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Papa Francisco vai à Armênia com desejos de paz e de reconciliação

Paramentos Litúrgicos

O papa Francisco fará entre amanhã (23) e domingo (26) uma viagem pela Armênia, a 14ª ao exterior desde o início de seu Pontificado, para levar uma mensagem de paz e de reconciliação com o Patriarca de todos os armênios, Karekin II.   

Jorge Mario Bergoglio e Karekin celebrarão juntos uma missa com vista para o bíblico Monte Ararate, lugar símbolo do cristianismo do país, e visitarão juntos o Monastério de Khor Virap, a fortaleza-presídio onde São Gregório ("O Iluminador") passou 13 anos detido.   

Além disso, os dois líderes religiosos soltarão duas pombas brancas como forma de simbolizar o desejo compartilhado de paz e reconciliação com a Armênia e a sempre conflituosa região do Cáucaso.   

O país foi a "primeira nação cristã" da Europa, onde a religião foi declarada existente pelo Estado em 301 d.C., durante o reinado de Tirídates III. O soberano, antes de converter-se, foi o responsável pelo encarceramento de São Gregório, padroeiro nacional.   

A libertação das duas pombas será um dos momentos mais importantes da visita do líder católico porque expressará "o desejo de paz para um país que talvez tenha essa necessidade", disse em uma coletiva de imprensa o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.   

O gesto simbólico, ainda, será realizado a um distância muito curta da fronteira com a Turquia, local que o Papa queria ter atravessado, mas que permanece formalmente fechado como consequência direta da guerra de Nagorno Karabaj, o problema armênio no Azerbaijão. Enquanto o governo de Erevan defende a autoproclamada independência, Baku nega o pedido para manter a integridade territorial azeri.   

Essa é só mais uma das muitas tensões na ex-região soviética do Cáucaso, em uma viagem que Francisco foi incapaz de completar em apenas uma ida e que obrigou a Igreja Católica a dividir a viagem em duas partes: agora na Armênia e no fim de setembro na Geórgia e no Azerbaijão. Oficialmente, sem titubear, a divisão nas viagens foi explicada por razões religiosas e não políticas.   

"Aquilo que sei é que, neste momento, não está na Georgia o patriarca ortodoxo, que foi para Creta [Grécia] para o Grande Conselho", despistou Lombardi aos jornalistas.   

O encontro ainda tem um significado ecumênico e transmite o fortalecimento das relações já particularmente amáveis com a Igreja Apostólica Armênia – fundada pela evangelização dos apóstolos Judas Tadeu e Bartolomé, similares praticamente em tudo na questão de dogmas e ritos com a Igreja Católica Apóstolica Romana, mas dividida pelo não reconhecimento do "Primado de Pedro". Apesar das boas relações, não está prevista uma declaração conjunta que revise este ponto.   

Em troca, como símbolo dessa relação amistosa, Bergoglio será hóspede em tempo integral dos "católicos armênios" no quartel general de Echmiatsin, próximo à capital Erevan, em um gesto de apoio à minoria da Igreja Católica na Armênia.   

Como pano de fundo dessa viagem, existe também a expectativa de uma mensagem do Papa sobre o "Metz Yeghen" ("grande mal"): o massacre de 1,5 milhão de armênios cometidos há cerca de um século pelo então Império Otomano.   

As palavras do Sumo Sacerdote durante a celebração na Praça São Pedro pelo centenário do episódio, em 12 de abril do ano passado, as palavras do Papa foram contundentes. A morte de armênios "foi o primeiro genocídio do século 20".   

A definição do genocídio armênio está na declaração comum assinada por João Paulo II e Karekin II, no dia 27 de setembro de 2001, durante sua histórica visita a Echmiatsin. Firmar esse documento causou uma grave crise diplomática entre o Vaticano e Turquia – que se opõe histórica e sistematicamente em todos os níveis sobre o uso do termo "genocídio".   

Sobre este ponto, pressionado por jornalistas, o padre Lombardi também expressou sua opinião. "Um armênio amigo meu, disse-me que o termo 'Metz Yeghen" é ainda mais forte e eu prefiro usar essa palavra para não usar a outra, que é uma plataforma política e sociológica", afirmou o porta-voz.   

"Prefiro usar 'Metz Yeghen', a palavra que usam meus irmãos armênios, que sabem muito bem ao que se referem. Sabemos o que passou, ninguém nega isso. Sabemos bem que foi um massacre injusto de pessoas assassinados por sua fé", acrescentou. O papa Francisco falou sobre ter sido o "primeiro genocídio dos 1900 e eu sei que isso foi uma tragédia enorme, sei do que ele falou", reforçou.   

De profundo significado será, sem dúvida, a atividade do sábado (25) à tardem quando o sucessor de Bento XVI visitará o Memorial do Genocídio, no complexo de Tsitsernakaberd, onde depositará uma coroa de flores ao lado do presidente armênio, Serzh Sargsyan, e rezará perante à chama perene. O Santo Padre ainda plantará uma árvore no jardim do complexo.   

Após o ato, o argentino ainda se reunirá com dezenas de descendentes dos sobreviventes do massacre, que foram salvos pelo papa Bento XV e que ficaram alojados em Castel Gandolfo, a província de Roma onde os líderes católicos, geralmente, passam férias.   

Para o padre Antranig Ayvazian, da Igreja Católica Armênia na Síria e professor da Universidade de Erevan, "a Santa Sé precisa ter um pouco de neutralidade em questões que tenham importância política e são uma fonte de conflitos".   

"Deve ser natural perante todas as populações, também aquelas que estão em conflito entre si. Eu digo isso como um armênio. A missão é unir as pessoas e eliminar os conflitos. Não menos importante é o uso de uma ou outra palavra", acrescentou Ayvazian.

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