Igreja vai sair mais forte da “guerra” da mídia, diz colaborador do Papa
Ao fazer a última oração da Quaresma, o pregador oficial da Casa Pontifícia, monsenhor Raniero Cantalamessa, afirmou que, se a Igreja Católica for humilde, pode se fortalecer após os escândalos dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes.
"Se houver humildade, a Igreja vai sair mais resplandecente do que nunca desta guerra. A obstinação da mídia vai acabar tendo o efeito contrário do que se deseja", afirmou o padre Raniero Cantalamessa durante a oração, diante do papa Bento 16 e dos cardeais da Cúria Romana.
Após a denúncia de abusos não punidos pelo Vaticano, publicada pelo jornal The New York Times, os principais órgãos de informação da Santa Sé denunciaram, nesta sexta-feira, a existência de um ataque maciço da imprensa que teria a intenção de atingir o papa e a Igreja Católica.
"Há uma onda midiática feroz, que deseja sujar e atingir a Igreja Católica e o papa", escreve o jornal Avvenire, órgão da Conferência Episcopal Italiana.
Segundo o jornal existe uma grande diferença entre as acusações publicadas pelo jornal americano e a realidade, o que demonstraria uma intenção deliberada de acusar a Igreja.
"É evidente o desejo de mostrar a Igreja como se fosse uma cúpula opaca, que sabe e faz de conta que não vê. Há um desejo de lapidação em certos títulos forçados, que depois são copiados por outros jornais" , escreve o Avvenire.
Os documentos publicados pelo jornal The New York Times na quinta-feira, denunciando abusos cometidos pelo padre Lawrence Murphy, do Estado de Wisconsin, contra cerca de 200 crianças de uma escola para surdos, não foram lidos com atenção, segundo os órgãos de imprensa do Vaticano.
Conforme o artigo do The New York Times, o Vaticano tinha conhecimento do caso de padre Murphy, mas não tomou nenhuma providência.
O diário afirmou ter tido acesso aos documentos do processo que as vítimas apresentaram na Justiça americana. Entre eles estariam as correspondências entre os bispos do Estado e os responsáveis pela Congregação da Doutrina da Fé, órgão da Cúria Romana responsável pelas questões disciplinares da Igreja Católica.
Na época em que os documentos foram enviados para o Vaticano, o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé era o cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento16, e o secretário do órgão era o atual secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone.
Os abusos teriam ocorrido entre 1950 e 1974, mas o caso só começou a ser investigado em 1993.
"Os documentos confirmam que os únicos a se preocupar com o mal cometido por padre Murphy foram a direção da diocese americana e a Congregação para a Doutrina da Fé, que tomou conhecimento do caso em 1996 e deu instruções sobre como tratar o problema", escreve o jornal Avvenire.
O jornal oficial da Santa Sé, Osservatore Romano, definiu o artigo do The New York Times como uma "ignóbil tentativa de atingir o papa e seus mais estreitos colaboradores".
Segundo o diário, as informações sobre a conduta de padre Murphy, enviadas ao Vaticano pela diocese americana, não faziam referência a abusos sexuais.
"Conforme a própria documentação apresentada pelo The New York Times, o arcebispo de Milwaukee pedia indicações sobre como tratar o caso de padre Murphy através da lei canônica. Mas não se referia a abusos sexuais e sim à violação do sacramento da penitência", escreve o jornal na edição desta sexta-feira.
O padre Lawrence Murphy teria violado o sacramento da penitência ao pedir, enquanto ouvia a confissão de um fiel, que este pecasse contra o sexto mandamento.
O sexto mandamento da Igreja Católica diz que o fiel não deve pecar contra a castidade. Entre os pecados gravemente contrários à castidade, estão a masturbação, ato sexual, pornografia e práticas homossexuais. BBC Brasil