Décimo Sexto Domingo depois de Pentecostes e Comemoração da Natividade de Nossa Senhora
Irmãos: Rogo-vos que não desanimeis por causa das tribulações que suporto por vós; elas são a vossa glória. Por este motivo, ajoelho-me diante do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Quem deriva toda a paternidade, no céu e na terra. Que Ele vos conceda, segundo as riquezas da sua glória, o serdes vigorosamente fortalecidos pelo seu Espírito, em ordem ao homem interior [o homem renovado pelo Batismo, n.d.t.]; e que Cristo habite, pela fé, em vossos corações, para que, assim enraizados e alicerçados na caridade, possais compreender, com todos os santos, qual a latitude e a longitude, a altura e a profundidade [infinitos do plano divino, n.d.t.]; e conhecer igualmente aquele amor de Cristo, infinitamente superior a toda a ciência, a fim de ficardes cheios da total plenitude de Deus! E Àquele que, pelo poder que age em nós, é capaz de ir infinitamente além do que nós pedimos ou podemos imaginar, seja dada a glória, na Igreja e em Jesus Cristo, por todas as gerações até ao fim dos séculos. Amém.
Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 14, 1-11.
Naquele tempo: Tendo Jesus entrado na casa de um dos principais fariseus, num sábado, para comer, eles espiavam-no! Precisamente então, estava ali, à sua frente, um hidrópico [a hidropisia é um edema, um inchaço de líquido, em certas cavidades do corpo ou na barriga, n.d.r.]. Dirigindo-se aos doutores da lei e aos fariseus, perguntou-lhes Jesus: “É lícito, ou não, curar no dia de sábado?” Ficaram calados. Ele, porém, pegando o doente pela mão, curou-o, e mandou-o embora. Em seguida, observou-lhes: “Quem. é que, dentre vós, se lhe cair um jumento ou um boi no poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado?” E eles nada podiam responder a isto! Depois, visando o modo como os convidados escolhiam os primeiros lugares, disse-lhes ainda esta parábola: “Quando fores convidado para um jantar de boda, não te recostes no primeiro lugar; porque pode ser que outra pessoa, de mais consideração do que tu, tenha sido convidada pelo dono da casa, e que, vindo este que te convidou a ti e a ele, te diga: ‘Cede o lugar a este’; e tu, corrido de vergonha, passes a ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: ‘Amigo, vem mais para cima’. Então ver-te-ás honrado na presença dos outros que também estiverem recostados à mesa: Porque todo o que se exalta será humilhado; e todo o que se humilha será exaltado.”
Traduções das leituras extraídas do Missal Quotidiano por Pe. Gaspar Lefebvre OSB (beneditino da Abadia de Santo André) – Bruges, Bélgica: Biblica, 1963 (com adaptações).
Comentário ao Evangelho do dia:
Beato Guerric de Igny (aprox. 1080-1157), abade cisterciense
O Criador eterno e invisível do mundo, dispondo-Se a salvar o gênero humano que se arrastava ao longo dos tempos sujeito às duras leis da morte, “nestes tempos que são os últimos” (Heb 1, 2) dignou-Se encarnar […], para resgatar, na Sua clemência, os que na Sua justiça havia condenado. Para mostrar a profundidade do Seu amor por nós, não apenas Se fez homem, mas homem pobre e humilde, para que, ao aproximar-Se de nós na Sua pobreza, nos levasse a ter parte nas Suas riquezas (2 Cor 8, 9). Fez-Se tão pobre por nós, que não tinha onde repousar a cabeça: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8, 20).
Foi por isso que aceitou ir comer uma refeição com os que O convidaram, não pelo gosto imoderado da comida, mas para aí ensinar a salvação e suscitar a fé. E encheu os convivas de luz pelos Seus milagres. E os servos, que estavam ocupados no interior e não tinham a liberdade de chegar perto Dele, ouviram a palavra da salvação. Com efeito, Ele não menosprezava ninguém, ninguém era indigno do Seu amor porque “Vós tendes compaixão de todos, […] amais tudo o que existe, e não aborreceis nada do que fizestes” (Sab 11, 23-24).
Portanto, para realizar a Sua obra de salvação, o Senhor entrou, num sábado, na casa de um fariseu importante. Os escribas e os fariseus observavam-No para O poderem repreender, a fim de que, se Ele curasse o hidrópico, O poderem acusar de violar a Lei e, se não o curasse, O acusarem de impiedade ou fraqueza. […] Pela luz puríssima da Sua palavra de verdade, viram desvanecerem-se todas as trevas da sua mentira.