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“THE WALL STREET JOURNAL”: Papa Francisco recua em reforma financeira do Vaticano

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Matéria publicada pelo The Wall Street Journal nesta segunda-feira (12) conta que no fim do ano passado, o cardeal George Pell, diretor financeiro do papa, contratou a PricewaterhouseCoopers para fazer uma auditoria global nas finanças do Vaticano. Com ordens do papa Francisco para esclarecer as contas confusas da cidade-estado, o cardeal, munido de novos poderes, vinha avaliando e aprimorando o sistema e encontrou um total de 1,4 bilhão de euros excluídos da contabilidade. O cardeal Pell queria que a PwC verificasse se os 136 departamentos do Vaticano estavam seguindo as orientações de disciplina orçamentária. Era uma tarefa hercúlea.

Segundo a reportagem outras autoridades, lideradas pelo cardeal Pietro Parolin, o secretário de Estado, visto como primeiro-ministro do Papa, deixaram claro que a auditoria não decolaria. Em junho, o Vaticano anunciou seu cancelamento. Em seguida, muitos dos amplos poderes outorgados ao cardeal Pell foram passados a outros. Foi um revés para a reforma financeira, parte crucial de uma reformulação mais ampla da burocracia da sede da Igreja Católica, a Cúria Romana, e considerada pelo papa Francisco uma peça central de seu pontificado. Era também um sinal de que os antigos interesses do Vaticano ganharam o apoio do papa apenas três anos após a histórica eleição que elevou ao cargo um líder da igreja fora da elite governante. O cardeal Pell usou um vago mandato papal para alcançar amplos poderes. E não planeja recuar. “Minha missão é continuar pressionando”, disse Pell, de 75 anos, em entrevista ao The Wall Street Journal em junho. “A meta é que o Vaticano seja reconhecido dentro e fora da igreja, no mundo todo, como um lugar que lida com suas finanças de forma adequada e apropriada.”

O Journal diz que a contabilidade do Vaticano nunca seguiu políticas unificadas. Os relatórios anuais não são divulgados, os departamentos usam diferentes princípios contábeis, os dados são inconsistentes e não comparáveis. Antes da nomeação de Pell, um painel de cardeais encarregado da supervisão econômica se reunia só duas vezes no ano. Não havia orçamentos nem detalheas de despesas. Quando cardeais elegeram o papa Francisco, em março de 2013, deram a ele a missão de renovar a Cúria. A renúncia do antecessor, o papa Bento XVI, havia ocorrido sob alegações no Vaticano relativas a nepotismo, ineficiência e corrupção. O papa agiu rápido. No início de 2014, criou uma nova Secretaria de Economia e nomeou Pell para dirigi-la. Em um documento, o papa dizia que o cardeal tinha autoridade sobre “estruturas administrativas e financeiras” e “tudo que de alguma forma” envolva atividade econômica. Ele seria subordinado do papa. Pell, que estudou em Oxford, é “um australiano realista, prático e franco”, disse o cardeal Timothy Dolan, de Nova York, a uma TV americana após a nomeação. Rapidamente, o cardeal Pell passou a impor sua marca. Numa coletiva com a imprensa em julho de 2014, ele se apresentou como o chefe das finanças, no nível do secretário de Estado.

O texto do WSJ explica que o “Vaticano” se refere tanto à Santa Sé, que inclui a administração central da Igreja Católica no mundo, quanto às instituições relacionadas que servem o papa e a Cidade do Vaticano, território soberano de propriedade da igreja na Itália. As receitas vêm em grande parte das vendas nos museus do Vaticano, seu portfólio de imóveis, uma carteira de investimentos e lojas que vendem produtos valiosos livres de impostos, como gasolina, para funcionários do Vaticano. Dioceses do mundo todo também enviam recursos para o Vaticano. E o Banco do Vaticano, órgão independente que fornece serviços financeiros para a Igreja Católica no mundo, também gera recursos. Em 2014, foram 50 milhões de euros. Mas há tempos a Santa Sé acumula déficits: 26 milhões de euros em 2014, segundo o Vaticano, e estimados 35 milhões de euros ou mais no ano passado, de acordo com Pell. As iniciativas recentes para ampliar a receita — os museus elevaram o fluxo de visitantes em 20% nos últimos três anos — não bastaram. Cortar custos, como enxugar a folha de pagamento, é difícil devido à tradicional resistência italiana a demissões e a preocupação do papa com o desemprego.

De acordo com o jornal norte-americano o cardeal contratou consultores de empresas como a McKinsey & Co. para fazer uma revisão dos ativos. Esse exercício trouxe à tona 1,4 bilhão de euros que “não estavam no balanço”, disse o cardeal. Ele atribuiu as discrepâncias à contabilidade e políticas inconsistentes. “Não estou dizendo que estava sendo mal administrado […]. Só estava lá para uma emergência”, disse. O escritório do cardeal criou políticas orçamentárias e contábeis exigindo que todas as entidades do Vaticano tivessem seus orçamentos aprovados pelo escritório e justificassem qualquer desvio, sujeitos a penalidades para estouros. O escritório consolidou o orçamento para 2015, algo inédito no Vaticano. Pell também detectou uma nova fonte rica em receita que poderia ajudar a cobrir o déficit. A Administração do Patrimônio da Santa Sé, a APSA, gerenciava a maior parte do portfólio imobiliário do Vaticano, no valor de pelo menos 1 bilhão de euros, incluindo milhares de espaços comerciais e apartamentos em Roma.

The Wall Street Journal afirma que o papa deu a Pell o controle das propriedades gerenciadas pela APSA em julho de 2014, além de responsabilidades administrativas sobre aquisições, pagamento de contas e folha de pagamento. A APSA também controlava grande parte da carteira financeira do Vaticano, poder que manteve. Pell começou a explorar formas de reorganizar as aplicações financeiras do Vaticano. Ele considerou terceirizar a gestão dos investimentos em uma nova entidade sediada em Luxemburgo. As medidas no setor imobiliário e os planos para os investimentos geraram grande polêmica na APSA e em outros escritórios. O presidente da APSA, o cardeal Domenico Calcagno, desenvolveu uma forte relação com o papa Francisco, que com o tempo tornou-se mais ligado a membros antigos no Vaticano. Calcagno não quis comentar sobre as declarações de Pell, dizendo só que elas o deixaram “desconcertado”.

O WSJ relata que a Secretaria de Estado também controlava grandes investimentos, e os poderes do cardeal Parolin sobre contratações e gastos estavam ameaçados. O papa passou a tirar os poderes de Pell. Em várias ações, há cerca de 18 meses, o papa tirou do cardeal Pell o controle sobre a carteira de imóveis da APSA. O papa se recusou a aprovar suas recomendações para reorganizar a gestão da carteira financeira. Numa carta tornada pública, ele deixou claro que contratações e transferências de pessoal só seriam feitas com a aprovação do gabinete de Parolin. A auditoria foi desmantelada e, em julho, ele tirou de Pell a maior parte da gestão administrativa — folha de pagamentos, aquisições e pagamento de contas —, devolvendo-o à APSA.

O estilo do cardeal Pell é considerado por alguns membros da Cúria como arrogante e agressivo, dizem algumas pessoas.

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