Igreja dos Aflitos vai ser restaurada na Liberdade, no centro de SP
Quem sai da feirinha da Liberdade e desce a rua dos Estudantes em busca dos tantos utensílios japoneses à venda quase não percebe a pequena capela com mais de 200 anos escondida no final de um beco entre os prédios, no centro de São Paulo.
Em 1779, a igreja de Nossa Senhora dos Aflitos foi erguida ali, ao lado do primeiro cemitério público da cidade, onde eram sepultados escravos, indigentes e condenados à morte. Até então, os enterros eram feitos nas igrejas.
Agora, o local vai ser restaurado. A Arquidiocese de São Paulo confirmou que já avalia os projetos de reforma.
Além do ataque de cupins aos batentes, portas e forro rústicos, o local sofreu um incêndio há cerca de 15 anos e perdeu parte das talhas barrocas de seus oratórios.
A igreja é muito popular devido a Chaguinhas, soldado negro enterrado lá. Ele foi condenado à morte em 1821, no largo dos Enforcados (hoje, da Liberdade), por protagonizar uma revolta contra falta de pagamento do soldo.
Conta-se que houve três tentativas de enforcamento, mas a corda arrebentava. Por fim, o carrasco tomou emprestado de um vaqueiro o laço de couro que consumou a pena do soldado. A história correu São Paulo e atraiu a devoção de fieis.
Dentro da capela, mulheres batem três vezes na porta de madeira que dá para a sala onde ficava a cela dos que aguardavam execução. "Por que a senhora bate na porta?" "Para o Chaguinhas ouvir meu pedido". "E ele atende?" "Ô!" Diz convicta Rosa Ferraz, 70, que há 45 anos vai semanalmente à igrejinha.