Mundo precisa de “mais vacinas e menos fuzis”, diz Papa Francisco
O papa Francisco participou do encontro inter-religioso pela paz da Comunidade Sant’Egidio, no Coliseu, em Roma, e fez um duro discurso contra os altos investimentos em armas e guerras feitos por governos enquanto muitos passam fome e necessidades básicas.
O líder da Igreja Católica convidou os diversos representantes que estavam na cerimônia para “ajudar a extirpar dos corações o ódio e condenar todas as formas de violência”.
“Com palavras claras, eu os encorajo a isso: a depor as armas, a reduzir as despesas militares para prover ajuda humanitária aos mais necessitados, a converter os instrumentos de morte em instrumentos de vida. Não são palavras vazias, mas pedidos insistentes que elevamos para o bem dos nossos irmãos e contra as guerras e a morte, em nome Daquele que é paz e vida.
Menos armas e mais comida, menos hipocrisia e mais transparência, mais vacinas distribuídas igualmente e menos fuzis vendidos imprudentemente”, disse aos participantes.
Fazendo um apelo direto aos líderes religiosos, o Papa disse que “em qualquer tradição” é preciso fugir da “tentação fundamentalista e de qualquer insinuação que faz do irmão um inimigo”.
“Enquanto muitos se prendem nos antagonismos, nas fações e nos jogos de cada parte, nós fazemos ressoar aquilo que disse o imã Ali: ‘As pessoas são de dois tipos: ou são teus irmãos na fé ou são teus semelhantes na humanidade'”, acrescentou.
Lembrando da frase que proferiu algumas vezes durante a pandemia de Covid-19, de que as “pessoas não podem ser saudáveis em um mundo doente”, Jorge Mario Bergoglio disse que há algum tempo muitos “são doentes do esquecimento e esquecem de Deus e dos irmãos”.
“Isso tem levado a uma corrida desenfreada para a autossuficiência individual, que deriva de uma avidez insaciável, da qual a terra que pisamos traz as cicatrizes enquanto o ar que respiramos está cheio de substâncias tóxicas. Nós assim jogamos na criação a poluição do nosso coração”, apontou.
Pontífice continuou dizendo que hoje se assiste “a violência e a guerra, um irmão que mata um irmão quase como se fosse um jogo visto de longe, indiferentes e convictos de que isso nunca acontecerá conosco”.
“A dor dos outros não nos para. E nem aquela dos que caem, dos migrantes, das crianças presas nas guerras, privadas da leve de uma infância com brincadeiras. Hoje, na sociedade globalizada que faz da dor um espetáculo, mas não sente pena, nós temos a necessidade de construir a compaixão”, acrescentou ainda.
Para os chefes de governo, o Pontífice lançou um apelo pedindo que a “vida dos povos não se reduza a um jogo entre potências”.
“A vida das pessoas não é uma brincadeira, é uma coisa séria e atinge a todos nós; não pode ser deixada à mercê dos interesses de poucos ou que seja tomada por paixões sectárias e nacionalistas. É a guerra que brinca com a vida humana. Com a vida dos povos e das crianças não se pode brincar, não se pode ser indiferente. É preciso o contrário: ter empatia e reconhecer a humanidade comum que pertencemos, com os seus desafios, as suas lutas e as suas fragilidades. Pensem ‘tudo isso me toca porque poderia ter acontecido comigo”, afirmou aos representantes no Coliseu.
Francisco ainda disse que é preciso “retomar o projeto de desarmamento nuclear” no mundo, que foi reaquecido, porque a proliferação de armas do tipo “são uma incrível ameaça” para todos.