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Um ano com dois Papas no Vaticano

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O abraço entre o papa Francisco e o Pontífice emérito Bento XVI, que por respeito e reverência ao seu sucessor tirou o solidéu da cabeça, é a imagem que ficará do Consistório de Bergoglio, cerimônia que no último dia 22 de fevereiro deu ao Sacro Colégio 19 novos cardeais. Pela primeira vez estavam presentes ao mesmo tempo na basílica vaticana dois sucessores do papa João Paulo II.

E pela primeira vez o Papa emérito, deixando por pouco tempo o retiro no Convento Maste Ecclesiae, participava de uma cerimônia pública, sob os refletores da mídia do mundo todo.

A sucessão de novidades deverá entrar para história, no momento em que a pouco mais de um ano Ratzinger renunciava ao papado, decisão que em 11 de fevereiro de 2013 literalmente modificou o curso da Igreja. E também justamente hoje, 13, quando é comemorado um ano da posse de Francisco. A partir daquele momento, a Igreja passou a abrigar a figura de dois papas.

Uma situação inédita que levantou delicadas questões no plano eclesiástico e teológico, mas que, até o momento, pôde conciliar bem a discrição de Ratzinger e a natureza expansiva de Bergoglio. Na cerimônia em que os novos cardeais eram nomeados e que soleniza a autoridade papal, Bergoglio fez questão de ter a presença de seu antecessor na Sé, evidenciando a fácil convivência entre os papas.

"Um belíssimo gesto da parte de papa Francisco. É o sinal da grande união da Igreja", comentou o ex-secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone.

E é bem provável que no próximo dia 27 de abril a mesma situação se repita, quando na Praça São Pedro forem proclamadas as santidades de papa João XXIII e de papa João Paulo II. Rumores dizem que na ocasião uma missa será celebrada pelos dois Pontífices.

Neste ano de convivência, Ratzinger sempre se absteve de se intrometer nos assuntos do governo, apesar de papa Francisco gostar de reunir-se com ele para trocar pontos de vista, ouvi-lo e vê-lo. Já foram várias as ocasiões em que Bergoglio organizou estas reuniões, demonstrando grande respeito e deferência por seu antecessor, sempre visto por Francisco como uma figura com quem pode se aconselhar, devido a sua sabedoria e experiência.

"É como ter um avô em casa", afirmou papa Francisco em julho de 2013, durante sua visita ao Rio de Janeiro.

Nos últimos tempos, porém, voltaram as discussões a respeito da renúncia de Ratzinger e aquilo que se sucedeu, como o fato de ter continuado a usar roupas brancas, ter recebido o título de "Papa emérito" em vez de "Bispo emérito de Roma", como havia sido aconselhado por autoridades canônicas, além da decisão de ter continuado a morar no Vaticano.

Há quem veja tudo isso como uma espécie de "diarquia" governando a cúpula atual da Igreja, mesmo havendo rumores de que pressões e conspirações influenciaram de alguma forma a renúncia do papa Bento XV, chegando ao ponto de contestar a sua validade.

Ratzinger rebate os rumores que cercam sua renúncia, taxando os boatos de "infundados", "absurdos" e "especulações". E faz questão de deixar claro que o Papa é somente um e é Jorge Mario Bergoglio.

A presença do Papa emérito, até o momento discreta e longe de interferir no governo da Igreja, e a manutenção de alguns símbolos do pontificado, reacendeu os ânimos de quem não se rendeu aos novos cursos. Situação que o próprio Bergoglio tem conhecimento e que provavelmente tenha decidido dissolver, mostrando que a participação de Ratzinger em alguns eventos não representa de nenhum modo uma ameaça a sua autoridade.

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