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SÍNODO: Em entrevista, cardeal brasileiro, repercute temas tabus levados à Igreja pelo Papa

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O cardeal arcebispo de Aparecida Dom Raymundo Damasceno de Assis, não está participando Festa da Padroeira em Aparecida (SP) neste ano. No Vaticano, ele participa da 14ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos até próximo dia 25.

Um dia antes de partir para a assembleia, o G1 esteve com o religioso,  que conversou sobre temas considerados polêmicos e recentemente abordados pelo pelo Papa Francisco. Entre eles estão o homossexualismo, a nulidade do casamento e o aborto. O pontífice em suas declarações, fez um apelo por por Igreja mais tolerante e próxima do povo.

Dom Raymundo também falou à reportagem sobre a possibilidade do Papa vir à Aparecida em 2017 celebrar o jubileu de 300 anos que a imagem de Aparecida foi encontrada no Rio Paraíba.

Veja a entrevista na íntegra:

G1: Por diversas vezes, o Papa Francisco criticou a Cúria Romana, a máquina central da Igreja, alvo de intrigas e escândalos financeiros. Quanto aos casos de escândalos envolvendo membros da igreja, entre eles padres, o senhor acha que isso está mudando?

Dom Raymundo: 
Sim, não há dúvidas. Ele [Papa] nomeou uma comissão para reestruturar o Instituto para as Obras Religiosas (I.O.R.) de maneira a adequar as normas do Banco Central da União Europeia, é um grande avanço.  A comissão existe com grandes especialistas no mundo das finanças. Avançou muito e continua avançando, apesar de que a adaptação do IOR se faz aos poucos, pois é longa. Hoje as congregações romanas são poucas [nove], que correspondem aos nossos ministérios no governo civil. Temos ainda os nossos institutos, pontifícios que tratam de temas específicos. Mas o Papa quer simplificar mais, apesar da estrutura não ser tão grande. Ele tem a preocupação de personalizar a Cúria, continuar com essa linha e organizar os organismos da Cúria Romana em um único organismo, única congregação. Isso está em estudo. 

G1: 
Em 2013, o Papa Francisco falou aos jornalistas sobre a homossexualidade. Disse que 'se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas e que devem ser integradas à sociedade'.  Com a declaração, acredita que o Papa tenha ganhado fiéis e aberto um novo horizonte na Igreja Católica?

Dom Raymundo: 
Ele mostrou a sensibilidade, o respeito e o desejo de se aproximar e acolher as pessoas, independente da sua crença e orientação sexual. Cada pessoa tem uma dignidade especial e merece respeito, não pode ser discriminada de modo algum pela sua orientação sexual. Se a pessoa deseja, a igreja deve acolher e dar orientações. O Papa quer mostrar uma igreja samaritana, aquela que vai ao encontro dos abandonados, dos feridos e dos excluídos para ajudá-los a recuperar sua dignidade.

G1: No início de setembro, o pontífice se manifestou a respeito da permissão aos padres em perdoar formalmente as mulheres que tiveram abortos e buscaram perdão. Como isso ocorrerá na prática?
 

Dom Raymundo:
 Antes de tudo, para a pessoa ser perdoada é preciso se arrepender e fazer um propósito de não repertir a falta em que caiu. O aborto é um pecado cuja absolvição era reservada aos bispos, que podiam delegar determinados padres a autoridade para absolvição. Agora o Papa Francisco estendeu esse poder a todos os padres do mundo inteiro. Inclusive, quer constituir um grupo de missionários com poderes especiais para absolver certos pecados, inclusive os reservados à Santa Sé. O Papa quer facilitar a misericórdia, o perdão de Deus. Hoje, a mulher recorre ao padre sigilosamente e, se ele não tiver esse poder, recorre ao bispo. [Mesmo assim] Ninguém pode atentar contra a vida de ninguém. A vida é dom, presente de Deus.

G1:
 Em setembro, o Papa Francisco anunciou mudanças no procedimento para a nulidade do casamento e chegou a dizer que em alguns casos, a separação é inevitável. O que isso significa para a Igreja Católica?

Dom Raymundo:
 O Papa Francisco procurou simplificar o processo canônico de declaração de nulidade do matrimônio. Quer facilitar a o aceso à Justiça na igreja e não facilitar a dissolução do casamento. Para igreja, o sacramento do matrimônio é indissolúvel, ninguém pode dissolver um casamento válido. Mas pode acontecer, por uma razão, em que o casal suspeita da validade. Como por exemplo, o casamento forçado, pensado até que podia dar certo, mas a convivência não funciona. Essa pessoa procura o tribunal eclesiástico, que é longo e demorado. Tem a primeira e segunda instância, mas a outra pessoa pode recorrer até a terceira instância, que é a Santa Sé. Isso dificultava algumas pessoas em obter uma resposta do tribunal, que demorava na sua sentença. Poderia levar de três a cinco anos. Hoje, basta a sentença do primeiro tribunal, que declara a nulidade do matrimônio e a pessoa se torna 'livre'  e pode contrair uma segunda união. Friso mais uma vez, que é a simplificação da declaração de nulidade do matrimonio, pois o matrimônio está fundado no evangelho: aquilo que Deus uniu, o homem não separa.

G1:
 Nos últimos anos, a Igreja Católica vem perdendo fiéis no Brasil. O senhor acha que declarações como essas, sobre homossexuais, perdão do aborto e mudanças nas regras para tornar nulo o casamento mostram um abertura maior da igreja liderada pelo Papa Francisco e podem atrair novamente os fiéis?

Dom Raymundo:
 A igreja não está mudando sua doutrina sobre o matrimônio. Ela está facilitando o acesso das pessoas à Justiça na igreja, no tribunal eclesiástico e não à nulidade do matrimônio. A igreja não admite o divórcio, é indissolúvel. Acredito que as pessoas se animaram a participar da igreja devido a situações que estão vivendo e diante dos procedimentos mais ágeis.

G1:
 Durante visita ao Brasil em 2013, o Papa Francisco disse que voltaria. Como foi o encontro com ele? Tem alguma data prevista?

Dom Raymundo: 
Não há data prevista. Durante o Sínodo dos Bispos farei um convite formal ao Santo Padre para visitar Aparecida em 2017, por ocasião dos 300 anos do encontro da imagem no Rio Paraíba. Quando o Santo Padre esteve em Aparecida, na Jornada Mundial da Juventude, manifestou o desejo de voltar. Ele se despediu da grande multidão em frente à Basílica, onde fica a tribuna em homenagem ao Papa Bento 16, dizendo até 2017. Em entrevista a rádio Renascença, em Portugal, ele se referiu explicitamente à Aparecida e disse que tinha feito uma promessa e que pretendei vir. Vou formular o convite à ele, na expectativa de que aceite. Será motivo de muita alegria para os devotos de Nossa Senhora Aparecida e todo o povo brasileiro. Fazemos votos que o Papa tenha saúde e condições físicas para realizar uma viagem tão longa como essa, ao Brasil. 

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