Cardeais começam encontros que preparam conclave para eleger novo Papa
Os cardeais da Igreja Católica começaram na manhã desta segunda-feira (4) a primeira das congregações gerais que precedem o início do conclave para eleger o novo Papa.
O encontro, marcado para as 9h30 locais (5h30 de Brasília), começou com alguns minutos de atraso.
Vários cardeais entraram a pé. Muitos conversaram com a imprensa.
Outros entraram de carro, e um grupo chegou em uma van.
"É uma jornada espiritual de que temos que participar. Vamos trocar informações", disse o cardeal indiano Baselios Cleemis Thottunkal, de 53 anos, o mais novo do conclave. "É a primeira vez que participo; não sei o que vai acontecer. Vamos decidir juntos e analisar juntos as questões que a Igreja tem de enfrentar, como a Igreja vai enfrentar."
Questionado sobre se acha se o próximo Papa tem de ser italiano, ele afirmou que "a Igreja não é um continente, de uma língua. Ela é universal".
O arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, disse que não dá para antecipar as questões que serão discutidas no conclave.
"Tem tanta coisa que é preciso que ele [o novo Papa] seja capaz de fazer, além de ser poliglota, de ser um homem de fé e de rezar, de ser capaz de compreender civilizações diferentes, de diálogo, de escuta…", disse, ao ser questionado sobre o perfil do novo pontífice.
O cardeal André afirmou que "não é indispensável" que o próximo Papa seja jovem.
O francês também disse que o próximo Papa terá de tratar da questão do VatiLeaks, escândalo de vazamento de documentos sigilosos do Vaticano.
O acesso dos cardeais, durante o conclave, a um dossiê feito a pedido do agora Papa Emérito Bento XVI, em resposta ao VatiLeaks, e que conteria relatos sobre irregularidades no Vaticano, vem sendo um dos temas tratados antes do início do processo de escolha papal.
André Vingt-Trois disse que "não necessariamente" quer ter acesso ao documento.
As congregações ocorrem quatro dias após a histórica renúncia de Bento XVI, que deu início ao período conhecido como Sé Vacante, em que a liderança da Igreja Católica fica desocupada.
Nas congregações, os cardeais discutem os problemas da Igreja, debatem o perfil do novo pontífice e acertam os detalhes que envolvem o conclave.
Eles também irão definir a data de início da eleição.
Segundo o padre Lombardi, apenas quando todos os cardeais eleitores estiverem em Roma (menos aqueles que notificarem formalmente que não irão participar da eleição, dois até agora), será possível acertar a data em que o conclave será iniciado. Segundo Lombardi, as reuniões de segunda não devem definir a data;
O blog Vatican Insider, do jornal italiano "La Stampa", afirma que a data provável do início do conclave é 11 de março, uma segunda-feira.
Nada foi definido oficialmente por enquanto.
A Igreja espera ter um novo Papa antes das importantes celebrações da Páscoa, que começam no Domingo de Ramos, em 24 de março.
Alguns temas que devem ser abordados nas reuniões são a reforma da Cúria Romana (o governo da Igreja) e a investigação interna sobre o caso "VatiLeaks" (vazamento de documentos confidenciais do Vaticano), assim como os escândalos e polêmicas dos últimos anos: as acusações de acobertamento da pedofilia, a corrupção, a secularização em muitas regiões, a influência de outras religiões e os problemas morais relacionados com a família.
Não há um favorito claro entre os 115 cardeais-eleitores — os cardeais com até 80 anos de idade. Por isso, discretamente os participantes vão usar os encontros preliminares para avaliar potenciais candidatos.
Bento XVI encerrou na última quinta-feira seu complicado pontificado de oito anos prometendo obediência incondicional ao sucessor.
Ele é o primeiro papa em quase seis séculos a deixar o cargo com vida, o que cria uma série de situações praticamente inéditas para a vida da Igreja.
Os conclaves estão entre as eleições mais misteriosas do mundo, sem candidatos declarados, sem campanha eleitoral explícita, e com eleitores que muitas vezes conhecem poucos dos seus colegas. Todos eles juram manter segredo sobre os detalhes da votação.
Tradicionalmente, os conclaves começam 15 dias depois da declaração de "Sé Vacante", o que inclui o tempo para o velório e sepultamento de um Papa que morre. Mas Bento XVI baixou um decreto, dias antes de renunciar, autorizando a antecipação do processo eleitoral.
Os cardeais não terão acesso a um relatório secreto que foi preparado para Bento XVI por três cardeais não-eleitores, no qual eles detalham casos de má-gestão e disputas internas na Curia Romana, a burocracia vaticana. Mas os três autores do documento estarão nas congregações gerais e irão orientar os eleitores a respeito das suas conclusões.