Doutrina

A GRAÇA

Paramentos Litúrgicos

 

Graça é um Dom de Deus. Dom gratuito, como tudo o que temos e que dEle nos vem. Nós a recebemos não por nossos méritos, mas pelos de Jesus Cristo, nosso Redentor. Pelo pecado original, o homem perdeu o Dom da graça santificante.

No princípio do mundo, Deus havia dado esta vida sobrenatural (vida na graça) a Adão e Eva – que, pelo pecado, a perderam. Cristo foi o Restaurador. Por Ele – e só por Ele – os homens se salvam: pelo sacrifício da cruz. Porque o Seu Sacrifício foi o Sacrifício perfeito – absoluto, pleno, universal – para todos os homens.

A graça é o meio para atingirmos nosso fim último, o Céu. Só pela graça podemos atingi-lo. É preciso ter a vida sobrenatural, para alcançar a salvação. É preciso estar vivo (pela graça) para atingir a plenitude de vida (no Céu).

É pela graça que somos unidos a Cristo e, em Cristo, unidos aos outros membros de Seu Corpo Místico. A graça é a seiva, o Sangue que nos liga à Cabeça. Comunicando-nos a vida divina.

A graça é a participação da vida divina.

Graça atual

É um socorro transitório que Deus concede a alma, para ajudá-la a evitar o mal e a praticar o bem. Vem de Deus, particularmente, do Espírito Santo. Do Espírito Santo que é Luz e Força, Sabedoria e Amor. É socorro ou inspiração divina que, inúmeras vezes, recebemos ao longo de nossa vida. Inúmeras vezes, em que somos livres para aceitá-la ou recusá-la.

Um bom livro que nos cai às mãos, um bom conselho, o arrependimento por um mal feito, a vontade de progredir no bem, bons pensamentos, bons desejos, são graças atuais. Como, também, podem ser graças o sofrimento, a doença, contrariedades.

Santo Inácio de Loyola, o valente soldado ferido, recebeu a visita do Espírito Santo quando, no hospital, leu livros religiosos – e, daí em diante, tornou-se um dos maiores soldados de Cristo.

S. Francisco de Bórgia, duque e vice rei na corte do imperador Carlos V, foi designado para identificar o cadáver de sua jovem e bela esposa, Isabel. A contemplação do corpo, já desfigurado, levou-o a decidir-se a renunciar honrarias. Pouco tempo depois, com a morte da própria esposa, ingressou na Companhia de Jesus, onde santificou-se.

S. Noberto, num passeio em que seu cavalo foi atingido por um raio, julgou ouvir a voz de Deus que censurava sua vida mundana e vazia – e, de fato, a ouviu, tornando-se um grande santo.

Quanto mais dóceis à voz de Deus – que nos fala através de tudo – mais graças recebemos. Quanto mais dóceis e sensíveis formos, em relação ao Senhor, mais e maiores graças recebemos. Saibamos ouvir Deus, que nos fala sempre. Na vida do cristão, tudo é graça, tudo é apelo, é chamado, é impulso, é convite à santidade.

Diante de uma festa de Primeira Comunhão, a lembrança de nossa inocência perdida; diante de um funeral, a ideia de nossa fragilidade e da própria morte – tudo, tudo são avisos de Deus. A assistência a um casamento, a um batizado, a visão de um desastre – tudo, tudo é graça. Tudo são sinais, são chamados, acenos de Deus para irmos ao Seu encontro. "Eis que bato e te chamo" – Ele nos diz a toda hora, por todos os modos.

Assim, cada um de nós, recebe, por diversas vezes, de várias maneiras, a visita do Espírito Santo, podendo ouvi-lO ou resistir à Sua inspiração. Quando se resiste à ação do Espírito Santo, perde-se uma série de graças, dando-se o contrário, quando se coopera.

O servidor que recebeu cinco talentos, e com eles colaborou, teve, como recompensa, mais outros cinco (Mt 13, 12).

Em cada circunstância, devemos pedir as graças de que necessitamos. Deus as concede sempre. "A minha graça te basta". "Ninguém é tentado acima de suas forças" – está na epístola de S. Paulo.

Graça Santificante

Quando se coopera com a graça atual, o Espírito Santo passa a habitar em nossa alma – e, então, possuímos a graça santificante, a presença permanente de Deus em nós.

"Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada" (Jo 14, 23).

Sob a ação da graça, penetrada pelo Espírito Santo, nossa alma, também, recebe uma certa luz.

‘Se pudéssemos ver a beleza de uma alma na graça de Deus, tombaríamos em êxtase" – disse Léon Blois.

E S. Vicente Ferrer disse: "Se pudéssemos perceber uma alma sem pecado, esqueceríamos completamente de comer e beber".

Santa Margarida de pazzi: "Se soubéssemos como Deus nos ama quando temos a graça santificante, morreríamos de alegria".

Em estado de graça santificante somos considerados amigos de Deus (Jo 15, 15), somos o "novo homem" de que falam (Jo 3, 5) e (Tl 3, 4-7).

Pela graça santificante, o Espírito Santo nos une a Deus, tornando-nos Igrejas vivas – somos então, "Templos do Espírito Santo". "No Pai-nosso, dizemos: Pai-Nosso, que estais no céus; mas, sobre a terra, o céu é a alma do justo, onde Deus habita" (Santo Agostinho).

Enfim, o Espírito Santo é a vida da alma – vida em plenitude, o que significa beleza, paz, alegria. Viver em estado de graça é já, na terra, possuir o Céu. Assim como a graça é a vida da alma, o pecado é a sua morte.

Pecados Veniais e Mortais

Pelo Batismo, nos livramos do pecado original. Porém, guardamos as suas consequências: as más inclinações. E, lamentavelmente, nós, cristãos, filhos de Deus, herdeiros de Cristo, membros de seu Corpo Místico, por nossa própria culpa, cometemos outros pecados – veniais e mortais.

Um pecado é mortal, isto é, causa a morte na alma, quando, em matéria grave, pecamos com pleno conhecimento e pleno consentimento. Matar, por exemplo, é matéria grave. Mas se alguém mata sem querer, não peca mortalmente ou, conforme o caso, nem de leve.

Em ato voluntário, porém desconhecendo a gravidade do que faz, como o caso de uma criança ou de um louco, também, evidentemente, não há pecado mortal. Faltando, pois, ainda que um só daqueles três elementos (matéria grave, pleno conhecimento e consentimento), o pecado não é mortal, podendo, então, ser venial.

Quem vive com cuidado atento às graças atuais, procurando permanecer na graça santificante, não comete, com facilidade, um pecado mortal. Mas é preciso prudência.

"Vigiai e orai para não cairdes em tentação".

Para evitar o pecado mortal é preciso não facilitar com o venial. "O temor de Deus é o princípio da Sabedoria". É salutar o temor do inferno, da condenação. É salutar o temor da justiça divina, "que pode tardar, mas não falha". Mas é melhor não pecar por amor. Porque, por amor, fomos remidos. Quem ama a Deus não se preocupa em evitar ofende-lO, somente de maneira grave. As bofetadas e a coroa de espinhos não mataram Jesus – mas Ele sangrou e sofreu por causa delas.

Com a alma em pecado mortal somos membros mortos, galhos secos que só "servem para ser cortados e jogados ao fogo" – como disse o próprio Jesus.

A pior coisa que nos pode acontecer é a morte em pecado mortal. Morrer como galho seco, como membro morto, é morrer já morto, já cego para a contemplação de Deus. Não brinquemos como fogo – sobretudo com o "fogo do inferno".

Se cairmos em pecado mortal, levantemo-nos logo. "Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá". Jesus nos espera sempre. A cada momento nos estende a mão. Não percamos o momento que passa – que poderá ser decisivo para nossa vida eterna.

Tentação não é pecado. Pelo contrário, pode ser motivo para aumento de graça. Tentação é oportunidade de combate.

Mas é preciso não facilitar. Evitemos o que nos pode tentar. Sejamos cautelosos. Não nos julguemos mais fortes do que somos – todos somos fracos. É preciso humildade.

"A luta contra um instinto, a vitória sobre uma paixão, nos ensinam muito mais na vida que a leitura de uma biblioteca". Segundo a Escritura, o justo é o que pode praticar o mal e não o pratica, o que firma a sua alma em Deus, tornando-se como uma fortaleza.

Por isso, "o justo florescerá como o cedro do Líbano".

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