O abismo entre a fé dos católicos e a incredulidade de seus próprios pastores
Todos os seres humanos tentam encontrar razões profundas quando se deparam com atitudes veementes, especialmente quando elas se apresentam como uma oposição. Assim, quando alguém se mostra como radicalmente contrário a nós, tentamos remontar a um por quê: qual a causa de tamanho contraste?
Esta é a mesma pressuposição que um católico devoto tem em relação à oposição de bispos e padres àquelas coisas que até anteontem eram de regra na Igreja: o latim, o canto gregoriano, a solenidade litúrgica, a modéstia, a piedade mariana, a mortificação corporal, a recepção respeitosa da Santa Comunhão, o uso memorável do véu, dentre tantas outras coisas.
Há algum tempo, chegou-nos uma carta escrita por certo bispo brasileiro em que depreciava vivamente o uso de cantos em latim nas missas solenes em seu seminário, especialmente em missas com as famílias dos alunos, pois alegava que isso seria pura ostentação e auto-afirmação de superioridade… O mais curioso é que ele fazia uma ressalva: ele gostava demais do canto “Anima Christi”, possivelmente referindo-se à melodia que se tornou popular, de autoria de Mons. Marco Frisina.
O que aquele nada piedoso bispo estava subliminarmente reconhecendo era que os seminaristas, ao cantarem em latim, estavam causando um constrangimento à ignorância dele e que isso nada, absolutamente nada, tem a ver com o povo.
Quanto mais um ser humano é desprovido de inteligência, menos age por motivos profundos: é vítima de sentimentos inassimilados racionalmente, permanece refém de emoções que o dominam por completo.
A destruição intelectual do clero católico não é um elemento secundário no surgimento dos ogros de mitra e estola que aterrorizam as nossas igrejas. Pior: a cada dia que um jovem passa na esmagadoria maioria dos seminários brasileiros, ele se torna mais incapaz racionalmente, degenerado moralmente, agredido esteticamente, enfim, regride de maneira drástica. Após longos anos, salvo milagres, torna-se alguém completamente incapaz de apreciar qualquer coisa de boa e elevada, não por sua própria culpa, mas por culpa daqueles a quem ele teve de bajular durante todos os seus anos de deformação.
Além disso, e o reconhecemos com enorme tristeza, boa parte dos padres atuais são pessoas medíocres, homens que se encostaram na Igreja. Se tivessem de enfrentar o mundo laico, não seriam ninguém, por exemplo, no campo corporativo ou na esfera intelectual. Engordariam o número dos desocupados por pura incompetência.
Antigamente, o sacerdócio implicava uma posição de prestígio; hoje, como os fatos demonstram, não mais.
Em outras palavras, como é que um bispo se sente, por exemplo, diante de um jovem que sabe mais latim do que ele, que entende muito mais de liturgia do que ele, que tem infinitamente mais erudição do que ele? Muito provavelmente, com ódio! E este ódio é formulado em termos racionais apenas depois de ser sentido: ou seja, os eclesiásticos criam argumentos a posteriori para escorar os seus sentimentos mais baixos, fazendo a apologia de sua própria vigarice em termos aparentemente elevados, forjados segundo uma eclesiologia supostamente arrojada, mas que não passa do embrulho muito mal fabricado de um complexo de inferioridade puro e simples.
Como, ademais, estes mesmos padres foram formados numa teologia alérgica ao sobrenatural, que utilizou a linguagem teológica apenas como recurso retórico da própria interpretação naturalista da revelação, então, entre eles e um fiel qualquer existe um verdadeiro abismo, o abismo que há entre a fé e a incredulidade. A diferença dos incrédulos do altar e de um incrédulo qualquer não é apenas o desnível intelectual daqueles, mas é também o fato de que aprenderam a mascarar a própria incredulidade com um verniz teológico. A Nouvelle Théologie inteira não passa disso: uma incredulidade teologizada.
Ora, se um fiel católico normal não é apenas mais inteligente que um padre formado durante uma década, mas também tem uma fé não apenas mais vibrante, mas intelectualmente mais profunda, então, aquele ódio torna-se uma verdadeira aversão. Eles não podem suportar um católico, antes, precisam retirar todos os que puderem de suas vistas. Entenderam, moças fiéis, por que o seu simples e inofensivo véu é tão incômodo? Não é uma questão de escolha, é uma necessidade vital: a existência de católicos verdadeiros torna-se, para eles, um escândalo, algo que precisa de qualquer modo ser retirado do seu horizonte, sob pena de serem ininterruptamente torturados.
Dizendo-o de maneira simples: eles sempre acusam os bons católicos de serem pessoas que se julgam melhores do que as outras, mas não. Não somos nós que somos melhores, são eles que são muito ruins! Por isso, eles jamais poderão reconhecer a verdade dos fatos, pois isto os obrigaria a voltarem para as suas casas, a regressarem para o anonimato do qual jamais deveriam ter saído.
Quando você estiver diante de um bispo, de um padre, de um papa com essas características, entenda: ele não conseguirá jamais te amar, pois você representa tudo aquilo que os humilha por inteiro; o ódio que eles sentem por você não é pelo que você faz, mas por quem você é. A sua existência é um empecilho. Eles têm que te destruir!
Portanto, deixe de se culpar por ser católico. Nós teremos que suportar ainda, nesta nossa humilde posição de leigos, o preço de sermos espezinhados por quem deveria nos apascentar. Precisaremos pagar o preço da ignorância e da incredulidade deles, de uma ignorância presunçosa e de uma incredulidade teologizada.
(Por G. M. Ferretti)