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{"id":2276,"date":"2022-08-27T09:14:13","date_gmt":"2022-08-27T12:14:13","guid":{"rendered":"http:\/\/catolicismoromano.com.br\/site2\/2011\/04\/22\/santo-agostinho-suas-relacoes-entre-a-fe-e-a-razao\/"},"modified":"2023-08-28T18:40:51","modified_gmt":"2023-08-28T21:40:51","slug":"santo-agostinho-suas-relacoes-entre-a-fe-e-a-razao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/santo-agostinho-suas-relacoes-entre-a-fe-e-a-razao\/","title":{"rendered":"Santo Agostinho: suas rela\u00e7\u00f5es entre a f\u00e9 a raz\u00e3o"},"content":{"rendered":"

Santo Agostinho (354-430) foi um fil\u00f3sofo, escritor, bispo e importante te\u00f3logo crist\u00e3o do norte da \u00c1frica, durante a domina\u00e7\u00e3o romana<\/strong>.<\/p>\n

Suas concep\u00e7\u00f5es sobre as rela\u00e7\u00f5es entre a f\u00e9 e a raz\u00e3o, entre a Igreja e o Estado, dominaram toda a Idade M\u00e9dia.<\/p>\n

Santo Agostinho, conhecido tamb\u00e9m como Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, na cidade da Num\u00eddia (hoje Arg\u00e9lia), no norte da \u00c1frica, regi\u00e3o dominada\u00a0pelo Imp\u00e9rio Romano, no dia 13 de novembro de 354. Sua inf\u00e2ncia e adolesc\u00eancia transcorreram principalmente em sua cidade natal, em um ambiente limitado por um povoado perdido entre montanhas. Seu pai era pag\u00e3o e sua m\u00e3e uma crist\u00e3 devota que exerceu grande influ\u00eancia sobre a convers\u00e3o do filho.<\/p>\n

Aur\u00e9lio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tom\u00e1s de Aquino se destaca entre os Escol\u00e1sticos. E como Tom\u00e1s de Aquino se inspira na filosofia de Arist\u00f3teles, e ser\u00e1 o maior vulto da filosofia metaf\u00edsica crist\u00e3, Agostinho inspira-se em Plat\u00e3o, ou melhor, no neoplatonismo. Agostinho, pela profundidade do seu sentir e pelo seu g\u00eanio compreensivo, fundiu em si mesmo o car\u00e1ter especulativo da patr\u00edstica grega com o car\u00e1ter pr\u00e1tico da patr\u00edstica latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas pr\u00e1ticos e morais: o mal, a liberdade, a gra\u00e7a, a predestina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Aur\u00e9lio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Num\u00eddia, de uma fam\u00edlia burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patr\u00edcio, era pag\u00e3o, recebido o batismo pouco antes de morrer; sua m\u00e3e, M\u00f4nica, pelo contr\u00e1rio, era uma crist\u00e3 fervorosa, e exercia sobre o filho uma not\u00e1vel influ\u00eancia religiosa. Indo para Cartago, a fim de aperfei\u00e7oar seus estudos, come\u00e7ados na p\u00e1tria, desviou-se moralmente. Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, \u00e9 uma das maiores conseq\u00fc\u00eancias do pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao manique\u00edsmo, que atribu\u00eda realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solu\u00e7\u00e3o do problema do mal e, por conseq\u00fc\u00eancia, uma justifica\u00e7\u00e3o da sua vida. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Mil\u00e3o. Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por raz\u00f5es de sa\u00fade e, mais ainda, por raz\u00f5es de ordem espiritual.<\/p>\n

Entrementes – depois de maduro exame cr\u00edtico – abandonara o manique\u00edsmo, abra\u00e7ando a filosofia neoplat\u00f4nica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Destarte chegara a uma concep\u00e7\u00e3o crist\u00e3 da vida – no come\u00e7o do ano 386. Entretanto a convers\u00e3o moral demorou ainda, por raz\u00f5es de lux\u00faria. Finalmente, como por uma fulgura\u00e7\u00e3o do c\u00e9u, sobreveio a convers\u00e3o moral e absoluta, no m\u00eas de setembro do ano 386. Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, \u00e0 carreira, ao matrim\u00f4nio; retira-se, durante alguns meses, para a solid\u00e3o e o recolhimento, em companhia da m\u00e3e, do filho e dalguns disc\u00edpulos, perto de Mil\u00e3o. A\u00ed escreveu seus di\u00e1logos filos\u00f3ficos, e, na P\u00e1scoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Al\u00edpio, recebeu o batismo em Mil\u00e3o das m\u00e3os de Santo Ambr\u00f3sio, cuja doutrina e eloq\u00fc\u00eancia muito contribu\u00edram para a sua convers\u00e3o. Tinha trinta e tr\u00eas anos de idade.<\/p>\n

Depois da convers\u00e3o, Agostinho abandona Mil\u00e3o, e, falecida a m\u00e3e em \u00d3stia, volta para Tagasta. A\u00ed vendeu todos os haveres e, distribu\u00eddo o dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona at\u00e9 \u00e0 morte, que se deu durante o ass\u00e9dio da cidade pelos v\u00e2ndalos, a 28 de agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade.<\/p>\n

Ap\u00f3s a sua convers\u00e3o, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e \u00e0 reda\u00e7\u00e3o de suas obras, entre as quais t\u00eam lugar de destaque as filos\u00f3ficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filos\u00f3fico s\u00e3o, sobretudo, os di\u00e1logos filos\u00f3ficos: Contra os acad\u00eamicos, Da vida beata, Os solil\u00f3quios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a m\u00fasica . Interessam tamb\u00e9m \u00e0 filosofia os escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arb\u00edtrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem .<\/p>\n

Dada, por\u00e9m, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia andam juntas, compreende-se que interessam \u00e0 filosofia tamb\u00e9m as obras teol\u00f3gicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religi\u00e3o, As Confiss\u00f5es, A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira.<\/p>\n

O Pensamento: A Gnosiologia<\/strong><\/p>\n

Agostinho considera a filosofia praticamente, platonicamente, como solucionadora do problema da vida, ao qual s\u00f3 o cristianismo pode dar uma solu\u00e7\u00e3o integral. Todo o seu interesse central est\u00e1 portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solu\u00e7\u00e3o integral do problema da vida.<\/p>\n

O problema gnosiol\u00f3gico \u00e9 profundamente sentido por Agostinho, que o resolve, superando o ceticismo acad\u00eamico mediante o iluminismo plat\u00f4nico. Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da pr\u00f3pria exist\u00eancia espiritual; da\u00ed tira uma verdade superior, imut\u00e1vel, condi\u00e7\u00e3o e origem de toda verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sens\u00edvel em rela\u00e7\u00e3o ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, s\u00e3o fontes de conhecimento. E como para a vis\u00e3o sens\u00edvel al\u00e9m do olho e da coisa, \u00e9 necess\u00e1ria a luz f\u00edsica, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necess\u00e1ria uma luz espiritual. Esta vem de Deus, \u00e9 a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual s\u00e3o transferidas as id\u00e9ias plat\u00f4nicas.<\/p>\n

No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as id\u00e9ias, as esp\u00e9cies, os princ\u00edpios formais das coisas, e s\u00e3o os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades eternas e as id\u00e9ias das coisas reais por meio da luz intelectual a n\u00f3s participada pelo Verbo de Deus. Como se v\u00ea, \u00e9 a transforma\u00e7\u00e3o do inatismo, da reminisc\u00eancia plat\u00f4nica, em sentido te\u00edsta e crist\u00e3o. Permanece, por\u00e9m, a caracter\u00edstica fundamental, que distingue a gnosiologia plat\u00f4nica da aristot\u00e9lica e tomista, pois, segundo a gnosiologia plat\u00f4nica-agostiniana, n\u00e3o bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as for\u00e7as naturais do esp\u00edrito, mas \u00e9 mister uma particular e direta ilumina\u00e7\u00e3o de Deus.<\/p>\n

A Metaf\u00edsica<\/strong><\/p>\n

Em rela\u00e7\u00e3o com esta gnosiologia, e dependente dela, a exist\u00eancia de Deus \u00e9 provada, fundamentalmente, a priori , enquanto no esp\u00edrito humano haveria uma presen\u00e7a particular de Deus. Ao lado desta prova a priori , n\u00e3o nega Agostinho as provas a posteriori da exist\u00eancia de Deus, em especial a que se afirma sobre a mudan\u00e7a e a imperfei\u00e7\u00e3o de todas as coisas. Quanto \u00e0 natureza de Deus, Agostinho possui uma no\u00e7\u00e3o exata, ortodoxa, crist\u00e3: Deus \u00e9 poder racional infinito, eterno, imut\u00e1vel, simples, esp\u00edrito, pessoa, consci\u00eancia, o que era exclu\u00eddo pelo platonismo. Deus \u00e9 ainda ser, saber, amor. Quanto, enfim, \u00e0s rela\u00e7\u00f5es com o mundo, Deus \u00e9 concebido exatamente como livre criador.<\/p>\n

No pensamento cl\u00e1ssico grego, t\u00ednhamos um dualismo metaf\u00edsico; no pensamento crist\u00e3o – agostiniano – temos ainda um dualismo, por\u00e9m moral, pelo pecado dos esp\u00edritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo o mundo a Deus. No cristianismo, o mal \u00e9, metafisicamente, nega\u00e7\u00e3o, priva\u00e7\u00e3o; moralmente, por\u00e9m, tem uma realidade na vontade m\u00e1, aberrante de Deus. O problema que Agostinho tratou, em especial, \u00e9 o das rela\u00e7\u00f5es entre Deus e o tempo. Deus n\u00e3o \u00e9 no tempo, o qual \u00e9 uma criatura de Deus: o tempo come\u00e7a com a cria\u00e7\u00e3o. Antes da cria\u00e7\u00e3o n\u00e3o h\u00e1 tempo, dependendo o tempo da exist\u00eancia de coisas que vem-a-ser e s\u00e3o, portanto, criadas.<\/p>\n

Tamb\u00e9m a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo crist\u00e3o. Por certo, o corpo n\u00e3o \u00e9 mau por natureza, porquanto a mat\u00e9ria n\u00e3o pode ser essencialmente m\u00e1, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a uni\u00e3o do corpo com a alma \u00e9, de certo modo, extr\u00ednseca, acidental: alma e corpo n\u00e3o formam aquela unidade metaf\u00edsica, substancial, como na concep\u00e7\u00e3o aristot\u00e9lico-tomista, em virtude da doutrina da forma e da mat\u00e9ria. A alma nasce com o indiv\u00edduo humano e, absolutamente, \u00e9 uma espec\u00edfica criatura divina, como todas as demais. Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo, isto \u00e9, se a alma \u00e9 criada diretamente por Deus, ou prov\u00e9m da alma dos pais. Certo \u00e9 que a alma \u00e9 imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas afirma que elas s\u00e3o fundidas em uma subst\u00e2ncia humana. A intelig\u00eancia \u00e9 divina em intelecto intuitivo e raz\u00e3o discursiva; e \u00e9 atribu\u00edda a primazia \u00e0 vontade. No homem a vontade \u00e9 amor, no animal \u00e9 instinto, nos seres inferiores cego apetite.<\/p>\n

Quanto \u00e0 cosmologia, pouco temos a dizer. Como j\u00e1 mais acima se salientou, a natureza n\u00e3o entra nos interesses filos\u00f3ficos de Agostinho, preso pelos problemas \u00e9ticos, religiosos, Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa doutrina dos germes espec\u00edficos dos seres – rationes seminales . Deus, a princ\u00edpio, criou alguns seres j\u00e1 completamente realizados; de outros criou as causas que, mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem \u00e0s exist\u00eancias dos seres espec\u00edficos. Esta concep\u00e7\u00e3o nada tem que ver com o moderno evolucionismo , como alguns erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das esp\u00e9cies, negada pelo moderno evolucionismo.<\/p>\n

A Moral<\/strong><\/p>\n

Evidentemente, a moral agostiniana \u00e9 te\u00edsta e crist\u00e3 e, logo, transcendente e asc\u00e9tica. Nota caracter\u00edstica da sua moral \u00e9 o voluntarismo, a saber, a primazia do pr\u00e1tico, da a\u00e7\u00e3o – pr\u00f3pria do pensamento latino – , contrariamente ao primado do teor\u00e9tico, do conhecimento – pr\u00f3prio do pensamento grego. A vontade n\u00e3o \u00e9 determinada pelo intelecto, mas precede-o. N\u00e3o obstante, Agostinho tem tamb\u00e9m atitudes teor\u00e9ticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim \u00faltimo das criaturas, \u00e9 possu\u00eddo por um ato de intelig\u00eancia. A virtude n\u00e3o \u00e9 uma ordem de raz\u00e3o, h\u00e1bito conforme \u00e0 raz\u00e3o, como dizia Arist\u00f3teles, mas uma ordem do amor.<\/p>\n

Entretanto a vontade \u00e9 livre, e pode querer o mal, pois \u00e9 um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar n\u00e3o causa eficiente, mas deficiente da sua a\u00e7\u00e3o viciosa, porquanto o mal n\u00e3o tem realidade metaf\u00edsica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem, porquanto a criatura, n\u00e3o podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilacera\u00e7\u00e3o da sua natureza. A f\u00f3rmula agostiniana em torno da liberdade em Ad\u00e3o – antes do pecado original – \u00e9: poder n\u00e3o pecar ; depois do pecado original \u00e9: n\u00e3o poder n\u00e3o pecar ; nos bem-aventurados ser\u00e1: n\u00e3o poder pecar . A vontade humana, portanto, j\u00e1 \u00e9 impotente sem a gra\u00e7a. O problema da gra\u00e7a – que tanto preocupa Agostinho – tem, al\u00e9m de um interesse teol\u00f3gico, tamb\u00e9m um interesse filos\u00f3fico, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arb\u00edtrio do homem. Como \u00e9 sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo.<\/p>\n

Quanto \u00e0 fam\u00edlia , Agostinho, como Paulo ap\u00f3stolo, considera o celibato superior ao matrim\u00f4nio; se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Quanto \u00e0 pol\u00edtica , ele tem uma concep\u00e7\u00e3o negativa da fun\u00e7\u00e3o estatal; se n\u00e3o houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria in\u00fatil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e n\u00e3o natural. Nem a escravid\u00e3o \u00e9 de direito natural, mas conseq\u00fc\u00eancia do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela n\u00e3o pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana j\u00e1 \u00e9 corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conforma\u00e7\u00e3o crist\u00e3 de quem \u00e9 escravo e a caridade de quem \u00e9 amo.<\/p>\n

O Mal<\/strong><\/p>\n

Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal – de que d\u00e1 uma vasta e viva fenomenologia. Foi tamb\u00e9m longamente desviado pela solu\u00e7\u00e3o dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral. A solu\u00e7\u00e3o deste problema por ele achada foi a sua liberta\u00e7\u00e3o e a sua grande descoberta filos\u00f3fico-teol\u00f3gica, e marca uma diferen\u00e7a fundamental entre o pensamento grego e o pensamento crist\u00e3o.<\/p>\n

Antes de tudo, nega a realidade metaf\u00edsica do mal. O mal n\u00e3o \u00e9 ser, mas priva\u00e7\u00e3o de ser, como a obscuridade \u00e9 aus\u00eancia de luz. Tal priva\u00e7\u00e3o \u00e9 imprescind\u00edvel em todo ser que n\u00e3o seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte \u00e9 explicado o assim chamado mal metaf\u00edsico , que n\u00e3o \u00e9 verdadeiro mal, porquanto n\u00e3o tira aos seres o lhes \u00e9 devido por natureza.<\/p>\n

Quanto ao mal f\u00edsico , que atinge tamb\u00e9m a perfei\u00e7\u00e3o natural dos seres, Agostinho procura justific\u00e1-lo mediante um velho argumento, digamos assim, est\u00e9tico: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto. Mas \u00e9 esta a parte menos afortunada da doutrina agostiniana do mal.<\/p>\n

Quanto ao mal moral, finalmente existe realmente a m\u00e1 vontade que livremente faz o mal; ela, por\u00e9m, n\u00e3o \u00e9 causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal n\u00e3o-ser. Este n\u00e3o-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e n\u00e3o de Deus, que \u00e9 puro ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original e atual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento, f\u00edsico e moral, al\u00e9m de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. Como se v\u00ea, o mal f\u00edsico tem, deste modo, uma outra explica\u00e7\u00e3o mais profunda.<\/p>\n

Remediou este mal moral a reden\u00e7\u00e3o de Cristo, Homem-Deus, que restituiu \u00e0 humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, conseq\u00fc\u00eancia do pecado, como meio de purifica\u00e7\u00e3o e expia\u00e7\u00e3o. E a explica\u00e7\u00e3o \u00faltima de tudo isso – do mal moral e de suas conseq\u00fc\u00eancias – estaria no fato de que \u00e9 mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que n\u00e3o permitir o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal \u00e9, fundamentalmente, priva\u00e7\u00e3o de bem (de ser); este bem pode ser n\u00e3o devido (mal metaf\u00edsico) ou devido (mal f\u00edsico e moral) a uma determinada natureza; se o bem \u00e9 devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solu\u00e7\u00e3o deste problema \u00e9 est\u00e9tica para o mal f\u00edsico, moral (pecado original e Reden\u00e7\u00e3o) para o mal moral (e f\u00edsico).<\/p>\n

A Hist\u00f3ria<\/strong><\/p>\n

Como \u00e9 not\u00f3rio, Agostinho trata do problema da hist\u00f3ria na Cidade de Deus , e resolve-o ainda com os conceitos de cria\u00e7\u00e3o, de pecado original e de Reden\u00e7\u00e3o. A Cidade de Deus representa, talvez, o maior monumento da antig\u00fcidade crist\u00e3 e, certamente, a obra prima de Agostinho. Nesta obra \u00e9 contida a metaf\u00edsica original do cristianismo, que \u00e9 uma vis\u00e3o org\u00e2nica e intelig\u00edvel da hist\u00f3ria humana. O conceito de cria\u00e7\u00e3o \u00e9 indispens\u00e1vel para o conceito de provid\u00eancia, que \u00e9 o governo divino do mundo; este conceito de provid\u00eancia \u00e9, por sua vez, necess\u00e1rio, a fim de que a hist\u00f3ria seja suscet\u00edvel de racionalidade. O conceito de provid\u00eancia era imposs\u00edvel no pensamento cl\u00e1ssico, por causa do basilar dualismo metaf\u00edsico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da hist\u00f3ria, \u00e9 mister a Reden\u00e7\u00e3o, gra\u00e7as aos quais \u00e9 explicado o enigma da exist\u00eancia do mal no mundo e a sua fun\u00e7\u00e3o. Cristo tornara-se o centro sobrenatural da hist\u00f3ria: o seu reino, a cidade de Deus , \u00e9 representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de seu advento. Contra este cidade se ergue a cidade terrena , mundana, sat\u00e2nica, que ser\u00e1 absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos.<\/p>\n

Agostinho distingue em tr\u00eas grandes se\u00e7\u00f5es a hist\u00f3ria antes de Cristo. A primeira concerne \u00e0 hist\u00f3ria das duas cidades , ap\u00f3s o pecado original, at\u00e9 que ficaram confundidas em um \u00fanico caos humano, e chega at\u00e9 a Abra\u00e3o, \u00e9poca em que come\u00e7ou a separa\u00e7\u00e3o. Na Segunda descreve Agostinho a hist\u00f3ria da cidade de Deus , recolhida e configurada em Israel, de Abra\u00e3o at\u00e9 Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que come\u00e7a a hist\u00f3ria da Cidade de Deus separada, isto \u00e9, desde Abra\u00e3o, para tratar paralela e separadamente da Cidade do mundo, que culmina no imp\u00e9rio romano.<\/p>\n

Esta hist\u00f3ria, pois, fragment\u00e1ria e dividida, onde parece que Satan\u00e1s e o mal t\u00eam o seu reino, representa, no fundo, uma unidade e um progresso. \u00c9 o progresso para Cristo, sempre mais claramente, conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado tamb\u00e9m, a seu modo, pelos povos pag\u00e3os, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam diretamente o caminho. Depois de Cristo cessa a divis\u00e3o pol\u00edtica entre as duas cidades ; elas se confundem como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferen\u00e7a, por\u00e9m, de que j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 mais uni\u00e3o ca\u00f3tica, mas configurada na unidade da Igreja.<\/p>\n

Esta n\u00e3o \u00e9 limitada por nenhuma divis\u00e3o pol\u00edtica, mas supera todas as sociedades pol\u00edticas na universal unidade dos homens e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, \u00e9 acess\u00edvel, invisivelmente, tamb\u00e9m \u00e0s almas de boa vontade que, exteriormente, dela n\u00e3o podem participar. A Igreja transcende, ainda, os confins do mundo terreno, al\u00e9m do qual est\u00e1 a p\u00e1tria verdadeira. Entretanto, visto que todos, predestinados e \u00edmpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja – ainda que s\u00f3 na unidade dial\u00e9tica das duas cidades , para o triunfo da Cidade de Deus – a divis\u00e3o definitiva, eterna, absoluta, just\u00edssima, realizar-se-\u00e1 nos fins dos tempos, depois da morte, depois do ju\u00edzo universal, no para\u00edso e no inferno. \u00c9 uma grande vis\u00e3o unit\u00e1ria da hist\u00f3ria, n\u00e3o \u00e9 uma vis\u00e3o filos\u00f3fica, mas teol\u00f3gica: \u00e9 uma teologia, n\u00e3o uma filosofia da hist\u00f3ria.<\/p>\n

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Santo Agostinho (354-430) foi um fil\u00f3sofo, escritor, bispo e importante te\u00f3logo crist\u00e3o do norte da \u00c1frica, durante a domina\u00e7\u00e3o romana. Suas concep\u00e7\u00f5es sobre as rela\u00e7\u00f5es entre a f\u00e9 e a raz\u00e3o, entre a Igreja e o Estado, dominaram toda a Idade M\u00e9dia. Santo Agostinho, conhecido tamb\u00e9m como Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, na cidade …<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":2275,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_seopress_robots_primary_cat":"none","_seopress_titles_title":"","_seopress_titles_desc":"","_seopress_robots_index":"","footnotes":""},"categories":[34],"tags":[3161,396],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2276"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2276"}],"version-history":[{"count":3,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2276\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":17918,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2276\/revisions\/17918"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2275"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2276"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2276"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.catolicismoromano.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2276"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}