Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres participa de exposição internacional
A imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, famosa pela festa dedicada a esta devoção, no arquipélago de Açores (Portugal), vai compor a exposição Esplendor e Glória, organizada pelo Museu Nacional de Arte Antiga do país.
Realizada em Lisboa, a mostra vai exibir mais quatro exemplares da joalheria portuguesa do período barroco entre os anos de 1756 e 1780: Custódia da Patriarcal, Custódia da Bemposta, Venere das Cinco ordens de D. João V e o Resplendor do Senhor dos Passos da Graça. São esperadas 100 mil pessoas de várias partes do mundo
A exposição vai acontecer entre julho e dezembro deste ano. A organização pediu permissão, no mês de janeiro, para levar a imagem à mostra por considerar esta obra sacra uma das mais importantes de Portugal.
O Museu Nacional de Arte Antiga é reconhecido internacionalmente e guarda vários tesouros nacionais. Mesmo assim, surgiu o receio da Irmandade do Senhor do Santo Cristo, guardiã do Santo Cristo em Açores, e da Câmara da cidade de Ponta Delgada, que manifestou preocupação com a saída deste tesouro local do arquipélago.
Em contrapartida, o Serviço Diocesano de Bens Culturais da Igreja, da diocese de Angra (responsável por Açores), ressaltou, em comunicado, que a peça estará plenamente segura:
O senhor bispo de Angra, dom António de Sousa Braga, manifestou desde logo a sua preocupação relativamente à segurança da peça e aos requisitos técnicos necessários e exigíveis numa situação desta natureza. Foi, por solicitação sua, enviado à Direção do Museu Nacional de Arte Antiga um documento com as condições técnicas exigíveis em caso de empréstimo, nomeadamente: o tratamento documental da peça, estudo, descrição e inventário, já realizado pelo professor Rui Galopim de Carvalho, como especialista em gemologia; a contratação de seguro contra todos os riscos, no valor da avaliação do bem (mantido em sigilo por questões de segurança), válido para o transporte e para todo o tempo de permanência; a celebração de um contrato de empréstimo contendo as cláusulas relativas aos vários requisitos exigidos; o acompanhamento do processo e do resplendor, por técnico especializado, com experiência em transporte de bens culturais e por um representante da Diocese.
Em relação às condições de exposição, foi acautelada uma vitrina de alta segurança, com sistema de alarme próprio, e condições ambientais mantidas dentro dos limites definidos, bem como assegurado um sistema de vigilância vídeo, permanente, com gravação e acesso remoto, para além de vigilância presencial, por pessoal especializado.
Como contrapartidas da cedência temporária da peça, será realizada a sua avaliação técnica e o seu estudo científico, por especialistas da área, e executada uma limpeza por técnicos credenciados do Laboratório José de Figueiredo, uma medida urgente e imprescindível à conservação deste bem patrimonial.
O comunicado ainda lembrou que empréstimos de obras para exposições temporárias e internacionais é algo comum. Exemplo disto é a exposição Herança do Sagrado: Obras-Primas do Vaticano e de Museus Italianos, que passou pelo Rio de Janeiro (Brasil). Lá puderam ser apreciadas mais de 100 obras dos famosos pintores Leonardo da Vinci, Michelangelo, Ticiano e Caravaggio.
História da devoção
A grande preocupação em torno da imagem envolve a profunda devoção popular da cidade de Ponta Delgada, localizada na Ilha de São Miguel, em Açores. A devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres começou no século XVIII com a irmã clarissa Teresa da Anunciada. Ela venerava a imagem que encontrou abandonada há mais de cem anos nas dependências do convento. Pela intercessão do Santo Cristo recebeu a graça de inúmeros milagres.
A veneração da irmã, que morreu com fama de santidade, levou-a a contemplar de forma mais profunda o sofrimento de Cristo. “Para Deus, por mais que se faça, não é nada. Para o que Sua Majestade merece, tudo o que Ele quiser, estou pronta", conta a irmã em uma autobiografia.
Em 1700, a devoção ganhou espaço em São Miguel depois que a imagem o Senhor de Santo Cristo saiu em procissão do convento. Na ocasião os nobres da cidade e a população pediram para que os fortes tremores de terra cessassem.
De estilo barroco, a imagem tem o tamanho superior a de um homem e representa a passagem bíblica em que Pôncio Pilatos pronuncia o Ecce Homo (Eis o homem), ao apresentar Jesus perante os judeus logo após ter sido açoitado e recebido a coroa de espinhos.
Resplendor, Cetro, Coroa de Espinhos, Relicário e Cordas, fazem parte da composição da imagem. São peças da joalheria nacional do século XVIII, cheias de representatividade teológica.
O cume da festividade do Santo Cristo acontece no quinto domingo depois da Páscoa com a procissão nas ruas cobertas de flores da cidade, revelando as profundas necessidades dos fieis peregrinos. Eles pedem por intervenções na área material, mas, principalmente, na espiritual.