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SOBRE FRANCISCO E O MEU “VIVA O PAPA” – POR PADRE MARCELO TENÓRIO

Paramentos Litúrgicos
Pe. Marcelo Tenorio 

Muitos  me perguntaram sobre  o meu pensamento  diante da inesperada eleição do Papa Francisco. Por isso achei necessário colocar, aqui, as minhas impressões.

Bento XVI, o conhecia bem: seu estilo, seu pensamento teológico no Concílio Vaticano II e depois dele, sua eclesiologia e sua forma de agir diante das situações. Tinha meus 20 anos, quando recebi, de um irmão meu, o livro do cardeal Ratzinger,  “ A Fé em Crise?”; livro polêmico que, naquela época de teologia da libertação na América Latina, foi duramente rechaçado pelos bispos, teólogos e leigos. Aliás, contam que nenhuma livraria católica, no Brasil, quis editar o livro, e isso, incluiria, também as Edições Paulinas. A obra do Cardeal Ratzinger foi acolhida por uma editora leiga.

O  Magistério de Bento XVI foi um magistério claro, preciso, tendo como fundamento a Verdade sobre Deus, sobre a Igreja e sobre o Homem. Preocupou-se profundamente com a questão da Sagrada Liturgia, por entender que a Fé que se crer é a mesma que se celebra. Condenou severamente o relativismo que se impõe como dogma, tanto no campo social, como no teológico.

Busquei viver esses dois dias  com intensidade na oração e na união à Catedra de Pedro.

O fato é que o resultado do Conclave foi uma enorme surpresa para todos. Quando o cardeal francês anunciou o novo papa, fiquei sem entender muita coisa: não conhecia o cardeal eleito, e o nome adotado por ele me parecia inusitado.

Não posso negar minha surpresa ao vê-lo surgir no balcão da Basílica: Lembrei-me de alguém conhecido: um Pio XII, mais gordo; e que alguém depois dizia-me ser ele mais parecido com Pio XI.

Também não posso negar que fiquei confuso diante de seus primeiros gestos, desde as vestes, como também o uso da Estola Petrina ( que indica a autoridade do Vigário de Cristo), como uma simples estola para bênção, concluindo com sua inclinação diante do povo, além de se colocar, várias, vezes, apenas como “o bispo de Roma”.

Não deixa dúvidas que é um papa diferente, a começar pelo nome, e com posturas também  diferentes. Após sua eleição, ainda na Sistina, recusou sentar-se no Trono para receber a “obediência” dos cardeais , mas preferiu de pé, abraçar a cada um. Depois de tudo não quis ir à Casa Santa Marta no carro oficial, mas no ônibus, com os cardeais. Hoje, segundo dia de seu pontificado, foi até  Santa Maria Maior, em carro comum, visto que também, mais uma vez, dispensou seu carro oficial…

Em sua primeira missa,  na Capela Sistina, notamos o retorno de um pequeno altar voltado para o povo, abolido por Bento XVI, que celebrava no altar mor da capela, voltado para o crucifixo. O Santo Padre não fez a homilia sentado no Sólio, como é comum ao Papa, como Mestre Supremo, mas do lado direito da capela, no ambão. E, depois de concluída sua palavra, atravessou a igreja, enquanto todos permaneceram sentados diante do Papa que passava…

Algumas atitudes de Jorge Bergoglio, quando cardeal, e conhecidas agora, assustaram a muitos, como quando do encontro ecumênico, onde estavam presentes protestantes, católicos e até o Fr. Raniero Cantalamessa, no qual o cardeal pediu oração aos protestantes, e ajoelhado diante deles, recebeu a imposição de mãos, como nos fala a matéria da época.

“O momento mais emocionante foi a recepção dada ao cardeal Jorge Bergoglio, que liderou uma breve saudação e perguntou, como de costume, se poderiam orar por ele. Os pastores o levaram a sério, e o cardeal se ajoelhou e pediu a todos os presentes que orassem para que ‘uma das vozes proféticas da Nação’ tivesse abundância de sabedoria”. ( La Nacion, 2006).

É verdade que o nome de S. Francisco  sempre esteve ligado às correntes de teologias liberais, relativistas , panteônicas e humanistas. Isso deve-se a uma má interpretação do “Poverello di Assisi, que longe de ter sido um homem romântico e ecumênico, foi um destemido defensor do evangelho de Cristo e da sua Igreja.

S. Francisco era uma pessoa de extrema humildade e, sendo a humildade uma grandiosa virtude e condição primeira para se chegar a Deus, é algo que todos nós devemos desejar. Esta humildade é bem mais interior e expressa-se, claro, nas formas exteriores dos gestos humanos.

Muito já se fala da humildade do  nosso novo Papa e esta deve ser imitada por todos nós, seus súditos. O que não se pode é começar agora as comparações como se o ato de se fazer uso do temporal por um papa, fosse ,em si, um grande erro  contra a santa humildade. Humildade é  antes um ato interior. Do alto de seu apogeu Inocêncio III foi extremamente humilde ao ajoelhar-se diante de Francisco, o de Assis..Pio XII, em seu glorioso reinado, foi o papa do povo. Quem não se lembra dele de braços abertos como que abraçando o mundo inteiro? E Bento XVI, que em gestos e atitudes tornou-se, para nós, o Magno na humildade?..

O que esperamos de Francisco, o papa? Que ele seja o que Nosso Senhor o chamou a ser: Pedro! Rocha! Fundamento de Fé e de Verdade. Todo o resto é acidental. A forma de ser não faz um Papa, mas a Verdade da Fé que ele acredita, vive e defende.

Em sua primeira aparição pública, o Santo Padre pediu que rezássemos por ele.

Respondamos ao Santo Padre com as nossas orações filiais. Que o amemos como aquele que “vem em nome do Senhor,” a fim de ser ele  sempre a Rocha imperecível  que nos confirma  na Fé imutável da Igreja de todos os séculos.

Não sabemos como será seu Pontificado. O que sabemos é que Deus mesmo o constituiu nosso Pastor Universal e o nosso coração deve estar unido ao Papa. Esperemos, na oração e não o deixemos sozinhos.

Ter devoção ao Papa é um dever de todos nós, mas também do próprio Papa que deve ser o primeiro a ter devoção por aquilo que Deus o tornou: Papa, Rocha, Príncipe entre os príncipes.

O papa é inequivocamente Pedro no meio de nós, o “ Doce Cristo  na terra, como bem definia Santa Catarina de Sena.

Não foi fácil o início de Pontificado de Pio IX. Ele favoreceu sobremaneira  aos liberais a tal ponto de ratificar uma Constituição Liberal para os Estados da Igreja, colocando à frente um primeiro ministro também liberal. Anistiou os terroristas e carbonários e as consequências foram terríveis para os Estados Pontifícios de maneira que Roma se tornou um refúgio dos revolucionários e anarquistas de todas as formas. A maçonaria satisfeita com a ação do Papa, levava o povo a sair na rua gritando: “ Viva Pio IX! Viva Pio IX”! Em Turim, Dom Bosco proibiu seus meninos de gritarem “ Viva Pio IX”,e ao invés , ensinou-os a gritar “ Viva o Papa”. Assim não comungava de nenhuma tendência ou ideologia da época.

Sabemos que houve uma grande mudança em Pio IX, tanto que se tornou um dos maiores papas da Igreja. Foi ele o papa das proclamações dogmáticas da Imaculada Conceição e Infalibilidade Papal e do incomparável Syllabus.

Como D. Bosco, devemos sempre gritar “Viva o Papa” independente de quem seja: santo ou pecador, nobre ou plebeu.

Não importa seu nome, de onde vem nem como se expressa. O que importa é que seja  Pedro. A ele devemos nossa devoção filial e adesão a tudo o quanto ensina como Pastor Universal da Igreja enquanto se faz o eco das tradições apostólicas.

No momento em que esperávamos o resultado do conclave, uma imagem correu o mundo: um peregrino, vestido de sacos, rezando na chuva e no frio, inclinado diante da Basílica…Era um franciscano e de Assis.

Deus está a nos dizer algo.

De uma renúncia misteriosa de um Bento à ascensão  também misteriosa de um Francisco.

Tempos que chegam de gaudio ou de pesar?…

Os teólogos da libertação e escravidão das consciências, os boffes heréticos e baderneiros,os liberais, modernistas e positivitas  apressadamente já se juntam para gritar ” Viva Francisco!”

Contra eles e pela Igreja gritamos também nós, junto de Dom Bosco:

VIVA O PAPA!

 
Padre Tenório – Site Montfort 

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