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A PRÁTICA DO EVANGELHO É O QUE DIFERENCIA O CRISTÃO DO PAGÃO

Paramentos Litúrgicos

Jesus diz: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!”. Aqui Jesus fala de dois fogos: o primeiro fogo é ele mesmo, Jesus Cristo, o fogo em si mesmo, simbolizado pela a sarça ardente que aparece para Moisés, enquanto pastoreava o rebanho de Jetro (cf.: Ex 3:2).

O segundo fogo é o Novo Mandamento, que procede de sua palavra e ação. Esta concepção de dois fogos é decorrente do duplo sentido do versículo, porque, devemos compreender que somente a presença de Jesus é suficiente para incendiar os corações, curar os enfermos e expulsar demônios. Vemos esses três exemplos nas seguintes passagens: Lucas 24:32; Marcos 5:28; Mateus 8:28-29.

No primeiro exemplo, diz um dos discípulos de Emaús: “Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?”; no segundo, “Ainda que eu apenas toque na roupa dele, ficarei curada”; no terceiro: “Quando Jesus chegou à outra margem, à terra dos gadarenos, foram ao encontro dele dois homens possuídos pelo demônio. Saíam do meio dos túmulos e eram muito selvagens, de modo que ninguém podia passar. Então eles gritaram: ‘Que é que há entre nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?’” As três passagens nos dão a compreensão de que, somente a presença de Jesus é suficiente para incendiar, curar e libertar. Jesus é o fogo em si mesmo: o fogo da santidade.

Pois bem, o segundo fogo é a prática do Evangelho: aquilo que diferencia o cristão do pagão; aquilo que diferencia o salvífico do mítico e o verdadeiro do falso. Podemos dizer, também, que o segundo fogo é a transformação que a Igreja promove no mundo, libertando os cativos dos impérios pagãos, acolhendo os miseráveis, os enfermos, os idosos e as crianças; ensinando a virtude, as artes, a literatura, a música, a filosofia, a teologia e todos os bens que tornam os pobres, ricos no espírito, os escravos em libertos, os pecadores em santos e todos os benefícios, enfim, que um converso recebe da palavra e da ação de Nosso Senhor através de sua Igreja.

Se Ele é o fogo e deseja incendiar a terra, devemos nos deixar abrasar por sua presença e palavra. Não podemos ficar neutros diante do fogo. Ou fugimos dele ou tomamos partido em favor dele. Não existe uma terceira via diante de Jesus, o fogo abrasador. Esta alegoria representa toda a realidade espiritual e política que vive a humanidade desde a Sua subida aos Céus, pois, desde então, o mundo divide-se, tão-somente, entre amigos e inimigos de Cristo. Se dirá, certamente, que existem sim os neutros. Mas o que seriam os neutros senão aqueles que não fogem do fogo, e que, não obstante, não se deixam abrasar? Isto é uma impossibilidade. A realidade do “neutro” subsiste apenas como figura de linguagem. Concretamente falando, ou se é de Cristo ou se é inimigo de Cristo.

O fogo abrasador trás, como consequência, uma dissensão, e, essa dissensão chega ao mais profundo do ser, quando o indivíduo reflete que já não pode comungar das ideias e comportamentos dos colegas, dos amigos e nem mesmo da família, quando tais ideias e comportamentos são contrários ao mandamento do fogo abrasador, que é Jesus. É impossível ser de Cristo sem abandonar os velhos hábitos mundanos. Trata-se de uma luta interna, uma batalha na própria alma que se vê, diante das iniquidades do mundo, em vias de perder a chama que se lhe abrasa. O verdadeiro cristão, aquele que se deixou abrasar, já não pode conviver com a injustiça; com a mentira; com a promiscuidade; com a futilidade; com a idolatria e com a impureza e, terá de se colocar contra tudo isso até mesmo no seu reduto mais íntimo, isto é, a família e é por isso que os versículos 52 e 53 do mesmo Evangelho nos dizem: “Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”.

Antes, porém, de pensarmos “nesta casa, nesta família”, pensemos, como nos ensina Santo Ambrósio, que a casa e a família, em sentido místico, somos nós mesmos, isto é, o indivíduo em sua alma e seu corpo. Esta dualidade, em sentido místico, significa “família”. O sentido da paz que Jesus não veio trazer é este, porquanto devemos estar em permanente guerra contra os maus desejos do corpo e em permanente vigília diante das más inclinações da alma. É na alma que somos tentados, mas também é, em seu interior, que nos ligamos a Deus.

Assim, termina Santo Ambrósio dizendo: “depois da vinda de Cristo, o homem, que era irracional, se fez racional. Éramos carnais e terrenos, mas, mandou o Senhor seu espírito a nossos corações e nos fizemos seus filhos espirituais […]Porque, a razão, por ser mais forte, se inclina aos nobres afetos, ainda que a carne trate de enfraquecer a razão […] Mas, quando a alma volta-se sobre si, renega as heranças degeneradas da carne”.

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