Igreja Católica investiga jornalistas que usaram documentos secretos
Os jornalistas Emiliano Fittipaldi e Gianluigi Nuzzi, autores dos livros "Avarizia" ("Avareza") e "Via Crucis", que revelam escândalos financeiros do Vaticano, estão sendo investigados pelo país no inquérito sobre o vazamento de documentos secretos da Santa Sé.
O objetivo é concluir as apurações até o próximo dia 8 de dezembro, quando começa o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo papa Francisco, que tem sido informado constantemente sobre o andamento do caso. Nos últimos dias, a justiça vaticana ouviu pessoas envolvidas no episódio.
A obra de Fittipaldi é uma investigação que parte de documentos originais, com a intenção de desvendar a riqueza, os escândalos e os segredos da Igreja de Francisco. O jornalista recolheu com fontes confidenciais uma grande quantidade de arquivos internos do Vaticano (atas, orçamentos e notificações) e, graças a eles, traça os primeiros mapas do império financeiro da Santa Sé.
O livro chega em um momento crucial para o catolicismo, com o Pontífice enfrentando resistências para mudar a gestão dos recursos da Igreja. Entre outras coisas, "Avarizia" conta como centenas de milhares de euros foram gastos em voos de classe executiva, roupas sob medida e móveis de luxo. Além disso, a obra divulga um vasto patrimônio imobiliário em Itália, Reino Unido, França e Suíça. Apenas em Roma, seriam cerca de 5 mil apartamentos em posse do Vaticano. Outra denúncia acusa o Instituto para as Obras de Religião (IOR) de segurar quantias destinadas a ações de caridade.
Já "Via Crucis" é uma análise sobre as dificuldades enfrentadas pelo Papa para reformar a Santa Sé baseada em documentos inéditos. Nuzzi relata os duros ataques de Francisco contra os dirigentes que comandaram as finanças do Vaticano nos anos anteriores à sua chegada ao poder. "Os custos estão fora de controle", "Há armadilhas" e "Se não sabemos cuidar do dinheiro, como cuidaremos da alma dos fiéis?" são algumas das frases atribuídas a Jorge Bergoglio.
Ambos os livros já estão na lista dos mais vendidos na Itália e mostram arquivos secretos da Comissão de Estudos sobre as Atividades Econômicas da Santa Sé (Cosea), criada por Francisco em 2013 para monitorar as contas vaticanas, mas já dissolvida.
O monsenhor espanhol Ángel Vallejo Balda e a consultora italiana Francesca Immacolata Chaouqui, que integravam o órgão, foram presos no início do mês, acusados de vazar documentos confidenciais. Apenas a segunda foi colocada em liberdade, já que decidiu colaborar com o inquérito.
O episódio fez com que o menor país do mundo revivesse o clima do "Vatileaks", de 2012, quando arquivos sigilosos foram levados à imprensa e abalaram o Pontificado de Joseph Ratzinger. O escândalo teve como pivô o mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele.