi dado como casa para partilhar na fraternidade".

50 anos da Mater et Magistra

Esta concepção inovadora da doutrina social, na verdade, segue os passos do magistério dos papas anteriores e se situa na mesma linha que a encíclica Mater et Magistra, de João XXIII, cujo 50º aniversário será comemorado em breve.

A encíclica do "Papa Bom" já convidava a "considerar, com constante atenção, os desequilíbrios sociais, setoriais, nacionais, entre recursos e populações pobres, entre técnica e ética".

Meio século depois, no atual contexto de globalização, "estes desequilíbrios não desapareceram", adverte o Papa.

"Mudaram os sujeitos, as dimensões das problemáticas, mas a coordenação entre os Estados – em geral inadequada, porque está orientada à busca de um equilíbrio de poder, mais que à solidariedade – abre espaço para renovadas desigualdades."

Isso provoca o "perigo do predomínio de grupos econômicos e financeiros que ditam – e pretendem fazê-lo continuamente – a agenda da política, desprezando o bem comum universal", afirma.

Além disso, Mater et Magistra concedia um importante papel aos leigos, nas questões relacionadas à doutrina social.

Esta encíclica, recorda o Papa, "propunha uma verdadeira e própria mobilização, segundo a caridade e a verdade, por parte de todas as associações, movimentos, organizações católicas e de inspiração cristã, para que todos os fiéis, com compromisso, liberdade e responsabilidade, estudassem, difundissem e levassem a cabo a doutrina social da Igreja".

Não só leigos

A Caritas in veritate, em linha com esta intuição, afirma, no entanto, também, a importância de que estes leigos encontrem ao seu lado "sacerdotes e bispos capazes de oferecer uma incansável obra de purificação das consciências".

Outra das necessidades dos leigos é encontrar em seus pastores "um apoio indispensável e ajuda espiritual para o testemunho coerente no âmbito social".

Por isso, afirma o Papa, "é de fundamental importância uma compreensão profunda da doutrina social da Igreja, em harmonia com todo o seu patrimônio teológico e fortemente arraigada na afirmação da dignidade transcendente do homem, na defesa da vida humana desde sua concepção até sua morte natural, e da liberdade religiosa".

"É necessário preparar fiéis leigos capazes de dedicar-se ao bem comum, especialmente nos âmbitos mais complexos, como o mundo da política", afirma.

Mas é urgente ter presente também que, sem sair do seu papel, "saibam contribuir para o incentivo e a irradiação, na sociedade e nas instituições, de uma vida boa segundo o Evangelho, no respeito pela liberdade responsável dos fiéis".

"A doutrina social da Igreja representa, assim, a referência essencial para o projeto e a ação social dos fiéis leigos, além de para uma espiritualidade viva, que se nutra e se enquadre na comunhão eclesial: comunhão de amor e de verdade, comunhão na missão", conclui.(Zenit)

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