Cultura da morte para resolver os problemas da vida?
Enquanto aumenta a polêmica em torno de dois projetos de lei sobre o aborto na Argentina, a Igreja mantém seu magistério sobre a sacralidade da vida humana.
O presidente do Comitê de Bioética do país, Nicolás Lafferriere, afirmou que é “pelo menos duvidosa” a pré-aprovação da proposta de lei do aborto, votada pela Comissão de Legislação Penal da Câmara dos Deputados da Nação.
Fontes legislativas explicaram que eram necessários oito votos para o projeto seguir em frente, e só cinco foram conseguidos.
A comissão obteve as assinaturas de Victoria Donda (Frente Ampla Progressista), Fernanda Gil Lozano (Coalizão Cívica), Rubén Lanceta (UCR), Jorge Rivas (Novo Encontro) e Horacio Alcuaz (Frente Ampla Progressista).
Os legisladores a favor do projeto deram uma imagem triunfalista que não corresponde à realidade, já que a proposta precisa passar por várias comissões até chegar ao plenário.
No Congresso, circulou a informação de que os legisladores kirchneristas teriam recebido uma mensagem da Casa Civil: “A presidente [Cristina Kirchner] não está de acordo com o aborto”.
Depois que for comprovada a validade da aprovação inicial, ainda envolvida na polêmica em torno à insuficiência de assinaturas, a proposta deverá passar pelas comissões de Saúde e de Família, Mulher, Infância e Adolescência.
O deputado Omar de Marchi afirmou aos meios de comunicação que “o ditame da Comissão de Legislação Penal foi invalidado porque as rubricas não cumpriram os requisitos da lei”.
Ao terminar a sessão, o presidente da Comissão de Legislação Penal, João Carlos Vega (Coalizão Cívica), informou que havia seis votos para um projeto (o de legalização do aborto) e um voto para outro (sobre o modo de aplicar as exceções à penalização do aborto). Mas afirmou que nem os dois juntos poderiam ter tido despacho, por falta de quorum.
No último instante, a deputada Vilma Ibarra (Novo Encontro), que não pertence à comissão, fez uma interpretação com base num precedente: que bastava a metade mais um dos presentes. Num marco confuso, a deputada conseguiu fazer prevalecer esse critério, que o presidente acatou.
Movimentos sociais pró-vida repudiaram a sessão da comissão. Em marcha, reuniram mais de duas mil pessoas na capital.
Os deputados Cynthia Hotton, Alfredo Olmedo, Bernardo Biela e Julián Obiglio aderiram à expressão em favor da vida. Alguns bispos reafirmaram alinhar-se com a Conferência Episcopal, contrária ao aborto.
O arcebispo de Tucumán, Alfredo Zecca, insistiu em rejeitar de forma terminante essa prática: “O aborto é um crime abominável”.
Afirmou que “especulam com cifras de abortos absolutamente mentirosas, dizendo que acontecem 500.000 mortes por abortos quando isso é uma coisa inventada. O aborto não se justifica em nenhuma circunstância, por nenhum motivo, porque a vida é um dom sagrado que não podemos tocar”. Afirmou que “a mulher não carrega no ventre um conjunto de células, mas um ser humano com todo o seu código genético”.
“Os deputados têm que se informar, ter consciência de que o respeito da vida não tem a ver só com a fé, mas também com a razão, com o respeito da lei natural. Ninguém pode se dizer cristão e apoiar o aborto”