Cardeal diz que novo livro do Papa é “histórico”
O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, disse hoje no Vaticano que o novo livro de Bento XVI sobre «Jesus de Nazaré» é “histórico” e inaugura uma nova etapa na leitura dos Evangelhos.
Em conferência de imprensa, o cardeal canadiano, que foi relator geral do Sínodo dos Bispos sobre a Bíblia, em 2008, assinalou que a “Igreja deve dar graças a Deus por este livro histórico, uma obra de charneira entre duas épocas, que inaugura uma nova era da exegese teológica”.
O novo livro de Joseph Ratzinger, Bento XVI, «Jesus de Nazaré – Segunda Parte. Do ingresso em Jerusalém até a ressurreição», disse Marc Ouellet, transporta o leitor para um “encontro com Jesus”, uma figura conhecida que se mostra “ainda mais próxima”.
“Jesus de Nazaré é mais do que um livro, é um testemunho comovente, fascinante, libertadora”, assinalou.
Para o cardeal canadiano, o propósito do actual Papa foi encontrar o “Jesus real, não o «Jesus histórico» do filão dominante da exegese histórica, os o «Jesus dos Evangelhos», escutado em comunhão com os discípulos de Jesus de qualquer tempo”.
“Jesus de Nazaré oferece uma magnífica base para um diálogo frutuoso entre pastores, teólogos e exegetas”, acrescentou.
Embora este não seja o “ensinamento oficial” da Igreja, para o cardeal Ouellet a obra de Bento XVI será “de grande ajuda para confirmar a fé de muitos” e fazer “avançar debates” prejudicados por “preconceitos racionalistas e positivistas”.
Esta obra muito “pessoal”, acrescentou, fala a quem quer que “se interesse pelo cristianismo”.
O membro da Cúria Romana abordou também a questão do “fundamento histórico do cristianismo”, que tem interessado o actual Papa deste os primeiros anos da sua formação.
“Para a Igreja é indispensável ligar aos factos e acontecimentos reais, mesmo quando neles existem «mistérios» que a teologia tem de aprofundar utilizando chaves de interpretação que pertencem ao domínio da fé”, precisou.
O prefeito da Congregação para os Bispos destacou o reforço da “ligação do cristianismo com o judaísmo”, presente nesta obra, e indicou que Jesus não é um Messias à imagem de cada “intérprete, influenciado pelas ideologias dominantes”.
Marc Ouellet deixou um apelo ao diálogo com outras tradições religiosas sobre o “sentido de Deus e do homem” que emana da figura de Jesus.
Aos jornalistas que enchiam a sala, o escritor italiano e germanista, Claudio Magris confessou que o livro de Bento XVI o “marcou profundamente”, por ir ao “fundo de questões essenciais”, mesmo para quem prescinde de “posições religiosas”
O especialista aludiu à “presença de um núcleo essencial, Jesus de Nazaré, nas mudanças de tradições que o fazem crescer no tempo, como uma planta, uma árvore”.
Na introdução do encontro, o director da sala de imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, falou numa “grande obra”, resultado de um longo “caminho interior”, nas próprias palavras do Papa.
Presentes estavam os responsáveis pelas sete edições da obra, incluindo a versão portuguesa, da responsabilidade da Principia Editora.
O diretor da Editora do Vaticano, padre Giuseppe Costa, reafirmou que a primeira tiragem foi de 1,2 milhões de exemplares (20 mil dos quais em Portugal), esperando, “dentro de um ano”, ter superado as vendas do primeiro volume, lançado em 2007.