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Cardeal Sarah: trabalho admirável da Cáritas no Japão

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CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 19 de maio de 2011. O cardeal Robert Sarah, presidente do Conselho Pontifício “Cor Unum”, acaba de regressar de uma viagem ao Japão, onde visitou os lugares mais atingidos pelo terremoto de 11 de março e levou às vítimas o consolo e o carinho do Papa. A tragédia no Japão deixou cerca de 15.000 mortos e o acidente nuclear de Fukushima.

 

– Que o senhor viu no Japão?

– Cardeal Sarah: Uma devastação material sem precedentes, unida a um grande espírito de recuperação, de solidariedade, e a busca de uma resposta para esta catástrofe, que os cristãos sabem que se encontra na Cruz de Nosso Senhor Jesus.

 

– Qual foi a razão de sua visita?

Cardeal Sarah: Levar às pessoas mais atingidas, cristãos os não, o calor da oração e do consolo do Papa. Estudar o que mais se pode fazer para aliviar as situações de emergência.

 

– Quais foram os projetos de solidariedade desenvolvidos?

– Cardeal Sarah: O terremoto e o tsumani sucessivo geraram morte, dor e destruição, mas provocaram também outro tsumani de solidariedade entre os fiéis, através das Cáritas diocesanas de todo o mundo. A Cáritas Internacional realizou um trabalho estupendo de coordenação de todos esses recursos. Isso permitiu que a Cártitas do Japão pudesse oferecer nessas semanas alimentos, cobertores, bens de primeira necessidade a mais de 10.000 pessoas.

 

– Que mais o impressionou nesses dias?

– Cardeal Sarah: É difícil dizer. Toda a viagem foi uma experiência impactante. Em Sendai, por exemplo, da janela do carro, víamos uma grande planície (antes uma área de cultivo) com objetos muito variados, deslocados vários quilômetros pela água: motocicletas destroçadas, móveis quebrados, pedaços de colunas de construção, um barco pela metade em um campo de arroz, casas destruídas…

 

– A recuperação será lenta.

– Cardeal Sarah: Sim. Não Será fácil. Na região próxima da central nuclear de Fukushima, cerca de 800 pescadores perderam seu trabalho, pois a água levou seus barcos, e também porque, ainda que recebam ajudas estatais para conseguir outros, a radiação impede que se possa pescar durante todo um ano. Não é fácil para uma região que vive da pesca. O mesmo acontece com os camponeses desta área. Não poderão cultivar a terra pelos próximos 12 meses. Um pescador católico de Saitama nos levou para ver o lugar onde antes estava sua casa e onde costumava atracar seu barco. Agora não há nada.

 

– Como as pessoas reagiram?

– Cardeal Sarah: Com uma dignidade admirável, apesar da dor. Visitamos uma paróquia muito danificada na diocese de Saitama, com o teto e as imagens sagradas destruídas pelo terremoto. Tivemos um encontro muito emocionante com os fiéis, que agora participam da missa ao ar livre, com uma fé extraordinária. Em Sendai, após a celebração da eucaristia, outro emotivo encontro com as pessoas que tinham perdido todos os seus bens pessoais. Nós lhes demos um rosário enviado pelo Papa.

 

– O trabalho da Cáritas tem função em uma sociedade em que os cristãos são menos de 1%?

– Cardeal Sarah: Sem dúvida. Em cada mulher que perdeu seus entes queridos no tsunami, em cada homem que viu cair a sua casa, em cada enfermo, continuaremos vendo Cristo. Cristo nos animava a vê-lo em cada pessoa faminta, em cada pessoa que sofre. Não só em alguns deles, mas em todos, porque todos são filhos de Deus, ainda não saibam.

 

– Sob essa atitude não se esconde um tipo de proselitismo?

– Cardeal Sarah: O Papa explicou em sua encíclica Deus Caritas est que “O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins. Isto, porém, não significa que a ação caritativa deva, por assim dizer, deixar Deus e Cristo de lado. Sempre está em jogo o homem todo. Muitas vezes é precisamente a ausência de Deus a raiz mais profunda do sofrimento” (n. 31). Portanto, o exercício da caridade não tem como finalidade imediata a conversão dos não cristãos, mas os cristãos não devem esconder a fé, os valores profundos que alimentam sua caridade. Cada homem é livre para praticar ou não uma religião determinada e expor as razões disso, também os cristãos.

 

– Em alguns contextos laicistas ou hostis ao cristianismo, não facilitaria o diálogo a separação entre o exercício da caridade e a fé cristã?

– Cardeal Sarah: É algo lógico que se eu consolo um ancião budista em um hospital, ou ofereço tratamento médico para uma mulher muçulmana durante uma guerra, eles vão perguntar por que eu estou ali. Fazer o bem com esperança propaga os valores sobre os quais se fundamenta essa ação generosa. Por sua vez, o voluntário se surpreenderá com a integridade humana e as virtudes dessas pessoas, e isso o ajudará a apreciar as crenças religiosas delas. Ajudar o próximo é um bem profundamente humano, que transcende a diversidade religiosa, e ajuda no diálogo. 

 

– Esse será um dos temas do debate da assembleia da Cáritas Internacional que acontece nos próximos dias em Roma?

– Cardeal Sarah: Parece que sim. A Cáritas Internacional realiza um trabalho admirável de coordenação de ajudas em todo o mundo e é lógico que se questione sobre sua identidade em contextos internacionais culturalmente tão diversos. 

 

– O terremoto do Japão será esquecido como se esqueceu o do Haiti?

– Cardeal Sarah: Estamos fazendo todo o possível para que não seja esquecido. Detrás de cada calamidade, de cada terremoto, há centenas de milhares de dramas pessoais. Eu prometi às comunidades que nós não as abandonaríamos. Agora as levamos no coração.

 

– Qual é o papel dos voluntários neste tipo de catástrofe?

– Cardeal Sarah: É maravilhoso ver o trabalho heróico de muitos voluntários, porque sua dedicação desinteressada ao acompanhar na dor ou atender nas necessidades é uma demonstração da esperança cristã no futuro. Para impulsionar sua formação, Cor Unum organizará em Roma um congresso, dia 11 de novembro, aproveitando que 2011 é o ano europeu do voluntariado. Queremos que o Haiti e o Japão sejam os primeiros lugares a se beneficiar desta iniciativa.

 

– Não é melhor contar com pessoa especializado ou deixar mais espaço para os organismos estatais?

– Cardeal Sarah: Não são aspectos incompatíveis, mas complementares. Sem dúvida, a profisssionalização no exercício da caridade ajuda a enfrentar os problemas materiais com maior eficácia e a organizar de um modo adequado a distribuição das ajudas. Mas não podemos esquecer que esses problemas têm dimensões pessoais e transcendentes que requerem também um remédio espiritual: a proposta regeneradora de alguns valores encarnados em pessoas que doam desinteressadamente seu tempo aos demais.

 

– Por exemplo?

– Cardeal Sarah: A Cáritas do Japão gerencia em Sendai quatro centros de acolhida, graças à generosidade de outras Cáritas do mundo. No centro da paróquia de Ishinomaki, vivem agora 400 pessoas, que toda manhã vão ao que restam de suas casas para consertá-las, se for possível, ou para recuperar pouco a pouco seus pertences. Regressam ao centro para comer, dormir e ter um mínimo de vida familiar. Se não fosse pelos centenas de voluntários jovens que ajudam os profissionais, seria impossível auxiliar material e espiritualmente essas pessoas. São voluntários que vêm de todo Japão, cristãos e não cristãos, muitos deles universitários, que fazem turnos de 10 dias.( Zenit)

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