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Comunhão sonegada, entre o delito e o crime: o escândalo de Dom Joaquim Mól

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O escândalo protagonizado por Dom Joaquim Mól, bispo auxiliar de Belo Horizonte, mostrou a força dos fieis verdadeiramente católicos do Brasil. Embora as análises de conjuntura da CNBB tentem sempre confinar o conservadorismo católico nos estreitos limites de uns poucos grupos, o que se viu foi uma verdadeira onda de indignação, que causou reboliço.

Os libertadores acham que podem tudo. Acham que o fato de serem respaldados por um papa ideologicamente alinhado com eles lhes garante total isenção de imputabilidade por delitos canônicos, ainda que públicos. Talvez tenham, realmente, razão.

O problema não é somente a hipocrisia da tolerância e da inclusão seletivas – advogam a comunhão para adúlteros enquanto a sonegam para católicos fieis, conclamam a acolhida dos homossexuais em pecado público enquanto sonegam a Eucaristia a uma católica no dia de sua Confirmação –, mas é a completa desfaçatez, inclusive diante do flagrante ilícito.

Sim, porque se dar a Comunhão sob as duas espécies na mão é terminantemente proibido pela Igreja, querer obrigar uma pessoa a ser cúmplice desse pecado público é não apenas autoritarismo, mas a imposição da desobediência como lei, pelo abuso da obediência. Não se tratava tanto do direito de comungar de joelhos e na boca, assegurado pela Igreja a todo fiel, mas do dever de um católico não ser cúmplice de um delito cometido pelo bispo. Repito: dar a comunhão sob as duas espécies na mão é proibido pela Igreja!

No mais, tudo naquele vídeo é grosseiro, aviltante: desde a vexação pública de uma pessoa diante de uma multidão até o agravante de fazê-lo no próprio dia em que recebia a Crisma, desde o fato de uma violência moral até a circunstância de que foi perpetrada de um homem contra uma mulher, de um adulto contra uma adolescente, de um bispo contra uma fiel. É tudo absurdo! Tudo chocante!

Ao invés de reconhecer o erro e pedir humildemente desculpas, o bispo reafirma o que fez e se escusa invocando uma pandemia que já acabou e a alegria dos jovens que tiraram foto após a Crisma, como se tudo isso o isentasse dos inúmeros delitos, canônicos e civis que ele cometeu. Se os libertadores desconhecem a humildade e são seres embriagados de soberba, isso não lhes permite atropelar pessoas impunemente. As ideias sanitárias ou as manias que queira fomentar o bispo são um problema dele; nada disso é de fé; e querer impô-lo não passa de puro abuso de autoridade, ainda em contrariedade às leis da Igreja.

Porém, como tudo na Igreja hoje está condicionado pelo sequestro ideológico da Sé Apostólica, não se pode esperar que algo de realmente efetivo seja feito contra uma delinquência pública e grave. E é aqui que acaba a misericórdia bergogliana, a Igreja inclusiva e a sinodalidade. Tudo não passa de retórica morta, discurso farisaico para o empoderamento da ala revolucionária que pretende utilizar a estrutura da Igreja Católica como meio de execução da agenda da nova esquerda.

O que assistimos nesse final de semana não foi uma excepcionalidade, foi uma imagem da eclesiologia vigente hoje: a imposição de uma ideologia maluca em prejuízo da piedade e do direito dos fieis! Nisso se pode resumir a versão do catolicismo episcopal dos nossos dias. Não importa o que pensam os leigos, os seus sentimentos, as suas devoções; o que importa é o que o alto clero pensa e quer impor; não importa se há um êxodo imenso de católicos para as seitas pentecostais e a não adesão dos mesmos à ideologia de seus pastores; o que importa é que eles querem cega e obstinadamente prosseguir em seu intento revolucionário, mesmo que isso lhes custe a perda total da reputação.

Dom Joaquim Mól pode ser promovido a arcebispo e até receber o barrete cardinalício, contudo, não poderá jamais gozar de prestígio entre os fieis verdadeiramente católicos. A máscara caiu. O diabo mostrou as suas fuças!

Como tais bispos já cancelaram completamente o povo de seu horizonte de consciência, pouco lhes importa o que pensa ou como são por ele julgados: importa-lhes mais demonstrar fidelidade à causa para obter benefícios de carreira e a lisonja de seus pares clericais. E ainda gritam veementemente contra o clericalismo, o carreirismo, a intransigência, o fanatismo, o autoritarismo, a autorreferencialidade, a lógica do poder e todas as outras atitudes que eles mesmos encarnam com exatidão estarrecedora.

A única coisa que não podemos esquecer é que, embora o partidarismo pontifício tenha restringido a justiça àqueles que não lhe são entusiastas, do ponto de vista civil – já que clamam tanto pela laicidade do Estado –, qualquer cidadão pode exigir reparação aos constrangimentos sofridos. Para isso, porém, os fieis precisam ter a clareza necessária de que o pastor não passa de um lobo disfarçado que se serve do benefício de seu cargo eclesiástico para cometer crimes e que, no caso, denunciá-lo nada mais é que reparar a justiça, a equidade. Terão os fieis a fibra moral necessária para perceber a realidade e tomar as medidas cabíveis? Duvido muito.

Enquanto Dom Mól ri da cara de todos os seus críticos e deles despreza com sua arrogância prelatícia fingida de mansidão, resta-nos ter paciência e exercer o direito que nos cabe, o famoso jus sperniandi, até que o mal por si se destrua, não sem uma especial intervenção de Nossa Senhora.

(Por Ornela Falacci)

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