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CARDEAL ROBERT SARAH: “VOCÊS NÃO SÃO TRADICIONALISTAS. VOCÊS SÃO CATÓLICOS!

Paramentos Litúrgicos

Cardeal SarahA resposta do Cardeal Sarah a quem considera o uso da missa tridentina como algo do passado ou saudosista: “A quem nutre algumas dúvidas em relação a isso, eu diria: visitem estas comunidades e procurem conhecê-las, especialmente os jovens que fazem parte delas. Abram seus corações a mentes a estes nossos jovens irmãos e irmãs, e vejam o bem que eles fazem. Não são saudosistas nem amargurados, nem oprimidos pelas lutas eclesiásticas das décadas atuais; eles são cheios da alegria de viver a vida de Cristo em meio aos desafios do mundo moderno”.

Sarah aos grupos estáveis de fiéis ligados à Missa Tradicional: “Não sejam tradicionalistas, sejam católicos. Saiam do gueto”.

“Não sejam tradicionalistas, sejam católicos, tanto quanto eu e o Papa” As palavras do cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, chegam pontuadas quase ao término da conferência dada pelo purpurado no Congresso de dez anos do [motu proprio] Summorum Pontificum de Bento XVI. E parecem pôr fim a uma longa travessia no deserto realizada por grupos estáveis e por tantos monges e religiosos (lá no Angelicum de Roma, estavam ontem sobretudo franceses e italianos) que nestes anos experimentaram os benefícios da forma extraordinária do rito romano.

É a assim chamada missa em latim ou missa tridentina. Um clichê linguístico usado para controlar e enquadrar um fenômeno nascido na surdina, mas que hoje cresceu a tal ponto que o termo tradicionalista parece muito estreito e em certas situações é já insuficiente, visto que a maior parte dos fiéis que têm esta sensibilidade são jovens e não são saudosistas de nada. Para dar plena cidadania à forma extraordinária do rito romano vem também o atual Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que aproveitou a ocasião de sua lectio magistralis de ontem para esclarecer também algumas de suas expressões, que haviam desencadeado as suspeitas de alguns guardiões da revolução: a Missa ad orientem, em primeiro lugar, e a Reforma da Reforma, secundariamente.

Não antes de recordar que o motu proprio foi um “sinal de reconciliação na Igreja e que trouxe muito fruto e, neste sentido, foi realizado também pelo Papa Francisco”. Partindo de Ratzinger, o cardeal recordou que o “esquecimento de Deus é o perigo mais urgente do nosso tempo”. “Se a Igreja de hoje é menos zelosa e eficaz em levar as pessoas a Cristo — disse ele à plateia do Angelicum –, uma das causas pode ser a nossa falta de participação na Sagrada Liturgia de um modo autêntico e eficaz. E isto talvez seja devido, por sua vez, à falta de uma adequada formação litúrgica — com a qual talvez esteja preocupado também o nosso Santo Padre, o Papa Francisco, quando diz que “uma liturgia que estivesse desligada do culto espiritual arriscaria de esvaziar-se”.

Para Sarah “isto pode ser também devido ao fato de que, muito frequentemente, a liturgia, tal como vem sendo celebrada, não é fiel e não corresponde plenamente a como é entendida pela Igreja, mas depaupera-se ou priva-se daquele encontro com Cristo na Igreja, que é um direito de todos os batizados”. Tanto que “muitas liturgias não são realmente nada mais que ‘antropocêntricas’, um teatro, um divertimento mundano, com muito barulho, danças e movimentos corporais, que se assemelham às nossas manifestações folclóricas”. Ao contrário, a liturgia é o momento de um encontro pessoal e íntimo com Deus e, aqui, o cardeal exortou a África, a Ásia e a América Latina a refletir “sobre as suas ambições humanas de inculturar a liturgia, de modo a evitar a superficialidade, o folclore e a auto-celebração cultural”.

Mas o que isso tem a ver com a Missa tridentina? Tem a ver porque no assim chamado usus antiquor estes riscos são notavelmente despotencializados. Como o de perder uma orientação litúrgica que, longe de ser uma questão meramente formal, representa, ao contrário, um detalhe fundamental para falar com Deus. Detalhe. Sarah repete-o, recordando já o ter mencionado e como, nos últimos anos, o retorno ao “voltar-se ad Deum ou ad orientem durante a liturgia eucarística seja uma gestualidade quase universalmente assumida nas celebrações do usus antiquor“.

Mas também a prática do orientamento “é perfeitamente apropriada — e eu o insisto — e pastoralmente vantajosa, na forma mais moderna do rito romano”. O cardeal é consciente de que isto lhe poderia ser motivo de acusação por ser atento aos detalhes: “Sim — prosseguiu –, porque como todo marido e mulher sabem, em cada relação de amor, os mais pequenos detalhes são importantes, porque é nestes e através destes que o amor se exprime e se vive dia-a-dia. As ‘pequenas coisas’, na vida matrimonial, exprimem e protegem as realidades maiores, tanto que o matrimônio inicia a romper-se quando estes detalhes são descuidados. Assim, também na liturgia: quando os seus pequenos rituais se tornam routine e não são mais atos de culto que exprimem as realidades do meu coração e da minha alma, quando não cuido mais dos detalhes, então aí está um grande perigo de que o meu amor ao Deus Onipotente se esfrie”.

O mesmo argumento para o silêncio, que é o único que “pode edificar aquilo que sustentará a sagrada celebração, porque o barulho assassina a liturgia, mata a oração, nos destrói e nos exila distantes de Deus”. Chega-se, assim, no coração da solene celebração da Santa Missa no usus antiquor que “é um ótimo paradigma disso, porque, com os seus níveis de rico conteúdo e de diversos pontos de coligação com a ação de Cristo, permite-nos alcançar tal silêncio. Tudo isso é certamente um tesouro com o qual possam ser enriquecidas algumas celebrações do usus recentior, às vezes horizontais demais e barulhentas”.

As reflexões de Sarah, porém, têm como protagonista a missa em geral e não apenas a da forma extraordinária. De fato, o cardeal convidou “a não rezar o breviário com o próprio telefone ou o iPad” porque “não é digno, dessacraliza a oração. Este aparelho não é um instrumento consagrado e reservado a Deus”. Mas também tirar fotografias durante a Santa Missa por parte de presbíteros não é digno.

Sobre os grupos estáveis de fiéis ligados à Missa Tradicional, Sarah expressou toda a sua gratidão, testemunhando “a sinceridade e a devoção destes jovens, homens e mulheres, sacerdotes e leigos, e das boas vocações ao sacerdócio e à vida religiosa que nasceram nas comunidades que celebram o usus antiquor. É a melhor resposta a quem considera o uso da missa tridentina como algo do passado ou saudosista: “A quem nutre algumas dúvidas em relação a isso, eu diria: visitem estas comunidades e procurem conhecê-las, especialmente os jovens que fazem parte delas. Abram seus corações a mentes a estes nossos jovens irmãos e irmãs, e vejam o bem que eles fazem. Não são saudosistas nem amargurados, nem oprimidos pelas lutas eclesiásticas das décadas atuais; eles são cheios da alegria de viver a vida de Cristo em meio aos desafios do mundo moderno“. Um apelo estendido também “aos meus irmãos bispos: estes fiéis, estas comunidades têm uma grande necessidade de cuidado paterno.

Não devemos deixar que as nossas preferências pessoais ou as incompreensões do passado mantenham distantes os fiéis que aderem à forma extraordinária do rito romano“.

Porque — é o sentido das palavras de Sarah — o usus antiquor deveria ser considerado como uma parte normal da vida da Igreja do século XXI. “Estatísticamente, isso pode representar uma bem pequena parte da vida da Igreja, como previa o Papa Bento XVI, mas não por isso é uma via inferior de ‘segunda classe’. Não deveria haver concorrência entre a forma ordinária e a extraordinária do único Rito Romano: a celebração de todas as duas formas deveria ser um elemento natural da vida da Igreja nos nossos dias”.

Enfim, uma palavra “paterna” a todos aqueles que estão associados à forma mais antiga do Rito Romano. “Alguns chamam vocês de ‘tradicionalistas’ e, às vezes, até vocês mesmos se chamam assim. Por favor, não façam mais isso. Vocês não estão fechados em uma caixa num compartimento de uma livraria ou num museu de curiosidades. Vocês não são tradicionalistas: vocês são católicos do Rito Romano, tanto quanto eu e como o Santo Padre. Vocês não são de segunda classe ou membros particulares da Igreja Católica por causa do seu culto ou de suas práticas espirituais, que foram as de inumeráveis santos. Vocês são chamados por Deus, como todos os batizados, a tomar o seu lugar na vida e na missão da Igreja no mundo de hoje, ao qual também vocês são enviados”.

E ainda: “Se vocês não deixaram ainda os limites do ‘gueto tradicionalista’, por favor, façam isso hoje. O Deus Onipotente chama vocês a isso. Ninguém lhes roubará o usus antiquor, mas muitos serão beneficiados, nesta vida e na vida futura, pelo seu fiel testemunho cristão que terá tanto a oferecer, considerando a profunda formação na fé que os antigos ritos e o ambiente espiritual e doutrinal relacionados a eles deram a vocês, porque ‘não se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sobre uma lanterna para que ilumine a todos aqueles que estão na casa’. Esta é a sua verdadeira vocação, a missão para a qual lhes chama a Providência divina, quando suscitou no tempo oportuno o Motu Proprio Summorum Pontificum“.

 

Por Andrea Zambrano – La Nuova Bussola Quotidiana  (Tradução: Frattes in Unum)

 

 

 

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