Doutrina

O SACRIFÍCIO PERFEITO – INCRUENTO (Última Ceia – Primeira Missa)

Paramentos Litúrgicos

Na véspera de sua morte, Jesus reuniu-se com os doze apóstolos para uma ceia – a Última Ceia. Na mesa, havia pão e vinho. Jesus, bezendo o pão, disse: “Tomai e comei, isto é o meu Corpo”. Benzendo o vinho, disse: “Tomai e bebei, isto é o meu Sangue”. O Sacrifício cruento foi antecipado. Na véspera, Ele já se entregava – para “permanecer conosco até a consumação dos séculos”. Como alimento de vida eterna.

Jesus nasceu em Belém, na “casa do Pão”. O sacerdote Melquisedeque (Gn 14, 18) oferecera um sacrifício de pão e vinho. Quando, perseguidos, caminhavam no deserto, os judeus foram alimentados por um pão misterioso – o maná (Ex 16). Uma vez, exausto, o profeta Elias desejou morrer. Mas precisava ainda, percorrer um grande caminho. E um pão milagroso o sustentou (3Rs 19, 3-8).

Por duas vezes, Jesus realizou o milagre da multiplicação dos pães e, referindo-se a isso, declarou ser Ele próprio o “Pão da Vida”. Agora, na Última Ceia, aquelas figuras se realizam: “Tomai e Comei, isto é o meu Corpo”. “Tomai e bebei, isto é o meu Sangue”.

E, pela primeira vez, os apóstolos comungaram. E tiveram a ordem de perpetuar aquela Ceia – Ceia que era um sacrifício – em que a Vítima era consumida. Ceia que era um sacrifício – o mesmo da cruz (antecipado) em que o mesmo Sacerdote e mesma Vítima, o “cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, restabelecia a ligação entre o Céu e a terra, propiciando ao homem a veste (da graça) para que este, como filho de Rei, pudesse apresentar-se na casa do Pai.

Jesus ia morrer no dia seguinte. E o sabia. Mas antecipava o sacrifício. Oferece-se antes. Como pão. Como alimento. Na mais completa entrega. Para permanecer conosco. Sustentando-nos. Escondido no pão. É um mistério de amor.

Aos céticos, aos que duvidam, aos racionalistas, lembro, simplesmente, que a fé é um Dom de Deus. E que Deus gosta de se revelar aos pequenos. É preciso humildade. Não pensem que não creem porque raciocinam. Os irracionais não tem fé. A fé é própria do homem- justamente porque é racional. Quem só aceita o testemunho dos sentidos, só crendo no que vê, no que sente, no que ouve, não está usando a inteligência. Até aí, ela não precisa funcionar.

Mas para crer em coisas mais altas, precisa-se de algo superior aos sentidos, precisa-se pensar. Por isso, a fé e um ato de inteligência. É ao que temos de especificamente humano (inteligência e vontade). Deus nos trata com dignidade e é para o que temos de mais nobre que Ele apela.

Na Última Ceia, pois, Jesus ofereceu-se sob forma de pão. De pão consagrado. E os apóstolos alimentaram-se de Deus.

Para viver precisamos de alimento. Para que nosso corpo viva 70, 80 anos – quando muito – alimentamo-nos, diariamente, várias vezes. E para a nossa alma viver, não 70 ou 80 anos, mas eternamente, nós a alimentamos? Eis um assunto a ser pensado.

Há diversos alimentos da alma: a oração, a meditação, a boa leitura, o estudo, a boa conversa, etc.  Porém, de todos, o melhor é, sem dúvida, a Comunhão. Quando nos alimentamos com leite, carne, ovos, legumes, estes alimentos transformam-se em proteínas, vitaminas, sais minerais, etc.

E, assimilados, passam a fazer parte do corpo – de nosso carne ou nosso sangue. Nós lhes somos superiores e os absorvemos. Quando nos alimentamos da Hóstia consagrada, passa-se o contrário. Este alimento (espiritual) nos é superior e nos absorve. Daí a frase de Santo Agostinho: “Não Vos humanizais em mim; eu é que me divinizo em Vós”.

Na Hóstia consagrada, a presença de Cristo mantém-se enquanto duram as espécies (de pão); Jesus fica presente na Hóstia de pão, que conserva sua matéria própria, com suas características de cor, cheiro, sabor, etc. O que muda é a substância – deixando de ser pão, para tornar-se Cristo – Por isso, este milagre é chamado de transubstanciação.

Na Última Ceia, no pão consagrado, os apóstolos não viram a aparência de carne. Também, no vinho, nenhum deles percebeu aparência de sangue. No entanto, eles acreditaram. “O interior de um ovo transforma-se num pássaro vivo – e a casca permanece a mesma” (S. Tomás de Aquino).

Jesus não instituiu só para os apóstolos este sacrifício (incruento), em que os convivas se alimentam da Vítima. “Fazei isto em minha memória” – disse Ele, pensando em nós. E “isto em Sua memória”, é a missa – em que nós somos os participantes.

Na mesa (o altar), no ofertório, o sacerdote, representando Cristo, oferece pão e vinho. Quando, na consagração, ele repete as mesmas palavras de Jesus, o pão e o vinho tornam-se o Corpo e o Sangue do Senhor. Na Comunhão, nós nos alimentamos de Deus. Essas são as três partes essenciais da missa – repetição do que se passou na última Ceia e no Calvário.

No Calvário, Jesus ofereceu-se de maneira sangrenta – o Cordeiro foi imolado. Nos altares, como na Ceia, o mesmo Cordeiro é oferecido ao Pai e entrega-se aos homens. No Calvário, o sacrifício foi cruento.

Na Ceia e na missa é incruento.

Mas o sacrifício é o mesmo. Porque mesmo é o Sacerdote e mesma é a Vítima. E mesma é a doação. Mesmo é o amor. “A missa procede do Calvário, de onde lhe vem a energia espiritual e salvífica; e procede da Ceia, de onde vem do modo incruento e tranquilo de realizar o mesmo sacrifício”

Um é, pois, o Sacrifício – e perfeito. Por causa da Vítima e do Pontífice. E por causa da oblação – ato de Sua Vontade: “Porque Ele mesmo quis”, como disse Isaías. E por ser Ele o Único que podia dispor de sua vida (Jo 10, 18).

Por ter o valor da Ceia e da Cruz, a Missa atinge plenamente – e realmente – o que os antigos buscavam em seus sacrifícios. A Missa é o ato de culto em que, da maneira mais perfeita, se adora, louva e agradece a Deus, pedindo-lhe perdão e ajuda.

É o próprio Cristo, o Filho de Deus, Sacerdote e Vítima, quem, por nós, adora, louva e agradece ao Pai; quem, por nós, ao Pai, suplica o perdão para os nossos pecados e o auxílio para a nossa miséria.

Por isso, o sacrifício da missa (também chamado de Eucaristia, isto é, ação de graças) é o centro de toda a Liturgia Católica. É a oração mais perfeita, o ato mais sagrado que existe entre os homens. A missa não é simplesmente “uma assembleia de fiéis”, em que todos se unem, dando as mãos. É muito mais do que isso.

E a união deve ser muito mais profunda. Tendo o mesmo valor do sacrifício do Calvário, nela se encontra a mesma fonte de graças, de vida e santidade. Devemos participar. Comungando. Jesus – por nós – Sacerdote e Vítima, não nos pede, simplesmente, “a assiduidade nas cerimônias indolores.

Ele nos pede a nossa dor e nos diz que nossa pobre dor habitualmente tecida somente de miséria, de medo, de tristezas e, à vezes, ate de revolta, sim, Ele nos diz que nossa dor pode e deve tornar-se fundida em Sua dor e assim poderemos, de algum modo, diuturnamente hiperbólico, completar no Corpo Místico o que faltou na Paixão” (Corção).

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