Nenhum poder emana do povo, mas de Deus
O projeto de lei que é objeto do destrambelhado movimento pró-vida é um desastre. Decerto poucos entenderam que mecanismo ele apresenta, que é este: O conceito de “viabilidade fetal, presumida após as 22 semanas”. Isto porque a interrupção da gravidez realizada em caso de viabilidade fetal, equipara-se a homicídio. A confusão que isto criará é tremenda e, para ser breve, redundará na discussão de que se não há viabilidade fetal, não há crime. Não decorre isto da literalidade da lei, mas da péssima redação do projeto. Um projeto corajoso e correto simplesmente equipararia a interrupção da gravidez ao homicídio, sem condições. E alguns dirão que isto não passaria. E eu digo que este projeto, com esta redação, tem chances de passar porque colaborará com a agenda revolucionária. É um cavalo de troia. É dar um passo para trás e dar dois para frente. Infelizmente, a militância católica é muito… militante. Rousseau disse que é impossível combater os católicos porque eles não se abalam nem com os sucessos nem com os fracassos do mundo, e seguem sempre se confiando nos seus apelos à ação da Providência. Em Fátima, o anjo que acompanhava Nossa Senhora exorta a fazer “penitência! penitência! penitência!”. Mas agora, dado o frenesi do web ativismo de sofá, todos se engajam em ações virtuais que se enredam no sistema da democracia liberal. E acham que combatem o bom combate, quando, na verdade, nem estão combatendo, pois para nós, a luta e o sacrifício pessoal, na carne, são indissociáveis. O demônio não tem pressa e sabe que pode criar do dia para noite o genocídio de bebês oficializado no Brasil, e por isto vai espalhando estas bombas-relógios, com desdobramentos surpreendentes – mas só são surpreendentes para quem aceita agir no mundo como se fosse do mundo, e se conformou com estas estruturas de poder que existem para dissimular e fazer crer que o povo, de fato, pode participar de alguma decisão. Nenhum poder emana do povo, mas de Deus. E o povo, querendo agir conforme o mandado liberal, que é o oposto disso, atua contra Deus. Lamento. Isto está muito mal, e pior ainda porque a unanimidade dos influenciados, leigos e sacerdotes, com penetração suficiente para orientar o rebanho disperso pela Igreja (verdadeira, claro!) infectada de modernismo até a medula não veem e, arrisco de dizer, às vezes, fingem não ver (para continuar sob os aplausos da massa) a movimentação das peças negras do tabuleiro que, com a paciência de empenhar décadas e séculos, vai preparando um xeque mate.