O Período da Quaresma
As grandes festas do cristianismo são precedidas de um tempo de penitência e austeridade, para que deste modo os cristãos possam tirar o maior proveito possível destas grandes celebrações litúrgicas. Assim como o Natal é precedido do Advento, a Páscoa é precedida da Quaresma.
A Igreja prepara-nos para a Páscoa através da liturgia e os exercícios quaresmais e da semana santa. São três as práticas recomendadas pela Igreja neste tempo sacrossanto: a oração, a penitência e a esmola.
Os três relacionam-se com os nossos deveres para com Deus, deveres pessoais e deveres para com o próximo. A oração nos relaciona com Deus. Devemos neste tempo dedicar um tempo mais generoso aos exercícios de piedade, bem como devemos melhorar mais do que na quantidade, na qualidade das nossas orações. Já a penitência coloca mais ordem dentro de nós. Torna-nos mais sóbrios e moderados, trazendo um equilíbrio maior nas diversas manifestações e impulsos da nossa natureza.
A palavra penitência lembra-nos a mortificação dos sentidos internos e externos. Mas, sobretudo, penitência significa conversão de vida, mudança de conduta e de comportamento. Em grego, a palavra “metanoia”, tem um significado mais profundo e radical que a sua tradução, penitência. “Metanoia” significa esta transformação que deve marcar a vida do cristão, à semelhança do fenômeno que acontece na natureza, a metamorfose. Uma lagarta (pecador) passa por um processo de mudança no casulo (retiro e meditação) entra no estado intermediário da crisálida (decisão de mudança por parte de uma vontade firme) e chega ao estágio final, a borboleta (nova criatura). Cristo ressuscitado já exige de nós uma ressurreição espiritual.
Não podemos mais, na condição de membros de Cristo, viver presos no túmulo dos nossos pecados, vícios e paixões desordenadas. Por fim, a prática da esmola ao mesmo tempo em que nos liberta do egoísmo e da avareza, faz com que demonstremos nosso amor ao próximo socorrendo-o em suas necessidades, conforme o mandamento de Jesus, que se identifica na pessoa dos pobres, dos pequeninos e desvalidos.
A prática da caridade é fundamental na vida do cristão. O então Papa Bento XVI lembrou em 2009, há dez anos – os deveres dos cristãos neste tempo: “A Quaresma… convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola”.
Na ocasião, o pontífice destacou como ponto principal da sua mensagem, a conexão ou um entrelaçamento indissolúvel entre a fé e a caridade. “Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas…” Exemplificando, acrescenta o Papa: “ Na Sagrada escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf.At. 6,1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se a contemplação e ação, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10,38-42)”. Mais à frente ele afirma que a maior caridade que se pode fazer ao próximo é a evangelização: “Não há ação mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus”. Para encerrar a mensagem, o Papa enfatiza “prioridade da Fé e a primazia da Caridade”.
“Crer na Caridade gera Caridade”. Consolar os aflitos e rezar pelos vivos e defuntos são obras de misericórdia, como nos ensina o catecismo católico.
São Paulo aos Tessalonicenses procurava incutir nos cristãos o dever da caridade de consolar os que perdiam seus entes queridos, lembrando-lhes que os que partem desta vida apenas dormem, pois serão um dia despertados na ressurreição da carne. Ele lembrava que os que não tem fé, como os pagãos, se desesperam diante da morte.
Os cristãos deveriam consolar-se com a fé na ressurreição futura. Só a fé na ressurreição é capaz de aliviar, por exemplo, o sofrimento das famílias atingidas pela morte de tantos jovens que são mortos diariamente pelas questões relacionadas ao tráfico de drogas, por exemplo. Bem ao contrário, desastrada é a “revelação” de certos seguidores de seita reencarnacionista – que negam a ressurreição – que afirmam, que em outro exemplo, que a tragédia que atingiu uma boate no ano de 2013 – há exatos seis anos – aconteceu justamente por ocasião do aniversário do holocausto judeu. Isso evidenciaria que aqueles jovens teriam sido justiçados pelas forças do além, pois que seriam reencanação de nazistas alemães.
Teriam morrido da mesma forma que mataram, por gases tóxicos. Que estranha doutrina esta, incapaz de levar conforto para as famílias enlutadas! Só a fé verdadeira gera também a verdadeira caridade. E “crer na Caridade gera caridade”. (Por Fabio Botto)