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AS MULHERES NO EVANGELHO DE LUCAS – ARTIGO ESCRITO PELA CATEQUISTA MÔNICA ROMANO

Paramentos Litúrgicos
Estamos no Ano C de leituras no Evangeliário, dedicado ao Evangelho de São Lucas, no rito ordinário da Santa Missa. Todos os domingos ouvimos um trecho, refletimos, e pensamos sobre o papel da mulher na vida de Jesus e sua importância na vida Cristã.

Como sabem São Lucas, um dos quatro evangelistas foi o único dentre eles que não conheceu Jesus pessoalmente, não acompanhou seu ministério, não era sequer seu discípulo. E ai você pode até dizer, São Marcos também não era apóstolo, mas era discípulo, era muito jovem e mais tarde escreveu também seu Evangelho, juntando o que viu e ouviu e os relatos contados por São Pedro de quem era secretário.

Mas o que chama atenção no Evangelho de São Lucas, além do relato do Natal, é a participação feminina. A começar pela mais importante delas, Maria.

A tradição nos conta que Lucas, tão logo toma ciência dos acontecimentos na Judéia, parte para lá em busca deles. Era médico, letrado, inteligente, e contava com certo recurso. Escrevendo os fatos do ponto de vista de um historiador, e seu Evangelho começa como sendo endereçado a um certo Teófilo.  Lucas começa pela origem. E a primeira pessoa que lhe interessa ouvir é sua Mãe, Maria. Dela Lucas ouviu o relato da Anunciação, sua promessa de casamento a José, O magnificat quando do encontro com sua prima Isabel, o nascimento em circunstâncias ímpares, a visita dos Reis Magos, seus presentes, a apresentação no templo, a fuga para o Egito,  a perda de Jesus no templo, o sofrimento de Jesus com a morte de José, seu sofrimento na via dolorosa, acompanhand o seu sofrimento na cruz, sua descida desta mesma cruz, e a alegria de estar presente junto com os apóstolos no dia de Pentecostes.

Imagine os olhos brilhando de um Lucas para quem esta história estava sendo relatada,ele não participou,  mas através dele todos seriam incluídos. Lucas deve ter ficado tão encantado diante de tão doce criatura, que solicitou permissão de Maria para pintar um retrato dela, lém de tudo, era pintor.

Mas falar de Maria é um caso muito a parte. Vamos às outras mulheres; Isabel, é a próxima que aparece nesta história. Prima da jovem Maria, Isabel , esposa de Zacarias, era mais idosa, e estéril, mas Deus lhe concedeu a graça de conceber o precursor , João Batista. Por ação do Espírito Santo, Isabel proclama que Maria é a Mãe de Deus, pois Deus é o Senhor de Isabel. Seguindo ainda a tradição, como Isabel morava em Jerusalém e Maria em Nazaré, quando João nasceu, Isabel mandou acender uma grande fogueira para avisar Maria do acontecimento. Daí a origem da fogueira de São João, em nossas festas juninas.

A segunda mulher mais importante no Evangelho de Lucas, é Maria Madalena. Maria Madalena foi injustamente identificada pela Igreja como a adultera arrependida, por isso o bordão tão hoje em dia disseminado “Madalena arrependida”. Mas em tempo a Igreja já consertou este engano e hoje apenas por ignorância identificamos a figura de Maria Madalena assim. Maria Madalena é uma das poucas mulheres identificadas por São Lucas pelo nome. Ela segundo narrativa de seu evangelho foi beneficiada por um dos muitos milagres de Jesus, que expulsou de seu corpo sete demônios. Maria era discípula de Jesus e participava ativamente de suas viagens, inclusive financiando, estava sempre junto do grupo de apóstolos, e para isso, Maria devia ser uma pessoa de certa importância na sociedade de então. Como foi identificada com o nome “ Mdalena”, que segundo alguns estudiosos indicam tratar de uma cidade, Magda ( torre ) já podemos pressupor que Maria não tinha marido, e nem filhos. Pois na sociedade judaica as pessoas eram distintas por parentesco, não havia o costume de sobrenome, por exemplo, Maria de Nazaré, Jesus filho de José, Jesus de Nazaré, João Batista, Maria de Cleofas, João, filho de Zebedeu, Simão de Cirene e assim por diante. Assim como Maria, Madalena fazia parte do grupo de mulheres que estavam diante de Jesus crucificado no Calvário. À Maria Madalena coube a mais importante das revelações , a ressurreição de Cristo. Ela foi a primeira criatura que viu Jesus ressuscitado, foi ela que levou a boa nova para os apóstolos amedrontados. Ele vive! Ele ressuscitou!

As viúvas, Lucas cita a viúva de Naim  que mereceu de Jesus um olhar de compaixão, fazendo que Ele revivesse seu filho. Pois a posição da mulher na sociedade judaica era precária, sendo viúva , ela só tinha o filho para contar com a sua sobrevivência. E também narra a parábola da viúva que tinha apenas uma moeda e a ofereceu como oferta, e ainda aquela que perdeu uma moeda e procurou por toda a casa e a achou.

A mulher pecadora, a quem os fariseus levoram até a presença de Jesus para testá-lo. Indicando que ela havia cometido adultério sendo passível de pena de morte por apedrejamento. Jesus calmamente escrevia na poeira do chão, e disse a célebre frase “ aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Como não havia entre eles alguém assim , Jesus disse “ Eu também não te condeno. Vá e não peques mais”. O que estaria Jesus escrevendo na areia?

A mulher cananeia, estando Jesus a caminho de mais uma cidade, Jesus sente que alguém toca na barra de sua túnica e lhe tira energia. Jesus quer saber quem é. Constrangida a mulher se apresenta, Jesus a conforta e diz que nunca encontrara alguém com fé tão grande. A mulher em questão sofria com hemorragias constantes. Além de fraqueza da saúde, ela vivia à margem da sociedade, pois não podia participar da vida religiosa devido ao seu estado de constante “impureza”. Além da saúde, Jesus também a resgata para o convívio social, é um claro sinal de inclusão.

Alguns estudiosos identificam esta mulher cananeia de quem não sabemos o nome, como aquela que piedosamente estava na via dolorosa quando Jesus flagelado passou carregando a cruz. Ela se aproxima de Jesus e enxuga lhe o rosto, e imediatamente

Seu rosto fica estampado no véu. A Igreja deu a essa mulher o nome de Verônica, Vero = Verdade + ícone + imagem = Verdadeira imagem.

Maria e Marta, duas irmãs a quem Jesus foi visitar eram também irmãs de Lázaro, grande amigo por quem Jesus chorou ao saber da morte. É com alegria que as duas recebem Jesus, e como quase a maioria das mulheres, Marta se dirige para cozinha a fim de preparar algo para Jesus comer, prepara também uma bacia com água, cuida de um detalhe e de outro da casa, para manter o mais confortável possível o importante visitante. Mas Marta se aborrece ao ver a irmã Maria sentada aos pés de Jesus ouvindo seus ensinamentos, ao que é reprendida por Ele, pois afinal, Maria escolheu a melhor parte.

A “suposta” pecadora que chorou lágrimas e banhou os pés de Jesus, enxugou os com os cabelos e os untou com caro balsamo.

E porque suposta? Lucas narra que Simão, pensou que se tratava de uma pecadora. Mas Lucas não a identificou assim. Pelo contrário, se fizermos uma ligação desta narrativa com o Evangelho do domingo de 09 de outubro em que 10 leprosos foram curados e somente 1 voltou para agradecer, podemos identificar os atos da mulher como uma demonstração de gratidão correspondente a alguém que agradece a quem acabou de salvar sua vida de todas as formas. Lavou os pés com lágrimas, enxugou os pés com cabelo, beijou os e perfumou os. Podemos identificar esta mulher como aquela a quem Jesus salvou do apedrejamento. Mas o que Simão não sabia é que ela já havia sido per doada. Não se tratava mais de uma pecadora.

Existem outras mulheres a quem Lucas citou, como Maria, mãe de Tiago e João, Suzana, Joana … mas retratar as histórias destas mulheres em uma época em que elas não eram valorizadas foi de uma importância fundamental para o cristianismo. Deixa claro que Deus tem um projeto de salvação para todos, homens e mulheres e que cada um respeitando sua particularidade é importante.

E você, lembrou de mais alguma mulher importante no relato de Lucas? Qual papel reservado paras as  mulheres no cristianismo hoje?

 
Mônica Romano é catequista em Belo Horizonte, Minas Gerais e colaboradora do portal Catolicismo Romano.

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