Nossa Senhora e o zelo histérico brasileiro – Por Wladimir Caetano de Souza

A propósito do recente pronunciamento de Roma sobre a devoção à Santíssima Virgem, multiplicaram-se manifestações de desagravo contra o que muitos julgaram ser um gesto de desprezo — o qual, diga-se por justiça aos hereges do Novus Ordo, nem mesmo chega a ser uma negação explícita — dos títulos de Medianeira e Co-redentora requeridos para Nossa Senhora. Alguns chegaram ao ponto de repostar, em protesto, a definição dicionarizada de “anátema”, como se estivéssemos perante um caso de heresia solene.
Confesso achar curiosa essa súbita comoção. É como se certas almas se empenhassem em coar mosquitos e engolir camelos. Pois a minúcia dogmática com que tratam de questões marianas contrasta de maneira patética com o mais completo descaso demonstrado em todas as demais matérias de fé e moral — todas, sem exceção. Se o cosplay de papa Robert Prevost se junta em oração com anglicanos, umbandistas ou mesmo satanistas; se promove, com o velho zelo modernista, a continuidade da obra de demolição do patrimônio da Igreja, as reações se limitam a um tímido e piedoso “é triste… vamos rezar”. Entretanto, bastou que Roma parecesse atentar contra a “mamãe” deles — porque é precisamente assim que concebem a Mãe de Deus, a Senhora dos Exércitos, a Rainha dos Céus, a Exterminadora dos Hereges —, e o apocalipse se instalou.
“Anátema sit!”, gritam indignados. Depois, ainda nos espantamos quando os protestantes zombam de nós, acusando-nos de idolatria mariana. É evidente que, diante de tais atitudes, o terreno lhes fica livre para lançar suas suspeitas. Tudo isso é de uma incoerência assombrosa.
E note-se: não se trata aqui de menosprezar a Mãe de Deus. Longe disso. Sou, aliás, pessoalmente simpático ao título de Medianeira, embora mais reservado quanto ao de Co-redentora, pela carência de definição teológica precisa. O problema está em outra parte: na superficialidade e na ignorância que grassam entre aqueles que, desprovidos de qualquer formação séria em doutrina, súbito se erigem em paladinos da dogmática — e pior, de uma dogmática que sequer possui definição. Tudo isso é um espetáculo desconcertante e tragicômico de zelo histérico e fé mal instruída.
Wladimir Caetano de Sousa, 5 de novembro de 2025



