Em meio a denúncias, Papa Francisco aumenta tom contra corrupção
Em meio a uma série de escândalos que estão balançando os pilares do Vaticano, o papa Francisco afirmou que "sempre há tentação pela corrupção", em uma entrevista concedida ao jornal holandês "Straatnieuws" e divulgada nesta sexta-feira (6) pela Rádio Vaticano. "Há sempre a tentação pela corrupção na vida pública, tanto política quanto religiosa", afirmou o líder da Igreja Católica. Comentando sobre filiações e tratados com partidos ou governos, Francisco reconheceu que não são ilícitos, mas que é preciso ter cautela. "É possível fazer acordos com governos, mas devem ser acordos claros, transparentes. Por exemplo, nós gerenciamos este prédio, mas as contas são controladas para evitar corrupção", disse.
A entrevista do argentino Jorge Mario Bergoglio vem um dia após o lançamento de dois livros que denunciam segredos e escândalos financeiros do Vaticano. "Avarizia" (Avarez, na tradução) e "Via Crucis", dos jornalistas Emiliano Fittipaldi e Gianluigi Nuzzi, já se esgotaram em várias livrarias da Itália e estão sendo chamados de "Valileaks 2", em referência ao vazamento de dados sigilosos da Santa Sé em 2012 e o qual contribuiu para a saída de Bento XVI. "Avarizia" afirma que milhares de euros foram gastos em voos de classe executiva, roupas sob medida e móveis finos no Vaticano, enquanto, por outro lado, Francisco tentava instaurar reformas financeiras na cúria e pregar um discurso de simplicidade.
Ainda segundo o livro, a Santa Sé gerencia dezenas de imóveis na Itália, no Reino Unido, na França e na Suíça. Somente em Roma, seriam cerca de cinco mil aparamentos.
Já "Via Crucis" relata as dificuldades enfrentadas pelo Papa para reformar o Vaticano. Citando documentos inéditos, Nuzzi conta os ataques de Francisco contra dirigentes de setores financeiros.
Além disto, nesta semana, veio à tona a denúncia que o cardeal Tarcisio Bertone, ex-secretário de Estado do Vaticano, teria usado recursos da Fundação Menino Jesus, que administra um hospital pediário em Roma, para reformar o apartamento cobertura em que vive. Nesta manhã, durante a tradicional missa na residência de Santa Marta, Francisco também afirmou que "existem pessoas que, em vez de servir e pensar nos outros, servem-se da Igreja, 'escalam' [na carreira] e são presos ao dinheiro".
"Quantos sacerdotes já vimos assim, né? É disse triste dizer", criticou, aumento o tom.
"Quando a Igreja se fecha em si mesma, age como empresária, não está ao serviço dos outros", argumentou o Papa, pedindo a Deus para dar forças para as pessoas "andarem sempre adiante, renunciamento às próprias comodidades e se salvando das tentações".
Além da corrupção, o Papa disse na entrevista ao jornal holandês que vive na residência de Santa Marta para se sentir "livre".
Por protocolo, o líder da Igreja Católica deveria morar no Palácio Apostólico, dentro do Vaticano. "Não posso viver aqui no Palácio Apostólico simplesmente por motivos mentais, me faz mal. No início, parecia uma coisa estranha, mas pedi para ficar em Santa Marta. Isso me faz bem porque me sinto livro. Almoço na sala de refeições, onde todos comem. Quando estou adiantado, almoço com os funcionários.
Encontro as pessoas, cumprimento e isso faz com que a gaiola de ouro não seja tanto uma gaiola", comentou Francisco.