Monsenhor Giovanni Barrese avalia atitude do Papa como gesto de extrema humildade
O Papa Bento XVI (Joseph Ratzinger), que tem 85 anos, anunciou a renúncia na semana passada e afirmou que vai deixar a liderança da Igreja Católica Apostólica Romana devido à idade avançada, por não ter mais forças para exercer as obrigações do cargo. Em Atibaia, o Monsenhor Giovanni Barrese disse que se surpreendeu com a notícia, mas avaliou a atitude do Papa como um gesto de extrema humildade.
“Nós, da igreja, devemos ter consciência de que qualquer cargo só tem sentido se for serviço. Claro que a renúncia do Papa surpreendeu, porque não é algo comum, há séculos isso não acontecia. Porém, humanamente falando, pretender que uma pessoa com 85 anos, bem fragilizada, continuasse a responder pela Igreja Católica, era muita coisa”, afirmou o Monsenhor Giovanni. “Penso que ele teve um gesto de extrema humildade, simplicidade e coerência, de perceber que não tendo condições de administrar tudo isso, o melhor seria se afastar”, acrescentou.
Na opinião do Monsenhor, a idade foi determinante para essa decisão. “Sem dúvidas, pesou muito. A saúde do Papa também está fragilizada. Associado a isso existem as dificuldades do cargo, as tensões dentro da igreja e as respostas a essas mudanças que estamos vivendo. Todos os valores estão sendo virados de cabeça para baixo.”
O Monsenhor acredita que a maior parte das pessoas recebeu a notícia com profundo respeito à decisão do Papa. “Tenho acompanhado as manifestações dos governos, dos jornais europeus e todos tratam dessa forma. Naturalmente, agora surgem as especulações, mas não estranho isso”, afirmou.
O Monsenhor ressaltou ainda a importância do Papa. “Na igreja, como qualquer outra instituição, existem pensamentos diferentes. Por exemplo, tem pessoa que pode ir para extrema direita ou para extrema esquerda, o Papa é aquele que vai orientar e ajudar a não desviar do caminho.”
Durante a trajetória do Papa Bento XVI, que durou oito anos, Monsenhor Giovanni afirmou que se surpreendeu com o pontificado dele. “Ao exercer um cargo tão importante na congregação da doutrina da fé, que tem que cuidar da ortodoxia da igreja, o Papa tomou atitudes muito severas, que, em alguns casos, ao meu ver, não eram necessárias e poderiam ser decididas por outro caminho, mas mesmo assim, seu pontificado foi sereno”, disse.
“Ele trabalhou para que houvesse uma fidelidade ao Evangelho e a gente não caísse no relativismo, ou seja, nada mais tem sentido. Bento XVI se empenhou muito nessa área e por conta disso não foi compreendido. Nos dias de hoje, as pessoas acreditam que tem que mudar, porque tem que mudar”, ressaltou.
Monsenhor Giovanni avalia como positivo o pontificado de Bento XVI. “Acredito que cada Papa acrescenta a sua época alguma característica fundamental. Cada um exerce sua missão. Bento XVI teve o encargo de manter a unidade da igreja, fez aquilo que em consciência deveria fazer. Agora vamos esperar para ver o que vai acontecer.”
O Vaticano prevê que o conclave de cardeais deve escolher o novo Papa até a Páscoa. A renúncia de Bento XVI vai se formalizar no dia 28 de fevereiro, uma quinta-feira. Até lá, o Papa estará totalmente encarregado dos assuntos da igreja e irá cumprir os compromissos já agendados, segundo a Santa Fé.