Papa Francisco vincula pacificação de comunidades à justiça social
No longo dia de ontem do Papa, o principal pronunciamento ficou para a Favela da Varginha, cenário que o Santo Padre utilizou para reiterar que o combate à miséria não consiste apenas em melhorar índices sociais. O pontífice referiu-se especificamente também à pacificação de comunidades no Rio de Janeiro.
Varginha é uma das comunidades pacificadas no ano passado no Complexo de Manguinhos, na Zona Norte da cidade. No encontro com moradores, o Papa Francisco disse que o esforço de pacificação precisa ser acompanhado de justiça social. Esta foi uma das visitas mais emocionantes do pontífice, que, depois de Varginha, teve um encontro exclusivo com jovens argentinos, na Catedral do Rio de Janeiro.
A simplicidade do Papa conquistou e emocionou moradores de Varginha, uma das comunidades pacificadas no ano passado no Complexo de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Mais uma vez, o pontífice dedicou especial carinho às crianças.
O Papa entrou na casa de dona Maria Lúcia. Foi uma visita rápida, de apenas oito minutos. Ela ficou surpresa por ter sido escolhida. “Foi de uma maneira tão natural. Nada de palavras difíceis. Isso que foi o bacana. E ele ‘muito bem, minha filha; você já é abençoada”, diz o Papa.
No palanque armado no único terreno usado como área de lazer pela comunidade, o Papa Francisco ouviu os moradores representados por Rangler dos Santos Irineu. O jovem, ao lado da esposa Joana Carvalho, falou das dificuldades enfrentadas pelos moradores e do descaso das autoridades. Ele também disse que depois do anúncio da visita do Papa os governantes passaram a olhar para a comunidade.
“Tal descaso, nosso pai amado, ficou para trás a partir do momento do anúncio da sua visita na nossa comunidade. Deparamo-nos todos os dias com pessoas que iam e vinham, asfaltando, iluminando ruas e limpando as calçadas regularmente e as caçambas de lixo sendo melhor distribuídas. Tudo aquilo que não fazia parte do cotidiano dos moradores passou a acontecer”, diz Irineu.
Ao falar, Francisco mostrou bom humor e usou uma expressão brasileira para falar da generosidade. “Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida. Como diz o ditado, sempre se pode colocar mais água no feijão”, diz o Papa.
O Santo Padre mandou um recado às autoridades. “Nenhum esforço de pacificação será duradouro. Não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”, diz.
Ele pediu que os jovens não se desiludam com as notícias de corrupção. “Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam da corrupção. Nunca desanimem. Não percam a confiança. Não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar”, diz o pontífice.
Mais cedo, num ambiente muito diferente, o Palácio da Cidade, o Papa esteve com autoridades cariocas e recebeu a chave da cidade. Francisco abençoou a bandeira olímpica e vários atletas. Um deles foi Oscar Schmidt, campeão mundial de basquete que luta contra um câncer no cérebro.
Enquanto isso, no centro do Rio de Janeiro, as filas davam voltas nos quarteirões próximos à Catedral. Eram cerca de 30 mil pessoas, a maioria argentinos. O encontro do Papa com os peregrinos argentinos não estava previsto no programa inicial. O improviso do antigo cardeal de Buenos Aires deixou os compatriotas de Jorge Mario Bergoglio entusiasmados. Quando chegou, ele recebeu a calorosa acolhida dos compatriotas. Falando de improviso, o Papa agradeceu e se desculpou. A pregação do chefe da Igreja Católica tocou fundo àqueles que conseguiram entrar. Para eles, o encontro marcará para sempre suas vidas.