Papa Francisco pede que igreja “atue com determinação” contra a pedofilia
O papa Francisco exigiu que se "atue com determinação" diante dos abusos sexuais cometidos por religiosos, ao receber os membros da Congregação para a Doutrina da Fé, encarregada de tais denúncias, no Vaticano.
"O Santo Padre recomendou, em particular, o prosseguimento da linha de seu antecessor Bento 16 de agir com determinação nos casos de abusos sexuais", indicou em um comunicado o Vaticano.
A nota também destaca o pedido do Pontífice para que as conferências episcopais "trabalhem na formulação e atuação das diretrizes necessárias nesse campo tão importante para o testemunho da Igreja e da sua credibilidade".
É a primeira vez que o pontífice latino-americano se pronuncia sobre as milhares de denúncias em todo o mundo contra padres pedófilos.
O Papa confirmou que preconizará a tolerância zero, como Bento 16, e convidou a hierarquia da Igreja a promover "acima de tudo medidas de proteção dos menores", ressalta a nota divulgada pelo gabinete de imprensa da Santa Sé.
Francisco também pediu para que "todos aqueles que foram vítimas de violência no passado sejam ajudados". E disse ainda "em minha atenção e em minha reza por aqueles que sofrem, as vítimas de abusos estão presentes de modo particular".
O novo pontífice, eleito em 13 de março para substituir Bento 16 após sua renúncia, pediu para que sejam impulsionados "os procedimentos devidos contra os culpados".
O escândalo dos sacerdotes que abusaram de crianças e adolescentes explodiu primeiro nos Estados Unidos no início dos anos 2000.
Em 5 de fevereiro, a Congregação para a Doutrina da Fé informou que nos últimos três anos chegaram ao Vaticano 1.800 denúncias de casos de abusos sexuais a menores por parte de clérigos e que a maioria deles ocorreram entre 1965 e 1985.
O maior número de denúncias aconteceu em 2004, quando chegaram 800 ao dicastério vaticano, encarregado desse tipo de crime e que enviou em 2011 a todas as Conferências Episcopais um guia para enfrentar, de maneira "coordenada e eficaz", os casos de padres pedófilos.
Em 2010, por ordem de Bento 16, foi atualizado o documento vaticano De delicta graviora, de 2001, sobre os crimes mais graves contra a moral e os sacramentos, dentro da linha de "tolerância zero" contra os abusos do papa anterior, que renunciou ao pontificado em 28 de fevereiro.
Com a atualização, houve uma reviravolta na luta contra os padres pedófilos, sendo aprovadas leis entre as quais se destaca a ampliação de 10 para 20 anos para denunciar os abusos e a introdução do crime de aquisição, posse e divulgação de pornografia infantil.
A maior parte dos casos data das últimas décadas, mas outro crime ainda viria se somar ao cometido pelos sacerdotes: o silêncio que cobria os atos. Alguns padres eram transferidos ou protegidos pelos prelados.
A Igreja da América Latina também conheceu uma série de escândalos. O mais famoso foi o do fundador mexicano do movimento conservador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, também culpado de abusos sexuais.
O papa Bento 16 pediu perdão em várias ocasiões em nome da Igreja Católica às vítimas e impulsionou a tolerância zero.
Em maio de 2011, a Congregação para a Doutrina da Fé deu o prazo de um ano às conferências episcopais do mundo inteiro para adotarem as diretrizes em matéria de luta contra a pedofilia, que envolvem colaborar com a justiça civil.
O promotor para a luta contra os casos de pedofilia, Monsenhor Charles Scicluna, indicou recentemente à Agência de Informações sobre o Vaticano I.Media que "em meados de setembro, 75% das conferências episcopais enviaram uma resposta".