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Católicos e protestantes firmam acordo para devolver o controle da polícia e da Justiça à Irlanda

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Seis dias depois do 38º aniversário do chamado Domingo Sangrento – quando 13 ativistas desarmados foram assassinados por para-quedistas britânicos -, a Irlanda do Norte acaba de anunciar um novo passo para cicatrizar as marcas de um passado sangrento e vergonhoso. Os jovens mortos em 30 de janeiro de 1972 protestavam contra a política da Grã-Bretanha de internar supostos nacionalistas irlandeses.

O dia de ontem entrará para a história como a provável salvação do governo de unidade entre os católicos nacionalistas, ávidos pela independência em relação ao Reino Unido, e os protestantes unionistas, que defendem o status quo.

Após seis dias de intensas negociações, Gerry Addams – líder do católico Sinn Féin (ex-braço político do IRA, o Exército Republicano Irlandês) – e o premiê norte-irlandês, Peter Robinson, chefe do protestante Partido Unionista Democrático (DUP, pela sigla em inglês), concordaram com um dos pontos mais polêmicos de um conflito que já matou 3,6 mil pessoas.

"Fechamos o último capítulo de uma longa e turbulenta história e abrimos um novo capítulo para a Irlanda do Norte", comemorou ontem o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown. Os dois partidos combinaram a devolução dos ministérios do Interior e da Justiça para Belfast, capital norte-irlandesa, e acataram reorganizar as rotas das polêmicas passeatas da Ordem de Orange (protestante) por certas regiões católicas. A retomada do controle judicial e policial começa a vigorar em 12 de abril.

"Esse acordo é o sinal mais seguro de que nós não voltaremos aos dias obscuros do passado", declarou Robinson. "O que fizemos será aplaudido por qualquer pessoa decente que viva em nossa sociedade e que deseje que avancemos", acrescentou o unionista. Addams, por sua vez, falou em uma "cooperação futura". "É uma magnífica oportunidade agora e um novo espírito para que sigamos adiante", disse o chefe do Sinn Féin.

O governo de Brown se comprometeu a financiar a transferência de poderes para a Irlanda do Norte, concedendo 800 milhões de libras (o equivalente a US$ 1,25 bilhão).

Professor da Universidade do Ulster – como é chamada a Irlanda do Norte -, Arthur Paul concorda que a devolução da polícia e da Justiça é "a última peça que faltava no quebra-cabeças" que ganhou contornos em 1998, com os Acordos de Sexta-Feira Santa. "O pacto começou a ser pincelado após o cessar-fogo firmado entre o IRA e os monarquistas, em 1994. Ele expressa alguma confiança de que podemos lidar com nossos temas mais contenciosos sem envolver os governos da Irlanda e da Grã-Bretanha", admite.

Segundo o norte-irlandês, o sucesso relativo do acordo se deve à liderança política mostrada pelos maiores partidos; à recusa em considerar um retorno ao passado; ao senso de vergonha pelo que uns já fizeram aos outros; e ao apoio da comunidade internacional.

Por sua vez, o britânico Paul Dixon, professor de política e estudos internacionais da Kingston University (Reino Unido), lembra que a devolução de poder para a Assembleia da Irlanda do Norte e para o governo executivo tem sido historicamente instável – foi suspensa por várias vezes. "Em 2007, os dois partidos haviam concordado em compartilhar o poder. Para o Sinn Féin, isso representou uma moderação gradual em sua posição de guerra. Para o DUP, significou uma dramática reviravolta, já que os unionistas se opunham à divisão de poder com os nacionalistas", observa Dixon, também autor de Northern Ireland: The politics of war and peace (Irlanda do Norte: as políticas de guerra e paz).

Ele admite que o pacto firmado ontem é um "marco importante nas negociações do processo de paz, mas não fim do problema". O especialista adverte que ainda existe forte antagonismo entre os líderes políticos locais. "Mas o acordo mantém a partilha de poder viva e apresenta uma oportunidade para fazer com que a devolução funcione para todo o povo da Irlanda do Norte", comemorou.

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