Discussão

Papiro revelado por professora de Harvard não influencia em nada a doutrina católica, diz Vaticano

Paramentos Litúrgicos

O Vaticano já se pronunciou sobre o papiro revelado por uma professora de Harvard e que abriu a discussão sobre a possibilidade de Jesus ser casado. Federico Lombardi, o porta-voz da Santa Sé, frisou que a origem do documento é desconhecida, admitindo, ainda assim, que "isso não muda em absoluto a posição da Igreja, que se baseia numa longa tradição muito clara e unânime".

"Não muda em nada a visão sobre Cristo e os Evangelhos. Este acontecimento não tem influência alguma sobre a doutrina católica", acrescentou Federico Lombardi à agência AFP.

O interesse pelo tema foi suscitado por Karen King, a professora da Escola de Teologia de Harvard que apresentou no X Congresso Internacional de Estudos Coptas um fragmento de um papiro onde se pode ler – em copta, a língua dos antigos cristãos que habitavam o Egito – a frase: "Jesus disse-lhes: 'A minha mulher'".

Ainda que Karen não o defenda como "uma prova" de que Jesus foi casado, a investigadora afirma que o papiro mostra "que a questão derivou de enérgicos debates sobre a sexualidade e o matrimónio". O documento será uma prova sim de que "alguns cristãos acreditavam que Jesus esteve casado", muito possivelmente com Maria Madalena.

O teológo Anselmo Borges está também "convencido que a autenticidade do documento vai ser discutida", embora este caso o deixe mais impressionado pelo facto de verificar que, "quando aparecem estas coisas, a curiosidade das pessoas é superior à curiosidade que têm pela mensagem de Jesus, que é o essencial".

Ao jornal Expresso, este padre afirmou que é também preciso não esquecer que o papiro terá sido escrito "300 anos depois de Jesus histórico". E conclui: "Há também autores que levantam a hipótese de Jesus ser viúvo e um texto dos evangelhos gnósticos que fala da relação com Maria Madalena, por causa de se beijarem na boca. O beijo correspondia a um ritual de iniciação gnóstica de união mística com Deus, que não deve ser confundido com intimidade sexual. E, por outro lado, há referênciaa a S. Pedro ser casado, por isso não vejo que problema haveria em ser feita também essa referência no caso de Jesus. Se foi casado não me faz confusão, essa não é a verdadeira questão".

Antes de ser apresentado, uma análise prévia, realizada no Instituto para Estudos do Mundo Antigo, em Nova Iorque. O organismo confirmou a autenticidade do fragmento, que tem cerca de quatro por oito centímetros e é datado do século IV, mas não se conhece a sua origem. Sabe-se apenas que é propriedade de um coleccionador anónimo.

A própria Karen King admitiu que "a sentença final sobre o fragmento depende de novas análises por parte de colegas e da realização de mais testes, especialmente sobre a composição química da tinta".

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