Discussão

Sábado judaico ou Domingo cristão?

Paramentos Litúrgicos

1 – Ensina a Igreja Católica, contra todos os protestantes partidários do 7º dia, que o dia da semana a ser santificado com repouso religioso é, na Lei evangélica, o domingo.

O dia de repouso na Lei mosaica

2 – O repouso semanal, muitas vezes repetido na Lei de Moisés, é um preceito divino. Nisso também se distingue das leis e costumes de outros povos antigos de governos tirânicos que impunham o trabalho aos escravos sem interrupção. A motivação da escolha do 7º dia se encontra na Bíblia desde as suas primeiras páginas. (Gên. 1,1; 2, 1 a 3) A narração bíblica apresenta Deus criando o mundo em seis dias e descansando-Se no sétimo. Era a motivação mais adequada para aqueles judeus que viviam antes da grandiosa obra divina da Redenção.

3 – Mas Deus que “trabalha sempre” (Jo. 5,17), e não se cansa, não precisa de descanso. Nós sim, é que, além do descanso físico, precisa­mos cultivar os valores do espírito e prestar o devido culto a Deus. Por isso, o dia de repouso era sobretudo dia de oração. Nele os hebreus santificavam o seu repouso e praticavam os atos próprios da religião e se exercitavam na expectativa da vinda do Messias prometido, pois, como afirma São Paulo, a Lei mosaica se orientava em tudo para Cristo (a “descendência” em vista da “promessa”). (Gál. 3,19)

O dia de repouso na Lei evangélica

4 – Mas, eis que chega a “plenitude dos tempos” (Gál. 4,4) trazendo-nos o Salvador prometido. A sua vinda significou e realizou a plenitude da Lei. Então a realidade sucedeu às figuras, a plena luz, a sua penumbra. Jesus Cristo traz-nos a Lei evangélica que completa e aperfeiçoa a mosaica. (Ver 1ª objeção)

É claro que a motivação do repouso semanal teria que ser, na lei perfeita do Evangelho, muito superior. De fato, não é já o término da criação do mundo e do homem, mas o coroamento grandioso da sublime obra da Redenção do homem, o rei da criação. Obra mais admirável que a sua própria formação do limo da terra. E a Ressurreição de Jesus Cristo foi o magnífico coroamento dessa obra de restauração sobrenatural do homem. Por isso, o dia da Ressurreição de Cristo passou a ser, para os cristãos, o “dia do Senhor”, pois foi o dia de seu triunfo sobre o demônio, o pecado e a morte. E esse dia foi um domingo. Eis a superior motivação do repouso santificado, semanal e cristão.

O Domingo e o Sacrifício Eucarístico

5 – Eis como o Apóstolo das gentes nos convida a celebrar os mistérios da nova Páscoa da Ressurreição do Senhor: “Celebremos a festa, não com o fermento velho da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade”. (1 Cor. 5, 8 ) De fato, a Bíblia, no Novo Testamento menciona freqüentes reuniões dos cristãos com a expressa finalidade de celebrar os Mistérios Eucarísticos. E quando mencionam o dia da semana, nunca se referem ao sábado, mas sempre ao domingo, o 1º dia da semana, como sendo o dia normal de tais reuniões cultuais. Exemplos disso encontramos em Atos 20, 7; 1 Cor. 16 ,2. E São João já se refere a esse dia com o nome de domingo, que significa “dia do Senhor”. (Apoc.1,10)

6 – Neste sentido é também importante um documento do 1º século do Cristianismo conhecido com o nome de “Didaqué” ou “Doutrina dos doze Apóstolos”; é um autêntico testemunho da fé e das práticas da Igreja primitiva. Entre outras coisas registra a seguinte norma: “Aos domingos, quando vos reunirdes, realizai a fração do pão e dai graças, depois de haverdes confessado os vossos pecados, para que o vosso sacrifício seja puro”. (Didaqué, cap. 1 4)

7 – É uma clara confirmação de que, já na Era Apostólica, os primeiros cristãos santificavam o domingo com a celebração do Sacrifício Eucarístico, a “Fração do Pão”, como então era chamada a oblação do Corpo e do Sangue do Senhor, a Santa Missa. (1 Cor 10,16; Atos 2, 42) Desse modo eles cumpriam a ordem do Senhor, registrada em Luc. 22,18-19; 1 Cor. 11,23 a 28.

Igreja e Sinagoga se destacam

8 – Estes fatos nos mostram, além disso, os primeiros cristãos já totalmente destacados das sinagogas dos judeus e de suas práticas, inclusive a dos sábados. Realmente, os Apóstolos, em várias ocasiões, declararam os cristãos desobrigados dessas práticas, inclusive do sábado. (Atos 15, 10; Gál. 4, 9 a 11; Col. 2, 16)

Na Judéia essa separação dos cristãos já começou um pouco antes da Paixão de Cristo com o decreto do Sinédrio que seria expulso das sinagogas quem seguisse a Cristo. (Jo. 9, 22)

9 – É verdade que, bem nos começos, continuavam indo ao Templo de Jerusalém para fazer orações. (Atos 2, 46; 3,1; 22, 17-18; 24, 11-12) E em suas viagens pela Ásia, São Paulo às vezes ia às Sinagogas dos judeus, mas com a intenção de tentar a conversão dos judeus que as freqüentavam. E como o Sábado era o dia de suas reuniões, era nesse dia que a elas comparecia o Apóstolo. (Atos 13,14; 13,42-44; 16, 12-13; 17,1-2 e 17; 18, 4; 19, 8 )

Mas aí o Apóstolo não ia para participar de qualquer ato de culto cristão, como o são os mencionados em 1 Cor 11,22-23, e em Atos 20,7-8.

10 – A sua boa vontade, porém, chocou-se logo contra a oposição dos seus compatriotas, de tal modo que ele teve que desistir dessas visitas para só se reunir com os cristãos. (Atos 13,46 a 48; 19,9; 1 Cor 11,20 a 32) Era exclusivamente com estes que celebrava os Mistérios Eucarísticos da Santa Missa (Atos 20,7-8; 1 Cor. 11, 20 a 32), e isso se dava no 1º dia da semana, que é o domingo.

Em outra ocasião, quando os cristãos da judéia (judaizantes) queriam impor aos cristãos convertidos da gentilidade as práticas judaicas, inclusive o Sábado, São Paulo condenou tal intento nestes termos: “Que ninguém vos importune por causa (de não observância) de alimentos (carne de porco), festas e sábados”. (Col. 2,16-17)

11 – Note-se que não se trata aqui do “Ano Sabático”, que só se realizava de sete em sete anos (Lev. 24, 3-4), mas do sábado semanal.

É falsa, pois, a pretensão dos adventistas do 7ºdia, de que as visitas de S. Paulo às sinagogas dos judeus são prova de que os primeiros cristãos guardavam o sábado.

Foi, pois, na Era Apostólica e sob a direção dos Apóstolos que se efetivou a passagem do dia de repouso semanal para o Domingo, o dia do Senhor, com a celebração dos Mistérios Eucarísticos. E assim eles agiram, ou por ordem de Jesus, ou por inspiração do Espírito Santo.

Respondendo Objeções:

A) Não vale a objeção de que a “lei do Senhor é perfeita” (Sal. 110,7-8), porque a perfeição da lei mosaica é relativa. De fato, Jesus a aperfeiçoou: “Não vim abolir a lei, mas aperfeiçoá-la.” (Mt 5,17 – Tradução do texto original) Confira: Mt 5, 21 a 26; 5, 27-28; 5, 33 a 38; 5, 39 a 42. Foi com esses aperfeiçoamentos da Lei que Jesus afirmou: “não passará um jota da lei sem que tudo se cumpra.” (Mt. 5,17

B) Também não vale a objeção de que a lei do sábado é um “sinal perpétuo” da aliança entre Deus e os israelitas (Êx. 31,16-17), pois também era “lei perpétua” e “sinal perpétuo” a Festa dos Tabernáculos (Lev. 23, 41), a Oferta das primícias (Lev. 23, 14) e a Circuncisão. (Gên. 17,12 a 14) E no entanto foram abolidas pela Lei mais perfeita do Evangelho. Porque eram sinais de aliança de Deus com os israelitas em preparação para a vinda de Cristo.

C) Falando aos judeus da Judéía na perspectiva da grande tribulação que estava para vir, Jesus disse: “Rogai que a vossa fuga não seja em dia de sábado.” (Mt. 24, 20) Isso porque os judeus interpretavam o repouso sabático como incluindo a proibição de caminhar nesse dia mais de mil metros. Assim, por essas palavras, Jesus não está se referindo à permanência do repouso sabático para a fase do Evangelho. Ele apenas quis dizer-lhes: “Já que interpretais assim a lei do repouso do sábado, rogai para que a vossa fuga não seja em dia de sábado”, e nada mais.

D) Muito menos tem o sentido de continuidade do sábado o fato de Jesus ter passado um sábado no repouso do sepulcro. Se assim fosse, dever-se-ia pensar que Ele estava aprovando também para repouso, a meta­de do 1º dia da semana, o domingo, pois o dia, para os hebreus, ia do pôr-do-sol de um dia ao pôr-do-sol do outro dia.

Conclusão: O dia da semana a ser guardado com religioso repouso pelo cristão é o Domingo, e não o sábado.

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