Discussão

Francisco jamais mudará conteúdo doutrinário da Igreja Católica sobre a questão dos homossexuais

Paramentos Litúrgicos

Como já está virando rotina desde que Jorge Bergoglio se tornou o papa Francisco, o pontífice tem conseguido mandar mensagens poderosas seja pelo que fala, seja pelo que cala. A declaração sobre sua recusa em "julgar" quem é gay, mas busca a Deus de modo sincero, provavelmente precisa ser lida dentro dessa moldura.

Primeiro, é verdade que, a rigor, não há nada de inovador em Francisco afirmar que é preciso acolher as pessoas com "tendências" homossexuais e, inclusive, citar o Catecismo da Igreja Católica, o guia doutrinal máximo do catolicismo, a esse respeito. É o que os últimos papas ou seus "czares" doutrinais, os chefes da Congregação para a Doutrina da Fé, têm dito reiteradas vezes.

A questão é que a Igreja traça uma distinção entre "tendência" e atos, em especial atos rotineiros e que não envolvam arrependimento e desejo de "conversão", ou seja, de deixar de agir daquela maneira.

A visão católica tradicional é que a prática homossexual é um pecado como qualquer outro – como o adultério cometido por heterossexuais casados, digamos. Ninguém pode, por um ato de vontade, simplesmente evitar o desejo por outra mulher mesmo sendo casado, mas o que pode e deve fazer, diz a Igreja, é evitar que esse desejo saia do controle e vire uma traição.

A proibição cristã da prática homossexual está diretamente ligada às origens judaicas da Igreja. Em passagens do livro do Levítico (nos capítulos 18 e 20), a Bíblia hebraica condena os "homens que se deitam com outros homens como se fossem mulheres", dizendo que se trata de uma "abominação" e condenando ambos à morte.

Não há registros historicamente confiáveis de alguém que tenha sido sentenciado a essa pena na época em que os israelitas eram uma nação independente, no entanto. Embora interpretações posteriores do livro do Gênesis associem a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra pela ira divina a uma tentativa de estupro homossexual por parte dos moradores contra anjos enviados por Deus, o sentido mais natural da passagem parece ser o de que eles foram condenados por violar o costume de respeitar os hóspedes, importante "lei não escrita" do Oriente Médio antigo.

No Novo Testamento, os Evangelhos não registram nenhuma fala de Jesus sobre a homossexualidade. Em algumas de suas cartas, no entanto, o apóstolo Paulo parece reafirmar a condenação judaica desse tipo de prática sexual. Alguns especialistas modernos, no entanto, dizem que a terminologia e o contexto dos textos paulinos são ambíguos.

Segundo eles, Paulo não estaria se referindo a relações consensuais entre dois gays adultos de mesma condição social –coisa muito rara, ou mesmo impensável, na cultura da Antiguidade–, mas sim a prática de "pederastia", na qual um homem de condição livre, já adulto, forçava adolescentes pobres ou escravos a serem seus amantes passivos.

De acordo com essa interpretação, Paulo estaria condenando a violência inerente a esse tipo de relação sexual. A ideia de "casamento gay" estaria simplesmente fora do horizonte cultural dos primeiros cristãos.

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