Há quem nega Deus e quem abusa de Deus: esta é a pior maneira de negá-lo
Para a compreensão do complexo momento atual, especialmente das questões do Oriente Médio, é interessante o recente livro de Massimo Borghesi, intitulado "Crítica da teologia política: De Agostinho a Peterson, o fim da era constantiniana" (Marietti, Milão, 2013). Esta obra ajuda a compreender o complexo momento atual.
Reproduzimos a seguir alguns trechos.
A teologia política se ativa apenas em função de um adversário, de um inimigo. Nisto, Carl Schmitt, o teórico da teologia política do século XX, está muito certo. Não há uso político da religião se não há inimigos. É o que foi visto depois de 1989: a era da globalização, uma vez derrotado o comunismo, não precisa mais da consagração religiosa. O capitalismo dos anos 1980 e 1990 não sabe o que fazer com a religião. Ela volta a calhar depois de 11 de setembro de 2001, com o choque de civilizações que dividiria o Ocidente do islamismo radical. A desastrosa guerra no Iraque é um marco da crise, pelo menos no Ocidente, a partir desta perspectiva. Hoje, a Europa não é dominada por teologias políticas, mas por um niilismo generalizado que tem sérias dúvidas sobre o próprio futuro. O drama consiste em não se saber opor nada às teologias políticas que provocam o derramamento de sangue no Oriente Médio e no Norte da África, além do próprio ceticismo.
A teologia política não representa um ramo da teologia. Ela é uma forma de secularização, isto é, de mundanização da fé. A confusão decorre do fato de que não se distingue, habitualmente, entre a teologia política e a teologia da política. A teologia da política implica a transcendência do momento teológico sobre o momento político; ela lida com a dimensão política em função do bem da civitas. É uma relação indireta. A Igreja não intervém diretamente na política, no Estado. Ela opera através de uma mediação ética, jurídica, sem a pretensão de que as leis civis coincidam totalmente com a ética cristã. A teologia política, pelo contrário, atua diretamente. Ela precisa do poder para ser. E isto ocorre tanto na sua versão de direita, em que a Igreja se torna Igreja de Estado e o Estado se torna confessional, quanto na de esquerda, em que a Igreja se torna, como em Metz, o sujeito perenemente "crítico" das instituições mundanas, uma espécie da contra-poder permanente. [ … ]
A graça é o verdadeiro contra-poder. Por isso, o seu fruto é a humilitas. A escolha inédita do papa Bento, de renunciar ao pontificado, assume, deste ponto de vista, o valor de marcar época. Bento XVI é o papa que iniciou o seu pontificado com o mandado de opor-se à sujeira na Igreja, isto é, à mundanização e burocratização que caracterizou a vida na Igreja ao longo dos últimos trinta anos. A teologia política, neste caso, significava clericalismo, uso inescrupuloso do poder em função de carreiras. É aqui que se encontra o fio condutor que, superando a diversidade dos estilos, une o pontificado de Bento XVI ao de Francisco.