Escritor italiano questiona Papa pelo “silêncio da Igreja” sobre rapto de judeu em 1858
O escritor italiano Daniele Scalise, autor de um livro sobre a história de Edgardo Mortara, um menino judeu de 6 anos de Bolonha que foi sequestrado em 1858 pela Igreja Católica, questionou o papa Francisco sobre o silêncio do Vaticano em relação ao caso. “Espero que você, papa Francisco, possa finalmente compartilhar tudo com o mundo e conosco, que muitas vezes vivemos confusos e irritados, um pensamento sobre um crime que foi cometido contra uma pessoa indefesa, contra a sua família e contra toda a humanidade”, escreveu Scalise, que publicou o livro “Il caso Mortara” sobre o caso, em uma carta aberta. De acordo com o escritor, o menino “foi arrebatado dos braços de sua mãe e de seu pai – pelos guardas papais” e “sua única culpa foi ser judeu e ter sido submetido, ainda em criança e de forma abusiva, a um rito batismal rápido, e de outra forma incompleta, pelas mãos de uma empregada cristã que acreditava que ele estava morrendo”.
Na carta, Scalise fala do “silêncio da Igreja Católica”, “depois de 165 anos”, sobre o caso, que também foi contado pelo diretor Marco Bellocchio, no filme “Rapito”, cuja estreia ocorreu em maio passado. Mortara foi retirado da convivência da família em Bolonha para levado para o mundo católico sob a custódia do Papa Pio IX. Segundo as declarações de uma empregada doméstica, o menino havia sido batizado secretamente aos seis meses. A lei papal é inquestionável e prevê que a criança deveria receber uma educação católica. Os pais, abalados e incrédulos, fizeram de tudo para ter seu filho de volta, mas o Pontífice não aceitou devolver o menino, que cresceu na fé católica. Crentes e incrédulos. Judeus e cristãos. Vivos e mortos”, concluiu Scalise.