Padre Reginaldo Manzotti e a sua negação da Divindade de Cristo
Em entrevista concedida ao Canal do Youtube Flow, Padre Reginaldo Manzotti, defensor da Renovação Carismática, proferiu uma porção de erros contra a Fé. No bojo desse pacote de heresias, o sacerdote negou explicitamente a Divindade de Cristo. Para o padre carismático, que contradiz o ensino infalível da Igreja, Jesus teria perdido, no ato da sua encarnação, a onisciência Divina. Com efeito, Cristo nunca foi capaz de prever um acontecimento futuro, asseverou o padre aos seus telespectadores. E por ter perdido a sua Divindade, na condição de Filho de Maria, Padre Manzotti não hesitou em sustentar que Jesus cometeu erros durante sua vida na Terra.
Para uma análise justa das afirmações, transcreveremos esse trecho específico da entrevista:
“Ele era Deus, mas não esqueça de uma coisa, mesmo sendo Deus, quando ele se encarnou no seio da Virgem Maria, Ele perdeu a Onisciência. Quando alguém perguntou: Jesus, quando será o fim do mundo? Compete ao Pai. Ele não sabia. As faculdades transcendentais como Deus, já não tinha mais. Ele era humano. Jesus cometeu erros. Por exemplo, ele disse que a semente de mostarda é a menor semente do mundo. Não é verdade. Mas no mundo que Ele vivia, o que Ele conhecia, sendo homem, era a semente de mostarda. Não é que ele cometeu erros. Ele estava preso à sua cultura. Ele não sabia que existia outros países. Ele nunca foi para a Itália. Ele não conhecia outras civilizações. Ele não teve contato com o Egito. A linguagem de Jesus era uma linguagem judaica. Respondendo a tua pergunta: Ele era Deus, desde que nasceu… Mas Ele, São Paulo vai dizer: sendo Deus, abriu mão – ta lá em efésios – de toda a sua divindade, tornando-se homem em tudo” até no conhecimento, menos no pecado’. Então, ele abriu mão de saber o fim do mundo. Jesus nunca fez isso de prever futuro”
(https://www.youtube.com/watch?v=TTp3sZd9iRE)
As assertivas, componentes da declaração, constituem uma negação notória da Divindade de Nosso Senhor. Ora, dizer que Cristo é Deus, mas que, ao encarnar no seio da Virgem Maria, perdeu toda a sua Divindade, é uma patente contradição, além de uma heresia condenada, repetidas vezes, pelo Magistério da Igreja. A coexistência de duas naturezas – Divina e Humana – que juntas constituem a Pessoa Cristo, é Dogma da Igreja Católica. Como veremos, negar essa Verdade do Depósito da Fé, constantemente ratificada de modo solene pelo Magistério Infalível dos Papas, é incorrer em pecado suscetível de excomunhão.
Não precisamos ir fundo na Teologia para denunciar como herética essa negação do Padre Reginaldo Manzotti. O próprio Credo da Igreja – verdadeira definição de Fé – contém de modo reluzente o dogma das duas Naturezas de Cristo Nosso Senhor:
“A retidão da fé consiste, pois, em crermos e confessarmos que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, porquanto gerado da substância do Pai antes dos séculos; homem, porquanto no tempo nasceu da substância de sua Mãe. É Deus perfeito, e perfeito homem, por subsistir de alma racional e de carne humana; é igual ao Pai segundo a divindade, e menor que o Pai, segundo a humanidade” (Símbolo ‘Quicumque’, dito Símbolo Atanasiano).
Essa mesma Fé na Divindade de Cristo, Verdadeiro Deus e Homem, proclamou solenemente o IV Concílio Ecumênico de Calcedônia, contra o erro Monofisista:
“Seguindo, pois, os Santos Padres, todos em uma só voz, ensinamos que se deve confessar um só Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na divindade e perfeito na humanidade, Deus verdadeiramente, e verdadeiramente homem de alma racional e de corpo, consubstancial ao Pai quanto a divindade, e consubstancial aos homens quanto a humanidade, semelhante em tudo a nós, menos no pecado (Hebr. IV, 15); gerado pelo Pai antes dos séculos quanto a divindade, e nos últimos dias, por nós e por nossa salvação, gerado de Maria Virgem, mãe de Deus, quanto a humanidade; que se deve reconhecer um só Cristo Filho Senhor Unigênito em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação, de modo algum suprimida a diferença entre as naturezas por causa da união, mas sim conservando cada natureza a sua propriedade…” (Denzinger 148).
Enquanto o Padre Mazotti diz que Cristo perdeu sua Natureza Divina, no ato da sua Encarnação, a Igreja, em seu Magistério Infalível, sempre declarou que o Verbo conservou sua Divindade na Pessoa de Jesus Cristo. Poderíamos seguir citando mais declarações da Igreja, formando uma Suma contra a heresia do Padre Carismático. Porém, como se trata de uma Verdade fundamental do Credo Católico, cuja negação atinge diretamente a Redenção de Cristo – consumada justamente por causa da Divindade de Nosso Senhor – fechamos essa primeira parte da exposição, alertando o padre do risco de excomunhão, uma vez que sua heresia é anatematizada:
“Se alguém não confessa, de acordo com os Santos Padres, propriamente e segundo a verdade, que se conservaram nEle [Cristo] as propriedades naturais da sua divindade e da sua humanidade, sem diminuição nem prejuízo, seja condenado” (Denzinger 262).
Também não escapa da condenação a proposição, segundo a qual, Cristo não tinha a Onisciência ou Ciência Divina, mas unicamente um conhecimento humano. Esse erro é censurado pelo Decreto Lamentabili do Papa São Pio X:
“O crítico não pode atribuir a Cristo uma ciência inteiramente ilimitada, senão na hipótese, inconcebível historicamente e que repugna ao senso moral, isto é, de ter Cristo, possuído como homem a ciência de Deus…” (Papa São Pio X. Decreto Lamentabili Sine Exitu, XXXVI).
O sacerdote ainda tentou fundamentar sua negação da Divindade de Cristo, recorrendo a trechos da Escritura, sem o respaldo do Magistério da Igreja.
Para “provar” a ausência da Onisciência Divina em Cristo, apresentou a passagem bíblia onde Nosso Senhor parece desconhecer o dia da sua segunda vinda gloriosa:
“Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (São Mateus XXIV, 36).
Ao invés de fazer o livre-exame da Bíblia, causa dos erros “exegéticos” do Padre Manzotti, consultaremos – como sempre – a voz segura do ensino Apostólico.
Comentando esse trecho do Livro Sagrado, ensinou São Jerônimo:
“Assim, pois, tendo provado que o Filho não ignorava o dia da consumação, será preciso demonstrar o motivo pelo qual Ele não ignorava. Interrogado depois da ressurreição, pelos apóstolos acerca deste dia, bem claramente respondeu: Não compete a vós saber os tempos e os momentos que o Pai colocou em seu próprio poder. Com isso dá a entender que Ele sabia, mas que não convinha que fosse conhecido pelos apóstolos, para que estando sempre incertos da vinda do juiz, vivessem de tal maneira todos os dias como se houvessem de ser julgados no mesmo dia” (apud Santo Tomás de Aquino, Catena Áurea, Comentário ao Evangelho de São Mateus, XXIV).
Cristo então disse não saber – o dia do segundo juízo – não por confessar uma suposta ignorância, mas para ocultar – por conveniência – essa revelação dos Apóstolos.
Nesse mesmo sentido comentou Teofilato:
“Querendo impedir o Senhor que lhe perguntassem seus discípulos sobre o dia e a hora, disse: ‘Quanto ao dia e a hora, nada sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, somente o Pai’. Se tivesse dito que sabia, mas que não queria revelar-lhes, os teria entristecido ao extremo. Por isso agiu mais sabiamente dizendo para que não lhe importunassem insistindo sobre a mesma pergunta: nem o sabe os anjos do céu, nem eu” (apud Santo Tomás. Catena Áurea).
Essa objeção do Padre Manzotti também é refutada pelo Doutor Angélico na Suma Teologia. No artigo sobre “Se a alma de Cristo conhece todas as coisas no Verbo”, Santo Tomás apresenta a seguinte objeção: “Pois, diz o Evangelho; A respeito porém deste dia ninguém sabe quando há de ser nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai. Logo, não conhece todas as coisas no Verbo”
É a mesma passagem bíblica utilizada pelo Padre Manzotti para negar o conhecimento Divino de Cristo.
Diferente do Padre da RCC, Santo Tomás recorre à Tradição da Igreja para dar a devida solução para a questão:
“Ario e Eunómio entenderam essas palavras, não quanto à ciência da alma, que não admitiam em Cristo, como dissemos; mas, quanto ao conhecimento divino do Filho, do qual ensinavam ser menor do que o Pai, pela ciência. — Mas esta Doutrina não pode manter-se. Pois, pelo Verbo de Deus todas as coisas foram feitas, como diz o Evangelho; e, entre todas, também por ele foram feitos todos os tempos. Logo, nada do feito por ele havia, que ele ignorasse. – Por onde, diz-se que ignora o dia e a hora do juízo, pelo não dar a conhecer; assim, interrogado sobre isso pelos Apóstolos, não lhes quis revelá-lo, Como, ao contrário, se lê na Escritura: Agora conheci que temes a Deus, isto é, agora te fiz conhecer. E se diz que o Pai conhece, por ter transmitido ao Filho esse conhecimento. Por onde, a expressão da Escritura — só o Pai — dá a entender que o Filho conhece, não só pela sua natureza divina, mas também pela humana. Pois, como argui Crisóstomo, se a Cristo lhe foi dado saber, enquanto homem, como deve julgar — o que é mais; com muito maior razão também lho foi o tempo do juízo — que é menos —Orígenes, porém, expõe esse lugar, de Cristo, quanto ao seu corpo, que é a Igreja, a qual ignora esse referido tempo. — Mas, certos dizem que essa expressão se deve entender do filho de Deus adotivo e não, do natural” (Suma Teológica, Parte IIIa, Q. X, a. II).
Esse é o verdadeiro ensino católico que Padre Manzotti deveria – como bom pastor – transmitir para seu rebanho carismático. Essa tendência de livre-exame da Bíblia, crendo-se guiado diretamente pelo Espírito Santo, é o joio do pentecostalismo protestante semeado pelo Diabo dentro da Igreja Católica, sob uma pretensão de Renovação Carismática. E nesse descompasso da velha Canção Protestante, o pentecostal Pe. Reginaldo não titubeou em atribuir erros a Nosso Senhor Jesus Cristo. Para justificar sua blasfêmia, citou a parábola onde o Verbo de Deus comparou o Reino dos céus ao grão de mostarda:
“O Reino dos céus é como um grão de mostarda que um homem plantou em seu campo. Embora seja a menor entre todas as sementes, quando cresce, torna-se uma das maiores plantas e atinge a altura de uma árvore, de modo que as aves do céu vêm fazer os seus ninhos em seus ramos”.(S. Mateus XIII, 31-32)
Segundo a ótica protestante do Padre Manzotti, Cristo errou ao dizer que o grão de mostarda é a menor das sementes. Ora, não aprendeu o reverendo sacerdote que a Bíblia não é um tratado de botânica? Que o Livro de Deus não visa ensinar propriamente sobre plantas ou sementes, mas sobre as Verdades da Fé? É claro que Cristo, Verbo de Deus, pelo qual Todas as coisas foram feitas, sabia qual era a menor semente da Criação. Entretanto, por uma questão pedagógica, comparou o Reino dos Ceús à menor semente CONHECIDA pelos Judeus, naquela circunstância! É o que explica os Professores de Salamanca:
“La frase no tiene un sentido de valoración absoluta. En la estimación popular judía, el grano de mostaza era considerado como el término ordinario de comparación de las cosas pequeñas” (Profesores de Salamanca. Bíblia Comentada: Evangelios. Biblioteca de Autores Cristianos: Madrid, 1964, p.311).
O que para o Padre Manzotti é erro de Cristo, para a Igreja nada mais é que Sabedoria Divina!
Por fim, a negação das previsões de Cristo.
Essa drástica declaração nos leva a supor que o Padre não conhece suficientemente a Escritura Sagrada. Ou quer explorar a ignorância dos seus catequizandos. Tomara Deus que a segunda hipótese seja equivocada. Contudo, basta uma só prova de que Cristo previu o futuro para desqualificar a inferência do Padre Cantor.
Assim declarou Cristo sobre a negação de São Pedro:
“Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás” (São Mateus XXVI, 34)
E o galo cantou!
Três vezes!
Cristo, verdadeiro Deus e Homem, previu a futura desgraça de São Pedro!
Que Nossa Senhora ajude esse padre a ser católico…
… antes que o canto da morte se aproxime, e o leve como um infeliz traidor da Igreja.
Infelizmente não é novidade um padre afirmar uma heresia, sobretudo em nossos dias. O que pode-se dizer que é uma novidade é ver como as autoridades se silenciam diante desses erros e punem os sacerdotes que defendem a verdade da doutrina católica.
(Por Eder Moreira)