TESTEMUNHO: O dia em que perdi meu pai para a ideologia de gênero
Qual foi a sua maior preocupação quando você tinha nove anos de idade? Tentar memorizar a tabuada de multiplicação? Ter que comer alguns vegetais de que não gostava no almoço da escola? Talvez você tenha passado por algo mais sério. Talvez os seus pais tenham falado em se divorciarem. Quanto a mim, a minha maior preocupação nessa idade foi como guardar o segredo de meu pai, que ele me tinha revelado enquanto nos sentávamos sozinhos em uma colina, perto de nossa casa. De certo modo, eu perdi o meu pai naquele dia, quando ele me disse que queria se tornar uma mulher.
Enquanto eu tentava processar aquela revelação, ele me atingiu com outra. Disse-me que nunca quis ter tido filhos. Para ele, meus irmãos e eu tínhamos sido um erro, porque não viemos de acordo com os seus desejos.
As confissões dele deixaram-me confusa e ferida. No final das contas, eu só queria um pai que me amasse e cuidasse de mim, que fizesse com que eu me sentisse especial enquanto filha. Senti-me rejeitada e abandonada pelo meu próprio pai. A partir dos onze anos, ele começou a abusar de mim emocional e sexualmente. Mesmo assim, eu continuava a guardar o seu segredo a sete chaves, bem no fundo do meu coração.
Meu pai criou um ambiente dentro de casa que me fazia sentir como se estivesse pisando em pregos e agulhas. O ressentimento dele pelo fato de eu possuir algo que ele desejava tão profundamente para si – um corpo feminino – transformou-se em raiva e abuso. Como os seus desejos se intensificassem, ele começou a pegar emprestadas as minhas roupas. Várias vezes flagrei minhas roupas íntimas debaixo das toalhas do banheiro, ou no sótão – geralmente em lugares em que eu não estava. Aprendi a organizar as minhas roupas, de modo a descobrir se ele tinha mexido nas gavetas da minha cômoda. Quando eu confirmava que ele tinha usado determinada roupa, eu simplesmente não conseguia sequer trajar aquela peça novamente.
Como adolescente, eu precisava tomar cuidado com o modo como me vestia. Sempre tinha de perguntar a mim mesma como ele reagiria ao meu vestuário. Será que a roupa o faria sentir inveja, a ponto de ele “pegá-la emprestada” de mim (sem me pedir, é claro)? Comecei a odiar o meu corpo, pois era um lembrete constante daquilo em que o meu pai queria se tornar. Quando comecei a usar maquiagem, precisava bloquear as imagens que eu tinha dele aplicando maquiagem, sombra ou batom em si mesmo. Ele estava destruindo o meu desejo de tornar-me uma mulher.
Saí à procura de conforto em outros lugares. As aulas de dança e as festas noturnas nas casas de amigos deram-me oportunidades de procurar uma fuga emocional no álcool. Mesmo nos dias de aula, um amigo e eu às vezes nos encontrávamos no banheiro para compartilhar umas garrafas de Jack Daniel’s. Eu tentava desesperadamente me encaixar em algum lugar, mas a verdade é que eu estava fazendo mal a mim mesma.
Eu estava tão sedenta do amor e da atenção do meu pai, que tentava preencher aquele vazio de outras maneiras. Tive treze namorados só na sétima série. Também tentei, inutilmente, acalmar o meu coração ferido com o álcool. Com quinze anos, estava lutando com minha própria sexualidade. Comecei a considerar seriamente o uso de drogas, mas Deus tinha outro plano, mandando para a minha vida um novo amigo, chamado Mark. Ele sempre me tratou com respeito e um coração genuinamente cuidadoso – justo o que eu tão desesperadamente queria, mas não recebia de meu pai.
Ansiosa para fugir do ambiente de minha casa na minha juventude, gastei mais e mais tempo com Mark, geralmente na sua casa, onde eu via como um pai de verdade cuidava de seus filhos. O pai de Mark me lembrava o meu tio. Os seus lares – o de Mark e o do meu tio – eram lugares onde as crianças se sentiam confortáveis e amadas de uma forma saudável. Quanto mais eu experimentava bons ambientes como a casa de Mark, mais certa eu ficava de que meus desejos por algo semelhante eram verdadeiros e possíveis. Minha casa não estava certa. Aquilo me chateava, mas eu tinha esperança de que uma boa vida familiar era algo possível de se alcançar.
Com a graduação do colégio se aproximando, eu precisava começar a planejar o meu futuro. Considerei ingressar nos militares: eu poderia viajar e fugir da vida da minha casa. Mas, ao invés disso, eu me apaixonei por Mark, e ele me pediu em casamento. Eu faria parte de uma família real, e nós dois começaríamos a nossa própria família de verdade – uma na qual os nossos filhos se sentiriam confortáveis sendo simplesmente crianças.
No dia do meu casamento, usando o vestido que minha mãe costurou para mim, e com os convidados sentados no santuário da igreja, meu pai e eu estávamos sozinhos no final do corredor, esperando para entrar. Ele olhou-me nos olhos e disse: “Eu queria que fosse eu a usar esse vestido”.
Fixei meus olhos em Mark enquanto entrava pelo corredor, sabendo que estava prestes a fugir das terríveis influências de meu pai. Através de Mark, eu testemunhei o amor de Cristo, não apenas por mim, mas também pelo meu pai. Mark nunca foi ofensivo com ele, de maneira alguma. Ao contrário, ele entendia que meu pai precisava do amor saudável e da companhia de homens firmes e responsáveis – homens que sabiam e viviam o que um esposo e pai de família deveria ser. Infelizmente, meu pai rejeitou esses relacionamentos sadios. Mas a relação com meu amável e responsável esposo trouxe-me a cura.
Mesmo morando em nossa própria casa, Mark e eu frequentemente retornávamos para confortar minha mãe em seu estresse, por causa dos problemas que o meu pai criava com seus comportamentos estranhos e suas farras e gastanças periódicas. As enxaquecas e o cansaço permanente de mamãe a debilitavam muito, e ela decidiu aposentar-se, deixando papai como o único provedor da família. Suspeito que tamanha responsabilidade acabou o empurrando para a beira do abismo. Não muito depois da aposentadoria de mamãe, ele abertamente declarou sua intenção de abandoná-la e perseguir seu novo estilo de vida. Foi o que ele fez, deixando-a sem dinheiro e carregada de dívidas.
Treze anos depois, fui informada de que meu pai estava com câncer e vivendo os seus últimos dias. Quando descobri que ele estava tentando encontrar sua família, fiquei magoada com ele. Quem ele pensava ser, abandonando-nos e, então, à beira da morte, procurando o nosso amor e o nosso conforto? Mesmo assim, abateu-me a tristeza por saber que o meu sonho de ver o meu pai um dia voltando para a nossa família – como um verdadeiro esposo, pai e avô – estava prestes a morrer.
Visitei o meu pai algumas vezes no hospital durante os seus últimos meses. Vê-lo em um vestido feminino noturno e de slippers foi difícil, bem como ver todos aqueles ursinhos de pelúcia em seu quarto. As enfermeiras se referiam a ele com pronomes femininos, ou pelo nome que ele tinha escolhido: “Becky”. Quando elas faziam isso, eu as corrigia. Dizia “ele” ou “meu pai”. Eu olhava para ele com pesar, vendo a quê as suas escolhas o tinham levado. Assim que saí depois de uma visita, cometi o erro de olhar para trás. O meu pai estava tirando o seu sutiã.
Não fiquei surpresa em descobrir, depois da morte de papai, que ele estava em um relacionamento homossexual. Lembrei-me, então, da forma como ele olhava para os meus namorados. Fiz o que pude para ignorar isso. Era difícil lidar com a ideia de que ele acreditava ser uma mulher.
Todos aqueles anos eu ansiava por um pai de verdade, não por uma segunda mãe. Mas eu tinha uma mãe de verdade, e ela me ensinou o que é o amor materno. Ensinou-me a não desistir da vida. Dela, aprendi a importância de perseverar sob as mais difíceis situações que a vida pudesse apresentar. Sua fé inabalável em Deus fez com que ela superasse tudo. Eu trouxe esses ensinamentos para a vida de meus filhos. Fui agraciada em observar os relacionamentos entre pais e filhos do lado materno da minha família.
A cultura de hoje proclama que uma pessoa que escolhe “mudar de gênero” está sendo honesta e corajosa – veraz à sua natureza. Verdade? A verdade é o que se conforma com a realidade, e a realidade é que o meu pai foi abusado enquanto criança. Ele tinha problemas emocionais e de raiva e comportamentos obsessivos. Não surpreende que ele tenha escolhido fugir para uma identidade diferente. A verdade é que comportamentos aberrantes machucam famílias, e essas feridas têm efeitos em cadeia. A “realidade” é que os programas de TV que retratam o transgenderismo como “a mais nova conquista da liberdade humana e da autossatisfação” não estão contando a história toda – eu o digo por experiência.
Sei que há pessoas que, como eu, tiveram infâncias igualmente trágicas. Estamos juntos em acreditar que a fundação mais saudável para qualquer criança é ter um pai e uma mãe. Por favor, não desperdicem a oportunidade de aprender com o impacto que todas essas coisas têm na vida real das crianças. Podemos ser os primeiros, mas não seremos os últimos a levantar e falar a verdade.
(Denise Shick – Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere)