“Não existe comunicação direta com Deus para absolvição dos pecados” explica padre Hernán Jiménez
O Papa Francisco enfatizou que “a nova evangelização parte também do confessionário”, porque só quem se deixa renovar profundamente pela graça divina pode trazer em si a novidade do Evangelho e anunciá-la.
A agência ZENIT entrevistou o padre Hernán Jiménez, confessor da basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Jiménez lembra que os turistas e fiéis podem se confessar em muitas línguas modernas e mesmo antigas, como o latim.
Parece que na quaresma há mais afluência de pessoas ao sacramento da reconciliação…
– Pe. Jiménez: Sim, porque na páscoa os cristãos querem se reconciliar com Nosso Senhor. A Igreja nos recorda o caminho até o Pai que espera pelo filho, o filho que reconhece que errou e que volta para pedir perdão. Este é o tempo mais favorável para a nossa conversão.
Por que a quaresma é um tempo privilegiado para este sacramento?
– Pe. Jiménez: Porque através da oração, da penitência mais moral do que corporal, através das obras de caridade, nós participamos mais intimamente da paixão e da ressurreição de Cristo. É uma preparação para a páscoa, que nos conscientiza da necessidade de nos saber amados por Deus, nosso Pai. Todo cristão que crê tem que viver e sentir a necessidade da conversão.
Deus perdoa sempre? Perdoa tudo?
– Pe. Jiménez: Deus é um pai bondoso, compassivo e misericordioso. Ele perdoa sempre todas as nossas faltas e pecados. Deus perdoa tudo, se o homem humildemente se reconhece pecador, como diz Mateus 18, 21 e seguintes.
A cada quanto tempo um católico tem que se confessar?
– Pe. Jiménez: No geral, com muita frequência! Mas pelo menos uma vez por ano, se possível na páscoa. Depende do grau de consciência na relação com Deus: quanto mais consciência você tem da presença dele, mais forte é a necessidade da pureza. Quanto mais você vive perto de Jesus, com espírito de fé, muito mais você procura viver com grande retidão.
Qual é a melhor maneira de se preparar para a confissão?
– Pe. Jiménez: Fazendo o exame de consciência sobre os mandamentos, os preceitos da Igreja, o preceito da caridade fraterna. E também sobre os nossos deveres de cristãos praticantes.
Os confessores não mandam mais só rezar como penitência, mas também fazer atos de ressarcimento. Isto é oficial, substitui as orações?
– Pe. Jiménez: As obras de caridade substituem muito bem a oração, porque o ressarcimento ou restituição é uma obrigação de justiça.
Existe a confissão "direta com Deus", como algumas pessoas argumentam? Qual é a diferença entre essa prática e o sacramento da reconciliação?
– Pe. Jiménez: Com Deus existe uma comunicação direta na oração e na meditação interior, mas nunca na remissão dos pecados.
Segundo o mandamento de Jesus, só os apóstolos e os seus sucessores, os sacerdotes, podem perdoar os pecados em nome dele.
Qual é a base bíblica do perdão exercido pelo sacerdote? Ele age em nome de Deus ou do seu próprio poder como consagrado?
– Pe. Jiménez: A base está nos evangelhos, em João 20, 22-23. O sacerdote age em nome de Deus e pelo mandamento da Igreja, que ele recebe na ordenação sacerdotal. O sacerdote perdoa todo pecado com a fórmula “… em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Os apóstolos se confessavam?
– Pe. Jiménez: Não temos nenhum documento, nem menção nos evangelhos, mas deduzimos que sim, por casa da fraqueza da nossa natureza. Eles eram como os outros, pobres homens e pecadores.
Quando começou a confissão na Igreja, tal como a conhecemos hoje?
– Pe. Jiménez: Desde os primeiros tempos da Igreja, quando a confissão era pública. No século IV ela passou a ser privada, auricular.
Desde que idade e até quando um católico tem que se confessar?
– Pe. Jiménez: Em qualquer idade. Mas a Igreja aconselha começar com a primeira comunhão. E enquanto mantivermos o uso da razão, sendo conscientes da nossa vida moral e de católicos.
O papa Bento XVI disse que os doentes devem ser levados à confissão sempre. Podemos pecar quando sofremos, prostrados numa cama?
– Pe. Jiménez: É para a serenidade e para a tranquilidade da consciência, e para dar sustento, força e consolação no meio do sofrimento físico.
Quem não está casado pela Igreja pode se confessar?
– Pe. Jiménez: Não pode, porque vive em estado de pecado.
De que modo o sacramento da reconciliação poderia ser um elemento importante para a nova evangelização desejada pelo papa?
– Pe. Jiménez: A reconciliação é indispensável para todo cristão, especialmente neste período histórico em que o povo se afasta dos sacramentos. Através da consciência, reconhecendo com grande humildade a miséria da natureza humana diante de Deus e dos outros, nos tornamos mais humanos e sensíveis ao outro e de modo especial a Deus.
É tradição que os confessionários da basílica papal de Santa Maria Maior fiquem a cargo dos dominicanos, certo?
– Pe. Jiménez: É uma antiga tradição, desde a fundação da Penitenciaria Apostólica, pelo papa Pio V, que a confiou aos padres dominicanos em 1568.
As pessoas podem se confessar em várias línguas com vocês…
– Pe. Jiménez: Em latim e em todas as línguas modernas. Tentamos cobrir a maior parte dos idiomas com muita diligência e preocupação apostólica.
Quantas horas por dia você fica no confessionário? Todos os dias da semana?
– Pe. Jiménez: Pelo menos 23 horas por semana. Depende do dia, com um dia e meio de descanso semanal.
Dizem que os confessores têm uma terapia para não ficar sobrecarregados com tantos pecados que escutam… Você precisa desse tipo de ajuda?
– Pe. Jiménez: Não, não. Todos nós, com grande espírito de fé e de generosidade fraterna, realizamos esta missão apostólica. Não existe nenhuma terapia, a única é a reconciliação com Deus através da sua misericórdia e perdão.
Quem se confessa mais, os homens ou as mulheres? Os mais velhos ou os mais jovens?
– Pe. Jiménez: Não existe nenhuma distinção. Muitos são jovens, mulheres, anciãos…
No geral, pode nos dizer quais são as angústias que levam as pessoas a se confessar?
– Pe. Jiménez: A angústia é pelos pecados cometidos, e elas saem com muita paz interior e alegria espiritual. E também temos os problemas da nossa sociedade atual, como a solidão, a falta de trabalho, a falta de recursos econômicos, entre outros.
Dizem que os papas se confessam com frequência, que o beato João Paulo II se confessava semanalmente. Bento XVI segue esta prática?
– Pe. Jiménez: Claro, como todo cristão e bom pastor da Igreja. Ninguém é impecável e perfeito neste mundo. O papa também se confessa regularmente.
O que você diria aos nossos leitores que não se confessaram ainda nesta quaresma?
– Pe. Jiménez: Eu aconselho a se confrontarem humildemente com a palavra de Deus e a seguirem toda a inspiração divina para uma autêntica vida de conversão. Aproveitando toda a ajuda que Nosso Senhor nos oferece, na sua paciente misericórdia. Não se privem de uma ajuda para a sua vida espiritual e moral.