Papa Bento XVI faz elogio aos mosteiros de clausura e ao “silêncio”
Bento XVI deixou um elogio aos mosteiros de clausura e ao “silêncio”, alertando para o risco de a “virtualidade” se sobrepor à “realidade” nas sociedades contemporâneas.
“O progresso técnico, nomeadamente no campo dos transportes e das comunicações, tornou a vida do homem mais confortável, mas também mais frenética, por vezes convulsa”, disse, na homilia da celebração de vésperas a que presidiu na cartuxa local, erigida no século XI por São Bruno, fundador da Ordem Cartusiana.
Segundo o Papa, nas cidades de hoje “raramente há silêncio”, mesmo durante a noite, e o desenvolvimento dos meios de comunicação “difundiu e ampliou um fenómeno que já se sentia nos anos 60: a virtualidade que se arrisca a dominar a realidade”.
“Cada vez mais e sem perceber, as pessoas estão imersas numa dimensão virtual, por causa das mensagens audiovisuais que acompanham as suas vidas noite e dia”, principalmente os jovens, apontou Bento XVI.
“Trata-se de uma tendência que sempre existiu, especialmente entre os jovens e nos contextos urbanos mais desenvolvidos, mas hoje alcançou um nível tal que se pode falar de mutação antropológica. Algumas pessoas já não são capazes de permanecer em silêncio e sozinhas”, alertou o Papa.
Na sua homilia, Bento XVI falou do carisma da Ordem dos Cartuxos, cujos religiosos vivem em silêncio e na clausura, declarando que cada mosteiro, feminino ou masculino, é um “oásis”, mostrando à sociedade de hoje que “o silêncio e a solidão são necessários”.
"Mesmo que vivam num isolamento voluntário, na realidade estão no coração da Igreja, fazem correr nas suas veias o sangue puro da contemplação e do amor de Deus”, disse aos monges.
O Papa esteve em Serra São Bruno, na Calábria, sul de Itália, após uma viagem de helicóptero, naquela que foi a sua 25ª visita a localidades transalpinas.
Esta é uma localidade que se desenvolveu em volta da cartuxa de Santo Estêvão, devendo o seu nome a São Bruno, fundador da Ordem dos Cartuxos, em 1084, na cidade francesa de Grenoble.
O religioso viria a morrer na cartuxa da Serra São Bruno em outubro de 1101, seis anos após a sua edificação.
Antes de visitar este local, o Papa encontrou-se com a população local na Praça de Santo Estêvão, elogiando o papel dos mosteiros católicos como “modelo de uma sociedade que põe no centro Deus e a relação fraterna”.
Referindo-se à cartuxa como uma “cidadela do Espírito”, Bento XVI observou que a existência neste local, desde há mais de mil anos, de uma comunidade monástica que remonta a São Bruno “constitui uma constante lembrança de Deus, uma abertura para o Céu e um convite a recordar que somos irmãos em Cristo”.
O Papa referiu-se a um clima social em que “não é só Deus que é marginalizado, mas também o próximo, e as pessoas já não se empenham a favor do bem comum”.
“De fato, por vezes, o clima que se respira nas nossas sociedades não é sadio, está poluído por uma mentalidade que não é cristã, nem sequer humana, porque dominado por interesses económicos, preocupado apenas com as coisas terrenas e carecido de uma dimensão espiritual”, observou.