A GERAÇÃO REACIONÁRIA – Católicos estão se levantando em defesa da vida e da família tradicional
“O reacionário é o que se salva hoje, eu não tenho o menor pudor de ser chamado de reacionário, me chamem de reacionário”. A declaração é de Nelson Rodrigues, um dos maiores ícones da literatura nacional e ferrenho opositor das teses comunistas. No país dos black blocks, dos rojões na cabeça de jornalistas e de crianças incineradas dentro de ônibus, se estivesse vivo ainda hoje, Nelson Rodrigues assistiria sem muita perplexidade à realização de uma de suas crônicas mais famosas: A Revolução dos Idiotas.
Na terra onde pisou Napoleão, porém, o processo parece sofrer um revés. Estampa a capa do semanário francês ultra-liberal Le Nouvel Observateur a seguinte manchete: A Geração Reacionária. O nome é uma forma de simplificar – e, tratando-se de uma publicação liberal, pintar no mesmo nicho várias correntes diferentes, incluindo muitas que são radicais e detestáveis, da época do século 20 – o movimento liderado por católicos e outros conservadores, que tomou as ruas de Paris – e está varrendo a nação da Revolução de 1789 e o terror anti-católico –, lutando por valores tradicionais como a defesa da vida e da família.
A luta desse novo grupo que, ao contrário do que se vê no Brasil, não é subsidiado por nenhum partido político, não se aplica a assuntos políticos de cunho subjetivistas, em que católicos podem prudentemente discordar, mas a uma específica defesa daqueles três temas que o então Papa Bento XVI, falecido em 2022, chamou de “não negociáveis”:
A tutela da vida em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural; reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimônio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu caráter particular e o seu papel social insubstituível; tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos.
Essa realidade faz ecoar no coração do homem aquela certeza que nenhuma ideologia pode cancelar: a lei natural, inscrita na alma por Deus. Diante de uma “cultura relativística e consumista”, em que se nega impunemente todo e qualquer valor moral, ao ponto de confundir-se os fundamentos da humanidade, é mais do que justo que a defesa da vida – desde o primeiro momento da concepção até à morte natural, como lembrava Bento XVI –, e de outros valores igualmente importantes, se torne “o grande campo comum de colaboração” entre católicos, evangélicos, judeus etc. Posto que cada um desses povos, unidos pelos laços da fé num mesmo e único Deus, sofreu na pele a perseguição anti-humana, no século passado, a união desses mesmos povos contra a destruição da família é um dever fundamental.
A luta dessa “geração conservadora” na França, por sua vez, deu-se num contexto de ataque aberto à vida e à família. Em resposta à lei do “casamento homossexual”, introduzida pelo governo socialista (chamada eufemisticamente de “mariage pour tous,” ou “casamento para todos”), uma coalizão de católicos e outras mentes conservadoras formou o “Manif pour tous” – cujos protestos multitudinários causaram imensa aflição e embaraço para a classe política francesa. Muitos bispos também apoiaram o movimento.
Conservadores e católicos tradicionais em um dos países mais secularizados da terra estão mostrando que uma minoria motivada pode obter feitos em favor da família tradicional e da defesa da vida.