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BUSQUEMOS E AMAMOS A POBREZA, POIS ELA É NOSSA CONDIÇÃO REAL DIANTE DE DEUS

Paramentos Litúrgicos

Por diversas vezes, referiu-se Jesus aos pobres. Fez, por primeiro, sadia opção preferencial por eles. O auditório galileu de Jesus era, em sua grande maioria, constituído de pessoas humildes e simples. Houve pessoas mais requintadas que se comoveram diante da pregação de Jesus, mas essas foram exceção. Diversas vezes, também, Jesus elogiou a pobreza e, no famoso Sermão da Montanha, de que temos um texto, hoje, no Evangelho de Lucas, Ele nos diz: “Bem aventurados os pobres, porque deles é o Reino de Deus.”

Na verdade, o Evangelista coloca essa afirmação na segunda pessoa do plural: “Bem aventurados sois vós, pobres, porque vosso é o Reino de Deus.” Diversos comentaristas e exegetas procuram fazer uma comparação entre essas palavras de Lucas e o correspondente texto em Mateus, pois ambos retiraram o material do Sermão da Montanha de uma fonte pré-evangélica, chamada fonte Q, cujo conteúdo não chegou até nós. Perguntam-se qual teria sido a expressão saída da boca de Jesus: se esta, de Lucas, ou se a de Mateus: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” Acredito ser essa uma questão ociosa, pois os dois Evangelhos foram escritos em grego, e Jesus não falava grego. Ele, certamente, falou aramaico e, desta feita, querer buscar no grego as exatas palavras de Jesus é um trabalho, a meu ver, votado à inutilidade.

De qualquer maneira, podemos iniciar nossa reflexão da seguinte forma: quando Jesus Se dirige aos pobres ou elogia a pobreza por amor ao Reino, podemos transformar o imperativo em indicativo, e assim: “sede pobres” ou “bem-aventurados os pobres,” na seguinte expressão: “vós sois pobres.” Com outras palavras, nossa condição real e verdadeira diante de Deus é de pobreza radical e qualquer atitude que procurássemos trazer à nossa vida, a fim de mascarar esta realidade, seria uma ilusão que, necessariamente, se transformaria, cedo ou tarde, em decepção porque, na verdade, somos pobres e mendigos. Sim, pobres, ontologicamente pobres, também com relação à graça, pois em tudo somos dependentes de Deus. Existe um momento na vida que não poupará quem quer que seja que hoje assuma ares de pessoa sofisticada: é o momento de nossa morte. Nesse momento supremo, o ser humano se despojará de tudo, absolutamente tudo o que possui. Não poderá apegar-se, sequer, ao próprio corpo.

A única coisa que, naquele instante derradeiro e catastrófico, poderá fazer é tentar viver ativamente sua morte, e não recebê-la passivamente, porque não há remédio contra ela. E, assim, aceitando sua pobreza radical, transformar a morte em último ato de doação absoluta e total: “Pai” – repetindo as palavras de Jesus – “em Vossas mãos entrego a minha vida.”

Antes que isso aconteça, busquemos e amemos a pobreza, pois ela é nossa condição real diante de Deus. Deixemos que o Pai de Jesus Cristo, de quem provém todo dom perfeito, nos enriqueça da forma como Lhe convier, com os dons que não merecemos, mas que nos advêm graças ao que Jesus realizou em nosso favor. – Por Padre Fernando Cardoso.

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