Missa Tridentina

OS SACRIFÍCIOS ANTIGOS NO TEMPO DOS PATRIARCAS, NA LEI MOSAICA E OS SACRIFÍCIOS DOS PAGÃOS

Paramentos Litúrgicos

 

Quais seriam os deveres religiosos do homem no estado de inocência, antes do pecado de Adão?
R. Os deveres religiosos do homem naquele estado seriam:
1 – Adorar a Deus como seu Senhor, soberano e absoluto;
2 – Manifestar seu reconhecimento a Deus como seu Criador e autor absoluto de todos os seus bens, e manter sua vida numa perpétua ação de graças, para que Ele conserve e aumente seus benefícios, a cada dia;
3 – Implorar a Deus graças e auxílio com oração humilde, fervorosa e perseverante.


Que afirmou Sto. Agostinho sobre os deveres religiosos dos homens se tivessem perseverado naquele estado de inocência?

R. Nesta hipótese, sem mancha de pecado, Sto. Agostinho afirmou que os homens deveriam se oferecer a Deus, como vítimas puras (Cidade de Deus, 1. I, c. 26).

Que consequências derivaram do pecado original sobre aqueles deveres religiosos dos homens para Deus?

R. Desde que o pecado nos despojou dos nossos privilégios originais, tornou-se necessário acrescentar, àquelas grandes obrigações religiosas, a obrigação de apaziguar a justiça divina, ultrajada por nosso orgulho e nossa ingratidão, bem como de conhecer mais profundamente nossa miséria e nossa contínua dependência dos socorros celestes, em todas as nossas necessidades espirituais e materiais.

Quais são, portanto, as finalidades do sacrifício após a queda do homem?

R. Após o pecado original, as finalidades do sacrifício a Deus são:
1 – adorá-lo;
2 – agradecer as graças recebidas;
3 – implorar a remissão dos pecados;
4 – implorar sua benção.

Por que o homem, após a queda, edificou templos para imolar as vítimas do sacrifício?

R. Porque, no estado de degradação e de miséria em que se encontrou devido ao pecado original, o coração do homem não podia mais servir de altar e vítima. Assim, incapaz de reparar o pecado, apesar da penitência feita, foi preciso pedir à natureza um templo, ou edificá-lo mediante ordem expressa, para sacrificar suas vítimas.

Por que a vítima era imolada sobre uma pedra?

R. Porque uma pedra fria, e sem adornos, era menos indigna que o coração do homem, para sustentar a hóstia de propiciação.

Por que se utilizavam outros elementos materiais nos sacrifícios?

R. Simples elementos da natureza, como o sangue de animais, deviam substituir, exteriormente no holocausto, os pensamentos e os afetos do homem culpável, e extrair o mérito da grande vítima do mundo que representavam, bem como a fé dos sacrificadores, elevada à esperança do cordeiro de Deus.

Que nos diz S. Paulo sobre o holocausto destas hóstias ineficazes pela sua própria natureza?

R. S. Paulo nos diz que tais hóstias eram utilizadas como perpétua lembrança da impotência e da nulidade dos homens, imposta até o tempo fixado para o grande restabelecimento, e abolido na plenitude dos tempos, quando apareceu Jesus Cristo oferecendo-se, a si mesmo, em sacrifício, dando ao homem o direito de unir-se a Deus, não somente com um coração puro, como no dia da inocência, como também com um coração redimido, que apresenta um Deus como vítima de adoração, de expiação e de ação de graças.

Antes da vinda de Cristo, que era oferecido a Deus como vítima do sacrifício a Ele devido?

R. Como consequência da degradação do homem, que não podia oferecer seu coração no altar, a não ser unindo-o a rudes e impotentes símbolos da natureza, até que viesse o cordeiro de Deus, imolado em promessa e em figura (Apoc. 13), desde a origem do mundo, houve as seguintes ofertas:
1 – Abel oferece o melhor cordeiro do seu rebanho e, Caim, os frutos da terra que cultiva;
2 – Noé, ao sair da arca, oferece pássaros e animais;
3 – Melquisedeque, sacerdote e rei de justiça e de paz, oferece ao Senhor pão e vinho no altar de Deus dos exércitos, para distribuí-lo aos soldados vitoriosos;
4 – Abraão e os patriarcas imolam hóstias solenes, conforme o número de famílias e das tribos.

Por que Deus mandou que Abraão sacrificasse seu próprio filho?

R. Para mostrar, de uma vez por todas, até onde vai o seu direito nos sacrifícios que Ele exige das suas criaturas, e até onde chegará um dia a misericórdia divina, o Senhor manda Abraão imolar Isaac, seu único filho, se bem que se contente com a obediência do santo patriarca, e aceita a imolação de um cordeiro em seu lugar.

A noção da necessidade de sacrifício a Deus era prerrogativa só dos judeus?

R. Não; mesmo os povos que se esqueceram de Deus, da sua fé e do seu culto, para prostituir seus corações na idolatria, conservaram sempre, e por toda parte, a oblação dos sacrifícios, como um dogma primitivo.

Que diz Sto. Agostinho sobre o sacrifício dos pagãos?

R. Sto. Agostinho diz que, se os homens puderam se enganar sobre a unidade e natureza de Deus, não se enganaram neste ponto da religião; se suas falsas divindades exigiam, com orgulho, uma profusão de vítimas, era porque o demônio sabia que se devia oferecê-las ao verdadeiro Deus; e se as imolações dos gentios foram ridículas e bárbaras, como os sacrifícios humanos, foi porque era necessário acomodá-las às extravagâncias e às desordens da teogonia pagã.

O sacrifício físico da vida do homem poderia aplacar a justiça divina?

R. Não, porque, como a ofensa é proporcional ao ofendido, o homem sendo criatura, portanto contingente, jamais poderia aplacar a ofensa feita ao seu Criador, eterno e infinito.

Então, só Deus poderia aplacar sua justiça devida ao pecado do homem?

R. Sim; através da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, Homem Deus, Cordeiro de Deus, como canta a Igreja, contenta-se Deus com a imolação moral do homem, e das suas paixões, aceitando-a com misericórdia quando unida ao sacrifício do seu Deus.

Deus exigiu explicitamente sacrifícios do povo eleito?

R. Sim, quando o Senhor, elegendo para seu povo os filhos de Israel, os separou das nações idólatras, para conservar sua aliança e suas promessas, estabeleceu, nos mandamentos ditados a Moisés, a sucessão e a perpetuidade do sacerdócio de Aarão, a forma do seu tabernáculo, o lugar do seu templo, o número de vítimas e os ritos de cada oblação.

Que ordenou Deus ao seu povo, durante a caminhada no deserto em direção à terra prometida, após o jugo egípcio?

R. Deus ordenou que cada família imolasse e comesse um cordeiro, observando várias cerimônias simbólicas, e que assinalassem suas moradas com o sangue do cordeiro pascal, e renovassem esta imolação solene de ano em ano.

Até quando durou este rito?

R. Este rito vingou até a última páscoa, quando Jesus ceou com seus discípulos, e em que instituiu o verdadeiro Cordeiro Pascal, ou seja, seu sangue e seu corpo, cuja aplicação por nossas almas, nos livra da escravidão do pecado, e nos faz obter o céu, verdadeira terra prometida aos filhos de Deus.

Quando começou o sacerdócio da tribo de Levi, escolhida por Deus, para oferecer os sacrifícios?
R. Desde o sacrifício geral da nação ordenado por Deus, em que Ele estabeleceu que se multiplicasse o número de vítimas, devido à própria imperfeição das oblações, para atender, quanto possível, os fins do sacrifício, e para representar os méritos super abundantes da hóstia única que deveria, posteriormente, substituí-las.

Quais eram os sacrifícios sangrentos da lei mosaica?
R. Na lei mosaica havia os seguintes sacrifícios sangrentos:
1 – O sacrifício de latria, ou holocausto: nesta imolação a vítima era totalmente consumida no fogo, como reconhecimento do absoluto domínio de Deus, prestando-lhe, assim, o culto de latria ou de adoração e dependência;
2 – O sacrifício de impetração ou hóstias pacíficas: esta hóstia eucarística, ou impetratória, era oferecida para agradecer a Deus por todos os bens recebidos ou pedir-lhe graças, para a vida, a saúde, a paz, etc.
3 – O sacrifício de propiciação pelo pecado: instituído para expiar as faltas cometidas e obter o correspondente perdão. Era oferecido por particulares, pelos sacerdotes, ou por todo o povo; e, quando oferecido por toda a nação, como sacrifício único, além de se retirar o sangue das vítimas no Santo, sobre o altar dos perfumes e dos holocaustos, faziam-no no Santo dos Santos, como figura que o sangue de Cristo se apresentaria ao céu, abrindo-nos, assim, suas portas.
Cada uma destas oblações eram cheias de símbolos e de esperanças.

Que era o Santo dos Santos?

R. Assim era denominado o local do Templo dos judeus, onde se encontravam o altar de ouro para o incenso, e a arca da aliança, toda recoberta de ouro, na qual havia uma urna de ouro que continha o maná, o bastão de Aarão, que tinha brotado, e as tábuas da aliança. Nesse local entrava somente o sumo sacerdote, uma vez por ano, levando o sangue que ele oferecia por si mesmo e pelos pecados que o povo cometera por ignorância (Heb 9, 3-7).

Havia sacrifícios incruentos na Antiga Lei?

R. Sim, havia, também, os seguintes sacrifícios incruentos na Antiga Lei:
1 – A oferenda da flor de farinha, misturada ao azeite e incenso, queimada no altar dos holocaustos;
2 – O sacrifício do bode expiatório: na festa da expiação solene o povo apresentava dois bodes, embora um fosse degolado, o outro era oferecido vivo. O sacerdote impunha suas mãos na cabeça da vítima, confessava os pecados da nação, carregava-os no animal imundo e lançava-o no deserto.
3 – O sacrifício do pássaro posto em liberdade: para purificar uma casa infestada pela lepra, tomavam-se dois pássaros puros; imolava-se um num vaso cheio de água, no qual se vertia seu sangue, e, o outro, era imerso até a cabeça na água misturada com sangue, com um madeiro de cedro, hissopo e púrpura; após espargir a água, soltava-se o pássaro puro, livremente.

Que significavam estes sacrifícios da lei mosaica?

R. Facilmente se compreenderá que todas estes sacrifícios e cerimônias da lei mosaica eram figuras vivas do sacrifício de Jesus Cristo e dos frutos que deles resultariam aos homens para sua salvação.

Que méritos havia naquelas oferendas imperfeitas?

R. Embora imperfeitas, todo o mérito daquelas oferendas se baseava na obediência à ordem divina que as havia prescrito, e na fé e nas disposições interiores dos que as ofereciam, principalmente na esperança de hóstia perfeita, que tira os pecados do mundo (Jo 1, 29).

Como Deus sustentava a fé e a esperança do sacrifício futuro do Seu Filho em tais oblações?

R. Por meio de fortes e expressivas figuras como a do sacrifício de Isaac, de Melquisedeque, do cordeiro pascal, do bode expiatório sobre o qual se descarregavam os pecados de todos, e da ave pura, cujo sangue libertava a outra.

Que papel tiveram os profetas na expectativa da futura oblação?

R. Todos os profetas solenemente anunciavam, de século em século, a grande vítima que deveria chegar, e clamavam, sem cessar, contra a impotência das hóstias representativas.

Que dizia o profeta Davi sobre os sacerdotes do Antigo Testamento?

R. Nossos sacerdotes, dizia Davi, são conforme a ordem de Aarão; sucedem-se e substituem-se quando a morte os arrebata; porém virá outro pontífice que é o meu Senhor, a quem disse Deus: "Tu és sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque" (Sl 109, 4).

Que disse Davi sobre os holocaustos?

R. "Escuta Israel e entende o que diz este celeste pontífice pela boca de um dos seus enviados: os holocaustos, ainda que ordenados por Vós, Senhor, não lhes são agradáveis, mas Vós me destes um corpo para Vos oferecer e eu disse: "eis que eu venho" (Sl, 39, 8).
Que disse o profeta Malaquias sobre o sacrifício prometido?
R. Disse Malaquias:
1 – "A glória do segundo templo apagará o esplendor do templo erigido por Salomão" porque eu nele aparecerei para começar meu sacrifício.
2 – Finalmente, eu "não receberei mais vítimas de vossas mãos; meu nome não só será conhecido na Judéia, mas será grande entre todos os povos da terra, porque desde o "ocaso até a aurora, e em todo lugar se sacrifica e se oferece uma oblação pura em meu nome. Parece que já vejo esta oblação, e os tempos em que ela será oferecida não estão distantes (Mal 1, 10 -11).

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