DOS CATÓLICOS LEIGOS QUE NÃO SE CASARAM
Há, entre pessoas que se dizem católicas, aquelas que fazem comentários desdenhosos e insinuações maliciosas contra católicos laicos que não se casaram e nem tiveram filhos, e inclusive chegam a colocar em dúvida a sua virtude e a sinceridade de suas intenções; chegam, mesmo, a querer fazê-los se sentirem constrangidos por fazerem parte da Igreja e por empreenderem qualquer apostolado, unicamente porque são leigos solteiros e sem filhos.
São pessoas que acreditam que, se algum homem não se casou e nem teve filhos, então é porque é um irresponsável; e, sendo mulher, é uma solteirona desprezível. O que lhes sobra de malícia, lhes falta de discernimento: ignoram que, primeiro, existem razões legítimas para que um católico, mesmo sendo laico e vivendo no século, não tenha se casado e formado família; e, segundo, existe uma vocação deste tipo na Igreja, e se chama virgindade no mundo.
Trata-se de uma vocação tão legítima quanto o matrimônio ou o estado religioso — e é, inclusive, superior ao primeiro. Houve diversos santos e inúmeras almas de elite que seguiram essa vocação, que ou a escolheram deliberadamente, ou, por razões justas e legítimas, decorrentes dos planos da Providência, foram conduzidas para esse estado.
Muitas dessas almas viveram como virgens em meio ao mundo, não se encerraram dentro de um convento, não se casaram e nem tiveram filhos, mas se dedicaram intensamente ao cuidado de pais idosos e doentes, de irmãos pequenos e órfãos, dos pobres e infelizes em geral, vivendo suas vidas no recolhimento e na obscuridade, entregues às obras de caridade, à oração, e unidas intimamente com Deus, em meio às mortificações, penitências e sacrifícios de uma alma adornada com as mais belas e fecundas virtudes. Mesmo no mundo, foram verdadeiras e dignas esposas de Jesus Cristo; e após a morte, receberam uma coroa inaudita de glória.