Ciência e Fé

CIÊNCIA PODE EXPLICAR TUDO?

Paramentos Litúrgicos

Um olhar sobre o progresso científico com um pouco de perspectiva histórica deixa-nos espantados com a rapidez com que as máquinas são ultrapassadas e vão parar nos museus. Muitas afirmações das revistas científicas atuais provavelmente serão motivos de riso ou de assombro para as gerações futuras, talvez em menos tempo ainda. A história da ciência adverte-nos, com teimosa insistência, sobre um fato irrefutável: poucas teorias científicas conseguem manter-se em pé, mesmo que por poucos séculos; muitas vezes, só por alguns anos; e em alguns casos, menos ainda. A maioria das afirmações da ciência vai sendo substituída, uma atrás da outra, pouco a pouco, por outras explicações mais complexas e mais fundamentadas dessa mesma realidade. Eram hipóteses tidas como certas durante uma série de anos, ou de séculos, e que um dia se descobre que estão superadas. Umas vezes, são englobadas dentro de teorias mais completas, das quais a antiga hipótese é um corolário ou um simples caso particular. Outras ficaram obsoletas e desapareceram por completo do âmbito científico. A postura própria da ciência experimental deve ser, portanto, extremamente cautelosa nas suas afirmações.

“Uma cilada perniciosa” – escrevia John Eccles pouco depois de ter recebido o Prêmio Nobel pelas suas pesquisas em neurocirurgia – surge da pretensão de alguns cientistas, mesmo eminentes, de que a ciência não demorará a proporcionar uma explicação completa de todas as nossas experiências subjetivas. É uma pretensão extravagante e falsa, que foi qualificada ironicamente por Popper como “materialismo promissório”. É importante reconhecer que, mesmo que um cientista possa manifestar essa pretensão, não se comportaria como cientista, mas como um profeta mascarado de cientista. Isso seria cientificismo, não ciência, embora impressione fortemente os profanos que pensam que a ciência produz de forma incontroversa a verdade. O cientista não deve pensar que possui um conhecimento certo de toda a verdade. O máximo que nós, os cientistas, podemos fazer é chegar mais perto de um entendimento verdadeiro dos fenômenos naturais mediante a eliminação de erros em nossas hipóteses. É da maior importância para os cientistas que apareçam perante o público como o que realmente são: humildes buscadores da verdade”.

Em contrapartida, a imodéstia costuma caminhar a par da ignorância. A auto-suficiência com que alguns falam reflete uma atitude muito pouco científica, pois os cientistas sensatos nunca conferem a categoria de dogma às suas hipóteses.

O cientificismo orgulhoso prestou sempre um péssimo serviço ao rigor da verdadeira ciência.

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