Em entrevista exclusiva ao\u00a0LifeSiteNews<\/em>\u00a0sobre uma iniciativa apoiada pelo Vaticano para promover o \u201cDocumento sobre Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos\u201d, o \u00a0Bispo-auxiliar de Astana, no Cazaquist\u00e3o, disse que \u201cpor mais nobres que possam ser os objetivos de \u2018fraternidade humana\u2019 e \u2018paz mundial\u2019, elas n\u00e3o podem ser promovidas \u00e0 custa de relativizar a verdade da unicidade de Jesus Cristo e Sua Igreja\u201d.<\/p>\n

A divulga\u00e7\u00e3o desse documento nesta forma incorreta \u201cparalisar\u00e1 a miss\u00e3o\u00a0ad gentes<\/em>\u00a0da Igreja\u201d e \u201csufocar\u00e1 seu zelo ardente de evangelizar todos os homens\u201d, disse Dom Schneider. E acrescentou: \u201cAs tentativas de paz est\u00e3o fadadas ao fracasso se n\u00e3o forem propostas em nome de Jesus Cristo\u201d.<\/p>\n

Um \u201cComit\u00ea Superior\u201d<\/strong><\/p>\n

Na semana passada, o Vaticano anunciou que havia sido estabelecido nos Emirados \u00c1rabes Unidos um \u201cComit\u00ea Superior\u201d de v\u00e1rias religi\u00f5es para implementar o \u201cDocumento sobre Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos\u201d, assinado pelo Papa Francisco em 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, juntamente com Ahmad el-Tayeb, gr\u00e3o-im\u00e3 al-Azhar, durante uma visita apost\u00f3lica de tr\u00eas dias \u00e0 Pen\u00ednsula Ar\u00e1bica.<\/p>\n

Os membros da comiss\u00e3o de sete membros (cat\u00f3licos e mu\u00e7ulmanos) incluem o secret\u00e1rio pessoal do Papa Francisco, Pe. Yoannis Lahzi Gaid, e o presidente do Conselho Pontif\u00edcio para o Di\u00e1logo Interreligioso, arcebispo Miguel Angel Ayuso Giuxot.<\/p>\n

Em comunicado divulgado na segunda-feira, 26 de agosto, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, disse que o Papa Francisco \u201cencoraja os esfor\u00e7os do Comit\u00ea para difundir o conhecimento do Documento; agradece aos Emirados \u00c1rabes Unidos pelo compromisso concreto demonstrado em nome da fraternidade humana e expressa a esperan\u00e7a de que iniciativas semelhantes possam surgir em todo o mundo\u201d.<\/p>\n

Documento controvertido<\/strong><\/p>\n

O documento de Abu Dhabi gerou pol\u00eamica ao afirmar que \u201co pluralismo e a diversidade\u201d de religi\u00f5es s\u00e3o \u201cdesejados por Deus\u201d.<\/p>\n

A passagem que suscita controv\u00e9rsia diz:<\/p>\n

\u201cA liberdade \u00e9 um direito de toda pessoa: todo indiv\u00edduo desfruta da liberdade de cren\u00e7a, pensamento, express\u00e3o e a\u00e7\u00e3o. O pluralismo e a diversidade de religi\u00f5es, cor, sexo, ra\u00e7a e linguagem s\u00e3o desejados por Deus em Sua sabedoria, atrav\u00e9s da qual Ele criou seres humanos. Essa sabedoria divina \u00e9 a fonte da qual deriva o direito \u00e0 liberdade de cren\u00e7a e a liberdade de ser diferente. Portanto, o fato de as pessoas serem for\u00e7adas a aderir a uma determinada religi\u00e3o ou cultura deve ser rejeitado, assim como a imposi\u00e7\u00e3o de um modo de vida cultural que outras pessoas n\u00e3o aceitam.\u201d<\/p>\n

Em 1\u00ba de mar\u00e7o de 2019, durante uma visita\u00a0ad limina<\/em>\u00a0dos bispos da \u00c1sia Central a Roma, Dom Schneider, cuja diocese est\u00e1 localizada em uma na\u00e7\u00e3o predominantemente mu\u00e7ulmana, expressou preocupa\u00e7\u00e3o com essa formula\u00e7\u00e3o ao Papa Francisco. O Papa disse que a frase em quest\u00e3o sobre a \u201cdiversidade de religi\u00f5es\u201d significava \u201ca vontade permissiva de Deus\u201d, e deu permiss\u00e3o expl\u00edcita a Dom Schneider e aos outros bispos presentes para citar suas palavras.<\/p>\n

Dom Schneider, por sua vez, pediu ao Papa que esclarecesse a declara\u00e7\u00e3o de maneira oficial.<\/p>\n

O Papa Francisco apareceu para oferecer um esclarecimento informal em sua audi\u00eancia geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, mas nenhum esclarecimento ou corre\u00e7\u00e3o oficial ao texto foi dado at\u00e9 o momento.<\/p>\n

Nesta entrevista exclusiva, Dom Schneider revela novos detalhes sobre sua interlocu\u00e7\u00e3o direta com o Santo Padre na reuni\u00e3o de 1\u00ba de mar\u00e7o. Ele tamb\u00e9m discute suas opini\u00f5es sobre o esclarecimento informal do Papa na audi\u00eancia geral de 3 de abril e a gravidade do estabelecimento de um \u201cComit\u00ea Superior\u201d para implementar o documento de Abu Dhabi na aus\u00eancia de uma corre\u00e7\u00e3o oficial da passagem controversa.<\/p>\n

Segundo Dom Schneider, ao impulsionar o documento de Abu Dhabi sem corrigir sua afirma\u00e7\u00e3o err\u00f4nea sobre a diversidade das religi\u00f5es, \u201cos homens da Igreja n\u00e3o apenas traem Jesus Cristo como o \u00fanico Salvador da humanidade e a necessidade de Sua Igreja para a salva\u00e7\u00e3o eterna, mas tamb\u00e9m cometem uma grande injusti\u00e7a e pecam contra o amor ao pr\u00f3ximo\u201d.<\/p>\n

Aqui est\u00e1 nossa entrevista completa com o bispo Athanasius Schneider.<\/em><\/p>\n

Excel\u00eancia, o esclarecimento do Papa Francisco sobre o documento de Abu Dhabi na audi\u00eancia geral de na quarta-feira, 3 de abril de 2019, foi suficiente na sua opini\u00e3o? E quais s\u00e3o seus pensamentos sobre os coment\u00e1rios dele?<\/em><\/strong><\/p>\n

\u2013 Na audi\u00eancia geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, o Papa Francisco falou estas palavras: \u201cPor que Deus permite muitas religi\u00f5es? Deus queria permitir isso: os te\u00f3logos escol\u00e1sticos costumavam se referir \u00e0s\u00a0voluntas permissiva<\/em>\u00a0[vontade permissiva] de Deus. Ele queria permitir esta realidade: existem muitas religi\u00f5es.\u201d<\/p>\n

Infelizmente, o Papa n\u00e3o fez nenhuma refer\u00eancia \u00e0 frase objetivamente err\u00f4nea do documento de Abu Dhabi, que diz: \u201cO pluralismo e a diversidade de religi\u00f5es, cor, sexo, ra\u00e7a e linguagem s\u00e3o desejados por Deus em sua sabedoria.\u201d Essa frase \u00e9 err\u00f4nea e contradiz a Revela\u00e7\u00e3o Divina, j\u00e1 que Deus nos revelou que Ele n\u00e3o deseja diversas religi\u00f5es, mas apenas a religi\u00e3o ordenada por Ele no Primeiro Mandamento do Dec\u00e1logo: \u201cEu sou o Senhor, teu Deus, que te trouxe para fora da terra do Egito, da casa da escravid\u00e3o. N\u00e3o ter\u00e1s outros deuses diante de mim. N\u00e3o deves fazer para ti uma imagem esculpida, ou qualquer semelhan\u00e7a de qualquer coisa que esteja acima no c\u00e9u, ou que esteja abaixo na terra, ou que esteja na \u00e1gua debaixo da terra. N\u00e3o deves curvar-te a eles ou servi-los\u201d (\u00cax 20: 2-5). Nosso Senhor Jesus Cristo confirmou a validade perene desse mandamento, dizendo: \u201cEst\u00e1 escrito: \u2018Adorar\u00e1s o Senhor teu Deus, e servir\u00e1s somente a Ele\u2019 (Mt 4:10). As palavras \u201cSenhor\u201d e \u201cDeus\u201d, expressas no primeiro mandamento, significam a Sant\u00edssima Trindade, que \u00e9 o \u00fanico Senhor e o \u00fanico Deus. Portanto, o que Deus deseja positivamente \u00e9 que todos os homens devam cultuar e adorar somente a Deus, o Pai, o Filho e o Esp\u00edrito Santo, o \u00fanico Senhor e Deus.\u00a0O Catecismo da Igreja Cat\u00f3lica<\/em>\u00a0ensina: \u201cComo eles expressam os deveres fundamentais do homem em rela\u00e7\u00e3o a Deus e ao pr\u00f3ximo, os Dez Mandamentos revelam, em seu conte\u00fado primordial, graves obriga\u00e7\u00f5es. Eles s\u00e3o fundamentalmente imut\u00e1veis \u200b\u200be obrigam sempre e em qualquer lugar. Ningu\u00e9m pode dispensar deles\u201d (n. \u00a02072).<\/p>\n

As declara\u00e7\u00f5es do Papa Francisco na audi\u00eancia geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, s\u00e3o um pequeno passo na dire\u00e7\u00e3o de um esclarecimento da frase err\u00f4nea encontrada no documento de Abu Dhabi. No entanto, permanecem insuficientes, porquanto n\u00e3o se referem diretamente ao documento e porque o cat\u00f3lico comum e quase todos os n\u00e3o cat\u00f3licos nem conhecem ou compreendem o significado da express\u00e3o teologicamente t\u00e9cnica \u201cvontade permissiva de Deus\u201d.<\/p>\n

Do ponto de vista pastoral, \u00e9 altamente irrespons\u00e1vel deixar os fi\u00e9is de toda a Igreja em incerteza numa quest\u00e3o t\u00e3o vital como a validade do primeiro Mandamento do Dec\u00e1logo e a obriga\u00e7\u00e3o divina de todos os homens de acreditar e adorar, com seu livre arb\u00edtrio, em Jesus Cristo como o \u00fanico Salvador da humanidade. Quando Deus ordenou a todos os homens \u201cEste \u00e9 o meu Filho amado, com quem me comprazo; ou\u00e7a-o!\u201d (Mt 17: 5) e quando, consequentemente, em Seu julgamento, Ele \u201cinfligir\u00e1 vingan\u00e7a \u00e0queles que n\u00e3o obedecem ao evangelho de Nosso Senhor Jesus\u201d (2 Ts 1: 8), como pode Ele ao mesmo tempo considerar positivamente a diversidade das religi\u00f5es? As palavras inequ\u00edvocas reveladas por Deus s\u00e3o inconcili\u00e1veis com a frase contida no documento de Abu Dhabi. Afirmar o contr\u00e1rio significaria formar um c\u00edrculo ou adotar a mentalidade do gnosticismo ou do hegelianismo.<\/p>\n

N\u00e3o se pode justificar a teoria de que a diversidade de religi\u00f5es seja positivamente desejada por Deus acrescentando a verdade do dep\u00f3sito da f\u00e9 em rela\u00e7\u00e3o ao livre arb\u00edtrio como um presente de Deus, o Criador. Deus concedeu o livre arb\u00edtrio ao homem precisamente para que ele possa adorar somente a Deus, que \u00e9 o Deus Trino. Deus n\u00e3o deu ao homem o livre arb\u00edtrio para adorar \u00eddolos, ou negar ou blasfemar Seu Filho Encarnado Jesus Cristo, que disse: \u201cQuem n\u00e3o cr\u00ea j\u00e1 est\u00e1 condenado, porque n\u00e3o cr\u00ea no nome do \u00fanico Filho de Deus\u201d (Jo 3:18).<\/p>\n

Ap\u00f3s a sua interlocu\u00e7\u00e3o com o Papa Francisco em 1\u00ba de mar\u00e7o, durante a visita\u00a0<\/em><\/strong>ad limina\u00a0a Roma, Vossa Excel\u00eancia teve mais alguma comunica\u00e7\u00e3o com ele sobre suas preocupa\u00e7\u00f5es? Em caso afirmativo, foi antes ou depois da audi\u00eancia geral de na quarta-feira, 3 de abril de 2019?<\/em><\/strong><\/p>\n

\u2013 Durante a audi\u00eancia de 1\u00ba de mar\u00e7o de 2019, por ocasi\u00e3o da visita\u00a0ad limina<\/em>, dirigi-me ao Papa Francisco, na presen\u00e7a dos bispos de nosso grupo, com estas palavras:<\/p>\n

\u201cSant\u00edssimo Padre, na presen\u00e7a de Deus, imploro a Vossa Santidade em nome de Jesus Cristo que nos julgar\u00e1, a retratar-se dessa declara\u00e7\u00e3o do documento inter-religioso de Abu Dhabi, que relativiza a singularidade da f\u00e9 em Jesus Cristo. Caso contr\u00e1rio, a Igreja em nossos dias n\u00e3o ser\u00e1 objetiva sobre a verdade do Evangelho, como o ap\u00f3stolo Paulo disse a Pedro em Antioquia (ver G\u00e1latas 2:14). \u201d<\/p>\n

O Santo Padre respondeu imediatamente, dizendo que \u00e9 preciso explicar a frase no documento de Abu Dhabi referente \u00e0 diversidade das religi\u00f5es no sentido da \u201cvontade permissiva de Deus\u201d. Ao que respondi: \u201cVisto que essa frase enumera indiscriminadamente os objetos da vontade s\u00e1bia de Deus, colocando-os logicamente no mesmo n\u00edvel, a diversidade dos sexos masculino e feminino deve tamb\u00e9m ser desejada pela vontade permissiva de Deus, o que significa que Ele tolera essa diversidade, assim como pode tolerar a diversidade de religi\u00f5es.\u201d<\/p>\n

O Papa Francisco admitiu ent\u00e3o que a frase poderia ser mal interpretada e disse: \u201cMas voc\u00ea pode dizer \u00e0s pessoas que a diversidade de religi\u00f5es corresponde \u00e0 vontade permissiva de Deus.\u201d Ao que respondi: \u201cSanto Padre, por favor, diga isso a toda a Igreja.\u201d Deixei meu pedido verbal com o Papa tamb\u00e9m na forma escrita.<\/p>\n

O Papa Francisco respondeu-me gentilmente com uma carta datada de 5 de mar\u00e7o de 2019, na qual repetiu suas palavras da audi\u00eancia de 1\u00ba de mar\u00e7o de 2019. Ele disse que \u00e9 preciso entender a frase aplicando o princ\u00edpio da vontade permissiva de Deus. Tamb\u00e9m observou que o documento de Abu Dhabi n\u00e3o pretende igualar a vontade de Deus em criar diferen\u00e7as de cor e sexo com as diferen\u00e7as de religi\u00e3o.<\/p>\n

Com uma carta datada de 25 de mar\u00e7o de 2019, respondi \u00e0 carta do Papa Francisco de 5 de mar\u00e7o de 2019, agradecendo-lhe por sua gentileza e pedindo-lhe com franqueza fraterna que publicasse, pessoalmente ou atrav\u00e9s de um Dicast\u00e9rio da Santa S\u00e9, uma nota de esclarecimento repetindo a subst\u00e2ncia do que ele disse na audi\u00eancia de 1\u00ba de mar\u00e7o de 2019 e em sua carta de 5 de mar\u00e7o de 2019. Adicionei estas palavras: \u201cPublicando tais palavras, Vossa Santidade ter\u00e1 a ocasi\u00e3o auspiciosa e aben\u00e7oada, em um momento hist\u00f3rico dif\u00edcil da humanidade e da Igreja, de confessar Cristo, o Filho de Deus.\u201d<\/p>\n

Devo tamb\u00e9m dizer que o Papa Francisco enviou-me um cart\u00e3o, datado de 7 de abril de 2019. Ele anexou uma c\u00f3pia de seu discurso na audi\u00eancia geral de quarta-feira, 3 de abril de 2019, e sublinhou a se\u00e7\u00e3o referente \u00e0 vontade permissiva de Deus. \u00c9 claro que sou grato ao Santo Padre por esta am\u00e1vel aten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O Documento sobre\u00a0<\/em><\/strong>\u201cFraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos\u201d\u00a0n\u00e3o foi oficialmente emendado ou corrigido, e ainda assim foi estabelecido um \u201cComit\u00ea Superior\u201d para implement\u00e1-lo. Na segunda-feira, 26 de agosto de 2019, a Sala de Imprensa da Santa S\u00e9 divulgou uma declara\u00e7\u00e3o informando que o Papa Francisco ficou satisfeito ao saber da forma\u00e7\u00e3o de um \u201cComit\u00ea Superior\u201d para alcan\u00e7ar as metas contidas no documento. De acordo com a declara\u00e7\u00e3o, o Papa Francisco disse a seu respeito: \u201cEmbora, infelizmente, o mal, o \u00f3dio e a divis\u00e3o fa\u00e7am not\u00edcia, h\u00e1 um mar oculto de bondade que est\u00e1 crescendo e nos leva \u00e0 esperan\u00e7a no di\u00e1logo, no conhecimento rec\u00edproco e na possibilidade de construir, junto com os seguidores de outras religi\u00f5es e todos os homens e mulheres de boa vontade, um mundo de fraternidade e paz.\u201d Excel\u00eancia, qual \u00e9 a gravidade deste problema?<\/em><\/strong><\/p>\n

O problema \u00e9 da maior gravidade, porque, sob a frase retoricamente bela e intelectualmente sedutora de \u201cfraternidade humana\u201d, os homens da Igreja est\u00e3o de fato promovendo hoje a neglig\u00eancia do primeiro Mandamento do Dec\u00e1logo e a trai\u00e7\u00e3o do \u00e2mago do Evangelho. Por mais nobres que sejam os objetivos de \u201cfraternidade humana\u201d e \u201cpaz mundial\u201d, eles n\u00e3o podem ser promovidos \u00e0 custa de relativizar a verdade da singularidade de Jesus Cristo e de Sua Igreja e de minar o primeiro Mandamento do Dec\u00e1logo.<\/p>\n

O documento de Abu Dhabi sobre \u201cFraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos\u201d e o \u201cComit\u00ea Superior\u201d encarregado de implement\u00e1-lo s\u00e3o como um bolo lindamente decorado que cont\u00e9m uma subst\u00e2ncia nociva. Cedo ou tarde, quase sem perceber, enfraquecer\u00e1 o sistema imunol\u00f3gico do corpo.<\/p>\n

O estabelecimento do \u201cComit\u00ea Superior\u201d acima mencionado, encarregado de implementar em todos os n\u00edveis, entre outros bons objetivos o princ\u00edpio supostamente divinamente desejado da \u201cdiversidade de religi\u00f5es\u201d, na verdade paralisa a miss\u00e3o\u00a0ad gentes<\/em>\u00a0da Igreja, sufoca o zelo ardente de evangelizar todos os homens \u2013 \u00e9 claro que com amor e respeito \u2013, e d\u00e1 a impress\u00e3o de que a Igreja hoje est\u00e1 dizendo: \u201cTenho vergonha do Evangelho\u201d; \u201cTenho vergonha de evangelizar\u201d; \u201cTenho vergonha de trazer a luz do Evangelho a todos que ainda n\u00e3o creem em Cristo\u201d. \u00c9 o contr\u00e1rio do que disse S\u00e3o Paulo, Ap\u00f3stolo dos gentios. Ele, pelo contr\u00e1rio, declarou: \u201cN\u00e3o tenho vergonha do Evangelho\u201d (Rom 1:16) e \u201cAi de mim se n\u00e3o pregar o Evangelho!\u201d (1 Cor 9:16).<\/p>\n

O Documento de Abu Dhabi e os objetivos do \u201cComit\u00ea Superior\u201d tamb\u00e9m enfraquecem consideravelmente uma das caracter\u00edsticas e tarefas essenciais da Igreja, ou seja, ser mission\u00e1rio e cuidar principalmente da salva\u00e7\u00e3o eterna dos homens. Ele reduz as principais aspira\u00e7\u00f5es da humanidade aos valores temporais e imanentes da fraternidade, da paz e da conviv\u00eancia. De fato, as tentativas de paz est\u00e3o destinadas ao fracasso se n\u00e3o forem propostas em nome de Jesus Cristo. Esta verdade profeticamente recorda-nos o Papa Pio XI, que disse que as principais causas das dificuldades sob as quais a humanidade est\u00e1 trabalhando \u201ceram devidas ao fato de a maioria dos homens expulsar Jesus Cristo e sua santa Lei de suas vidas. Pio XI prosseguiu dizendo que,\u00a0 \u201cenquanto indiv\u00edduos e Estados se recusassem a se submeter ao governo de nosso Salvador, n\u00e3o haveria nenhuma perspectiva esperan\u00e7osa de uma paz duradoura entre na\u00e7\u00f5es\u201d (Enc\u00edclica\u00a0Quas Primas<\/em>, 1). O mesmo Papa ensinou que os cat\u00f3licos \u201cse tornam grandes fatores para a paz mundial porque trabalham para a restaura\u00e7\u00e3o e a expans\u00e3o do Reino de Cristo\u201d (Enc\u00edclica\u00a0Ubi arcano<\/em>, 58).<\/p>\n

Uma paz que \u00e9 uma realidade do mundo interior e puramente humana falhar\u00e1. Pois, de acordo com Pio XI, \u201ca paz de Cristo n\u00e3o se nutre nas coisas da Terra, mas nas do C\u00e9u. Tampouco poderia ser de outro modo, j\u00e1 que \u00e9 Jesus Cristo quem revelou ao mundo a exist\u00eancia de valores espirituais e obteve para eles a devida aprecia\u00e7\u00e3o. Ele disse: \u2018Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder sua alma?\u2019 \u00a0(Mt 16:26) Ele tamb\u00e9m nos ensinou uma li\u00e7\u00e3o divina de coragem e const\u00e2ncia quando disse: \u2018N\u00e3o temas os que matam o corpo e n\u00e3o s\u00e3o capazes de matar a alma; antes, tema o que pode destruir a alma e o corpo no inferno\u2019 (Mt 10:28; Lucas 12:14) \u201d(Enc\u00edclica\u00a0Ubi arcano<\/em>\u00a036).<\/p>\n

Deus criou os homens para o C\u00e9u. Deus criou todos os homens para conhecerem Jesus Cristo, terem vida sobrenatural n\u2019Ele e alcan\u00e7arem a vida eterna. Levar todos os homens a Jesus Cristo e \u00e0 vida eterna \u00e9, portanto, a miss\u00e3o mais importante da Igreja. O Conc\u00edlio Vaticano II nos forneceu uma bela e adequada explica\u00e7\u00e3o para esta miss\u00e3o: \u201cA atividade mission\u00e1ria deriva sua raz\u00e3o da vontade de Deus, \u2018que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois existe um Deus e um mediador entre Deus e os homens, ele pr\u00f3prio um homem, Jesus Cristo, que se deu como resgate por todos\u2019 \u2018(1 Tim 2:45), \u2018nem h\u00e1 salva\u00e7\u00e3o em nenhum outro\u2019 (Atos 4 : 12). Portanto, todos devem ser convertidos a Ele, tornados conhecidos pela prega\u00e7\u00e3o da Igreja, e todos devem ser incorporados a Ele pelo batismo e \u00e0 Igreja que \u00e9 Seu corpo. Porque o pr\u00f3prio Cristo, \u2018enfatizando em linguagem expressa a necessidade de f\u00e9 e batismo (cf. Mc 16, 16; Jo 3, 5), confirmou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo batismo, como por um porta. Portanto, embora Deus, por caminhos conhecidos por Ele, possa conduzir esses homens ignorantes n\u00e3o culposos do Evangelho a encontrar aquela f\u00e9 sem a qual \u00e9 imposs\u00edvel agrad\u00e1-Lo n\u00e3o podem ser salvos, que, embora cientes de que Deus, por meio de Jesus Cristo, fundou a Igreja como algo necess\u00e1rio, ainda n\u00e3o deseja entrar nela, nem perseverar nela. \u201d (Cf. Decreto \u201cTreinamento sacerdotal\u201d, 4, 8, 9.) Portanto, embora Deus, de maneiras conhecidas de Si mesmo, possa levar os inculp\u00e1veis \u200b\u200bignorantes do Evangelho a encontrar aquela f\u00e9 sem a qual \u00e9 imposs\u00edvel agrad\u00e1-Lo (Heb 11: 6), h\u00e1 ainda para a Igreja uma necessidade (1 Cor 9:16), e ao mesmo tempo um dever sagrado, de pregar o Evangelho. E, portanto, a atividade mission\u00e1ria hoje, como sempre, conserva seu poder e necessidade \u201d(Ad Gentes<\/em>, 7).<\/p>\n

Quero enfatizar estas \u00faltimas palavras: \u201cA atividade mission\u00e1ria da Igreja hoje conserva a sua necessidade!\u201d<\/p>\n

Vossa Excel\u00eancia gostaria de acrescentar algo?<\/em><\/strong><\/p>\n

Em sua audi\u00eancia geral de quarta-feira de 3 de abril de 2019, o Papa Francisco tamb\u00e9m disse o seguinte sobre a diversidade das religi\u00f5es: \u201cExistem muitas religi\u00f5es. Alguns nascem da cultura, mas sempre olham para o c\u00e9u; elas olham para Deus.\u201d<\/p>\n

Estas palavras contradizem de alguma forma a seguinte declara\u00e7\u00e3o luminosa e clara do Papa Paulo VI: \u201cNossa religi\u00e3o crist\u00e3 efetivamente estabelece com Deus um relacionamento aut\u00eantico e vivo que as outras religi\u00f5es n\u00e3o conseguem fazer, mesmo tendo, por assim dizer, seus bra\u00e7os estendidos para o c\u00e9u\u201d (Enc\u00edclica\u00a0Evangelii Nuntiandi<\/em>, 52). Qu\u00e3o oportunas s\u00e3o tamb\u00e9m as palavras do Papa Le\u00e3o XIII: \u201cA vis\u00e3o de que todas as religi\u00f5es s\u00e3o iguais \u00e9 calculada para causar a ru\u00edna de todas as formas de religi\u00e3o, e especialmente da religi\u00e3o cat\u00f3lica, que, por ser a \u00fanica verdadeira, n\u00e3o pode, sem grande injusti\u00e7a, ser considerada meramente igual a outras religi\u00f5es\u201d (Enc\u00edclica\u00a0Humanum genus<\/em>, 16).<\/p>\n

Tamb\u00e9m s\u00e3o adequadas as seguintes palavras do Papa Paulo VI:<\/p>\n

\u201c\u00c9 com alegria e consolo que, no final da grande Assembleia de 1974, ouvimos estas palavras esclarecedoras: \u2018Desejamos confirmar mais uma vez que a tarefa de evangelizar todas as pessoas constitui a miss\u00e3o essencial da Igreja\u2019. \u00c9 uma tarefa e miss\u00e3o que as vastas e profundas mudan\u00e7as da sociedade atual tornam ainda mais urgente. Evangelizar \u00e9 de fato a gra\u00e7a e a voca\u00e7\u00e3o pr\u00f3pria da Igreja, sua identidade mais profunda. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da gra\u00e7a, reconciliar pecadores com Deus e perpetuar o sacrif\u00edcio de Cristo na Missa, que \u00e9 o memorial de Sua morte e ressurrei\u00e7\u00e3o gloriosa\u201d (Enc\u00edclica\u00a0Evangelii Nuntiandi<\/em>, 14).<\/p>\n

Portanto, como ensina o\u00a0Catecismo da Igreja Cat\u00f3lica<\/em>, \u201co objetivo \u00faltimo da miss\u00e3o n\u00e3o \u00e9 outro sen\u00e3o o de fazer os homens compartilharem a comunh\u00e3o entre o Pai e o Filho em seu Esp\u00edrito de amor\u201d (n. 850).<\/p>\n

Ao reconhecer direta ou indiretamente a igualdade de todas as religi\u00f5es \u2013 atrav\u00e9s da divulga\u00e7\u00e3o e implementa\u00e7\u00e3o do documento de Abu Dhabi (de 4 de fevereiro de 2019), sem corrigir sua afirma\u00e7\u00e3o err\u00f4nea sobre a diversidade de religi\u00f5es \u2013, os homens na Igreja hoje n\u00e3o apenas traem Jesus Cristo como o \u00fanico Salvador da humanidade e a necessidade de Sua Igreja para a salva\u00e7\u00e3o eterna, mas tamb\u00e9m cometem uma grande injusti\u00e7a e pecam contra o amor ao pr\u00f3ximo. Em 1542, S\u00e3o Francisco Xavier escreveu das \u00cdndias a seu pai espiritual Santo In\u00e1cio de Loyola: \u201cMuitas pessoas nesses lugares n\u00e3o s\u00e3o crist\u00e3s simplesmente porque n\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m para torn\u00e1-las tais. Muitas vezes sinto o desejo de viajar para as universidades da Europa, especialmente Paris, e gritar por toda parte, como um louco, para impulsionar aqueles que t\u00eam mais conhecimento do que caridade com estas palavras: \u2018Ai, quantas almas, por causa de sua pregui\u00e7a, s\u00e3o privadas do C\u00e9u e terminam no inferno!\u2019\u201d.<\/p>\n

Possam essas palavras inflamadas do patrono celestial das miss\u00f5es e primeiro grande mission\u00e1rio jesu\u00edta tocar a mente e o cora\u00e7\u00e3o de todos os cat\u00f3licos, e especialmente o do primeiro Papa jesu\u00edta, para que, com coragem evang\u00e9lica e apost\u00f3lica, ele possa retratar-se da declara\u00e7\u00e3o err\u00f4nea sobre a diversidade de religi\u00f5es contidas no documento de Abu Dhabi. Por tal ato, ele pode muito bem perder a amizade e a estima dos poderosos deste mundo, mas certamente n\u00e3o a amizade e a estima de Jesus Cristo, de acordo com Suas palavras: \u201cTodo aquele que me confessar diante dos homens, Eu tamb\u00e9m o confessarei diante de meu Pai, que est\u00e1 nos c\u00e9us \u201d(Mt 10:32).<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em entrevista exclusiva ao\u00a0LifeSiteNews\u00a0sobre uma iniciativa apoiada pelo Vaticano para promover o \u201cDocumento sobre Fraternidade Humana pela Paz Mundial e Viver Juntos\u201d, o \u00a0Bispo-auxiliar de Astana, no Cazaquist\u00e3o, disse que \u201cpor mais nobres que possam ser os objetivos de \u2018fraternidade humana\u2019 e \u2018paz mundial\u2019, elas n\u00e3o podem ser promovidas \u00e0 custa de relativizar a verdade …<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":11304,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_seopress_robots_primary_cat":"none","_seopress_titles_title":"","_seopress_titles_desc":"","_seopress_robots_index":"","footnotes":""},"categories":[31],"tags":[1892,1891,1893],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11293"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=11293"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11293\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/11304"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=11293"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=11293"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=11293"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}