Ciganos: rejeição e desprezo nunca mais, pede Papa
ROMA, terça-feira, 14 de junho de 2011. “Que vosso povo nunca mais seja objeto de humilhações, de rejeição e de desprezo! Por vossa parte, buscai sempre a justiça, a legalidade, a reconciliação e esforçai-vos por jamais ser causa de sofrimento para outros!”: esta foi a mensagem do Papa Bento XVI ao receber em audiência mais de 2 mil ciganos, no 150º aniversário de nascimento de 75º de martírio do cigano Beato Zeferino Giménez Malla.
O encontro foi organizado pelo dicastério vaticano para os Migrantes e Itinerantes, pela fundação “Migrantes”, da Conferência Episcopal Italiana, pela diocese de Roma e pela comunidade de Sant'Egidio.
O evento recordou aquele realizado em 1965 por Paulo VI, de quem Bento XVI quis recordar palavras inesquecíveis: “Vós, na Igreja, não estais à margem, mas, de alguma maneira, estais no centro, vós sois o coração da Igreja”.
A Sala Paulo VI se encheu de trajes vistosos e música tradicional. O Papa dirigiu aos presentes uma breve saudação em sua língua e foi fortemente aplaudido pelos presentes.
Dirigindo-se aos ciganos procedentes de toda a Europa e de mais de 50 cidades italianas, o Pontífice quis apresentar a figura e o heroísmo do Beato Zeferino, o “mártir do terço”, que não deixou que o arrancassem de suas mãos, “nem sequer estando a ponto de morrer” fuzilado durante a perseguição religiosa de 1936, na Espanha.
“Hoje – afirmou o Papa -, o Beato Zeferino nos convida a seguir seu exemplo e nos indica também o caminho: a dedicação à oração, em particular ao terço, o amor pela Eucaristia e pelos demais sacramentos, a observância dos Mandamentos, a honestidade, a caridade e a generosidade para com o próximo, especialmente com os pobres.”
“Isso vos tornará fortes diante do risco de que as seitas ou outros grupos coloquem em perigo vossa relação com a Igreja”, disse Bento XVI.
Em seu discurso, o Papa também recordou que, “através dos séculos, conhecestes o sabor amargo da falta de acolhimento e, à vezes, da perseguição, como aconteceu na 2ª Guerra Mundial: milhares de mulheres, homens e crianças foram assassinados selvagemente nos campos de extermínio”.
Foi “A Grande Destruição”, “um drama ainda pouco reconhecido e do qual se desconhecem as proporções, mas que vossas famílias carregam impresso no coração”.
O Papa recordou que, durante sua visita ao campo de concentração deAuschwitz-Birkenau, em 28 de maio de 2006, quis rezar pelas vítimas das perseguições: “Eu me inclinei diante da lápide em língua romani, que recorda vossos caídos”.
“A consciência europeia não pode esquecer tanta dor!”, exclamou.
Entre os testemunhos de ciganos que falaram diante do Papa, destacou-se principalmente um que não foi pronunciado: o de Ceija Stojka, cigana austríaca sobrevivente do campo de concentração de Bergen-Belsen.
Seu testemunho, que transcendeu os meios de comunicação, apesar de a mulher ter se emocionado e não ter podido falar, narra sua traumática experiência de criança, do extermínio que acabou com quase toda a família.
Contribuir para uma Europa melhor
“Hoje, graças a Deus, a situação está mudando – sublinhou o Santo Padre. Muitas etnias já não são nômades, mas buscam a estabilidade com novas expectativas frente à vida. A Igreja caminha convosco e vos convida a viver segundo as comprometedoras exigências do Evangelho, confiando na força de Cristo, rumo a um futuro melhor.”
o Papa convidou os presentes a “escrever juntos uma nova página da história para o vosso povo e para a Europa”.
“A busca de alojamento, de um trabalho digno e de educação para os filhos são a base sobre a qual construir a integração que trará benefícios para vós e para toda a sociedade”, acrescentou, convidando-os a dar sua “efetiva e leal colaboração, para que as vossas famílias se insiram dignamente no tecido civil europeu”.
“Muitos dentre vós são crianças e jovens que desejam educar-se e viver com os outros e como os outros. A estes me dirijo com particular carinho, convencido de que vossos filhos têm direito a uma vida melhor.”
Por último, convidou-os a “participar ativamente na missão evangelizadora da Igreja, promovendo a atividade pastoral em vossas comunidades”.
“A presença entre vós de sacerdotes, diáconos e pessoas consagradas pertencentes às vossas etnias é um dom de Deus e um sinal positivo do diálogo das Igrejas locais com o vosso povo, que precisa sustentar e desenvolver”, concluiu.(Zenit)